Política

Em velório lotado, Almi é lembrado pelo jeito agregador de fazer política

Fila foi organizada para a despedida, para minimizar a aglomeração em tempos de covid

Nyelder Rodrigues e Clayton Neves | 25/05/2021 16:03
Bandeira de campanha de Almi foi deixada sobre o caixão, além de chapéu, que costumava usar (Foto: Henrique Kawaminami)
Bandeira de campanha de Almi foi deixada sobre o caixão, além de chapéu, que costumava usar (Foto: Henrique Kawaminami)

Olhar a todos da mesma forma e tratar no mesmo tom. Assim o deputado estadual José Almi, o Cabo Almi (PT), como aparecia nas urnas e como todos o conheciam, construiu sua política e se transformou em uma liderança no cenário sul-mato-grossense, ultrapassando até mesmo as barreiras partidárias. 

Apesar de ser mais uma vítima da covid, das recomendações pelo distanciamento social e das regras de velório apenas com familiares, a cerimônia de despedida ficou lotada na tarde desta terça-feira.

No velório, ficou bem clara a diversidade do público. Empresários, políticos de diferente partidos, militantes e vizinhos compareceram para dar um último adeus.

Entre eles, Almi é lembrado como um resistente. Não é segredo para ninguém que o Brasil viveu na década passada uma onda anti-petista. E não é segredo para ninguém que Almi resistiu, seguiu fiel às convicções que o elegeram em 1996, quando o petismo dava os primeiros passos para o 'boom' da década seguinte e, mesmo assim, conseguia agregar vários lados.

Companheiro da vida e do trabalho, Francisco conviveu muitos anos com Almi e chefia seu gabinete na Alems (Foto: Henrique Kawaminani)

Entre coroas de flores de associações de moradores, empresas e grupos políticos, Almi foi velado por mais de duas horas e enterrado no mesmo local, o Memorial Park, cemitério localizado no bairro Universitário, na rua Francisco dos Anjos.

"O conheço há 10 anos e ele era uma pessoa maravilhosa. Se destacava pela humildade, sempre acessível, tratava a todos igualmente e sempre atendida quando podia", frisa a dona de casa Juliano Galdino, que foi até o velório de Almi, que apesar da ascensão política, seguiu morando no mesmo bairro de sempre, a Cohab.

"A última vez que falei com ele foi justamente no dia 4, quando ele testou positivo. Mas ele falou que estava tranquilo e era para todos ficarem também", revela a dona de casa. Almi, apesar da aparente tranquilidade, tinha diabetes.

Amigos e companheiros lamentaram a morte de Cabo Almi, em decorrência da covid-19; ele ficou 17 dias internado (Foto: Henrique Kawaminami)

Mudança no velório - Devido à covid-19 e a grande demanda de pessoas querendo dar um último adeus à Almi, a urna funerária dele foi transferida do local onde estava, uma das salas de velório, para o saguão do Memorial Park. Foi organizada uma fila de pessoas para a despedida do deputado.

Entre elas está um velho companheiro de Almi, da vida e do trabalho, Francisco Ferreira da Cruz, também policial militar. "O conheci muito tempo, quando vim do Ceará. Trabalhamos juntos na lavoura em Lagoa Bonita e em 1981 chegamos em Campo Grande. É com certeza uma grande perda para uma gama enorme de pessoas".

Francisco, além da amizade que alimentava com o deputado, também era seu braço direito na política, ocupando o cargo de chefe de gabinete. "Ele começou a sentir dores, mas achou que tinha a ver com outro problema de saúde dele, até que esposa e nora também sentiram desconforto e testaram positivo. Ele também fez e descobriu a covid".

A trajetória política de Almi é repleta de histórias, sendo que o hoje colega de Assembleia Legislativa e de partido, Pedro Kemp, acompanhou algumas, já que ambos iniciaram juntos em mandato eletivo, ainda em 1996, quando os dois foram eleitos vereadores pelo PT em Campo Grande.

"O Almi era um cara muito trabalho e dedicado ao mandato dele, sem contar que era um homem agregador. Atendia a todos sem diferença alguma, mesmo. É com certeza uma perda muito grande. Fica aqui para nós o legado que é possível fazer política com ética e responsabilidade, como ele nos provou", conclui Kemp.

Familiares do deputado, perto do corpo, dando o último adeus àquele que tanto agregou por anos (Foto: Henrique Kawaminami)

Quem foi - José Almi Pereira Moura, o Cabo Almi, tinha 58 anos e morreu na noite de ontem (24) por complicações da covid-19. Na luta contra a doença, foram 17 dias de internação no Hospital da Cassems. Após apresentar alguma melhora e até se pensar em sua extubação, o quadro se tornou gravíssimo e ele não resistiu.

Natural do interior Paraná, Almi se mudou para Mato Grosso do Sul em 1963, em companhia da família. Policial militar, começou a trajetória política com a eleição para vereador em 1996, tendo como companheiros de campanha Zeca do PT e Pedro Kemp.

Após três mandatos na Câmara Municipal de Campo Grande, chegou à Assembleia Legislativa em 2011, onde foi reeleito em 2014 e em 2018. Almi foi cogitado para disputar a prefeitura em 2020, mas abriu mão e foi Kemp quem disputou.

Velório ficou lotado, apesar de recomendações de distanciamento social. (Foto: Henrique Kawaminami)


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