Capital

Motorista bêbado “matou cinco”, diz mãe de policial vítima do trânsito

Lidiane Kober | 08/11/2013 15:56
O pequeno Kaiky e Aline até hoje choram de saudades do policial militar morto em acidente de trânsito (Foto: Divulgação/Facebook)
O pequeno Kaiky e Aline até hoje choram de saudades do policial militar morto em acidente de trânsito (Foto: Divulgação/Facebook)

Passados 218 dias da morte do policial militar Gilliard Félix da Silva, 31 anos, a família segue inconsolável e a mãe de criação, a doméstica Maria de Fátima da Silva, 42, declarou que o motorista bêbado, Edson Moreira, 42, responsável pelo acidente, “matou cinco pessoas da mesma família”.

“Até hoje, não tivemos coragem de lavar a farda que o Gilliard usou no dia da tragédia, o quarto dele segue trancado, do jeito que ele deixou”, contou a mãe, emocionada. O policial era pai de Eduarda, de um ano e sete meses, e Kaiky, seu afilhado de sete anos, também o considerava com um pai.

“O Kaiky ainda chora e pergunta pelo mano”, contou Fátima. “No dia dos pais, ele chegou da escola e perguntou: como eu faço para achar o Mano e entregar a lembrança do dia dos pais”, relatou a doméstica.

Por conta do sofrimento da criança, até os colegas de Gilliard deixaram de frequentar a casa com farda ou de chegar ao local de viatura. “Toda vez que isso acontecia, o Kaiky chorava e perguntava pelo Mano”, revelou Fátima.

Apesar de bebê, a filha do policial também procura pelo pai. “A mãe dela mora perto do batalhão do Bairro Nova Lima e, do quintal da casa, é possível ver o pelotão. Bastava deixar o portão aberto, para a Eduarda sair correndo e, olhando para os policiais, ela pergunta do papai e fala que ele está trabalhando”, contou Fátima.

Segundo ela, o maior do sonho de Gilliard era ser pai. “Ele era apaixonado por criança, quanto o sobrinho nasceu, ele era o mais animado e quando a filha veio ao mundo, a alegria só aumentou. Pena que teve pouco tempo para curtir isso”, lamentou a mãe.

Irmã do policial, a jornalista Aline Peixoto Lira, 24 anos, disse que o outro sonho de Gilliard era crescer na profissão “não por tempo de serviço, mas por mérito”. “Ele era apaixonado pelo trabalho, tinha muito prazer em ajudar as pessoas”, afirmou. O jovem também almeja comprar um terreno e construir uma casa “do seu jeito”. “Ele morreu e deixou os sonhos pela metade”, comentou a mãe.

No próximo dia primeiro de janeiro, Gilliard completaria 32 anos. “Que final de ano, que Natal vamos ter, não temos nada para comemorar”, desabafou Fátima. “Todo fim de ano, eu e minha filha preparávamos uma surpresa para ele e, agora, o que será de nós sem ele?”, se perguntou.

Ainda de acordo com a família, o policial era uma pessoa “alegre, brincalhão e de bem com a vida”. “Ele não reclamava de nada e, quando tinha problemas, evitava comentar para não preocupar os outros”, lembrou Aline.

Impunidade – Com o coração cheio de saudade, a família tenta se concentrar para buscar justiça. “Não queremos que a morte do Mano vire mais uma estatística e também vamos lutar para proteger outras famílias dessa tristeza”, comentou Aline.

Neste sábado (9), a família prepara um protesto contra a impunidade na Praça do Rádio. Com o slogan “Uma caminhada pela Vida. Não foi acidente”, o grupo fará uma homenagem a todas as vítimas de acidentes de trânsito em Campo Grande. O objetivo é mobilizar amigos e familiares de outras vítimas de acidentes de trânsito causados por motoristas irresponsáveis.

Ao final do protesto, assinaturas serão coletadas para o Projeto de Lei 5568/2013, proposto pelo movimento “Não Foi Acidente”. Para assinar é necessário ter em mãos o número do título de eleitor. “Arrancaram o Gilliard da gente e não temos como esquecer essa dor, mas infelizmente a lei facilita para o criminoso”, desabafou Fátima.

Condutor da Ford Ranger, Edson Moreira dirigia embriagado e invadiu a contramão na BR-163, em março deste ano, e causou a tragédia. O teste do bafômetro, segundo a PM, constatou 1,04 mg/l. No Paraná, ele é alvo de mandado de prisão, mesmo assim, obteve a liberdade na Justiça nove dias após o falecimento do soldado da PM.

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