Política

Com desafio de se reinventar, PT sofre debandada e ex pode virar adversário

Lidiane Kober | 13/05/2015 16:52
Depois de 33 anos de PT, Professor Bira deixou o partido (Foto: Divulgação)
Depois de 33 anos de PT, Professor Bira deixou o partido (Foto: Divulgação)

Além da crise nacional, o PT sul-mato-grossense sobre debandada de lideranças e o alerta vermelho se instalou de vez no partido. A ordem é se reinventar para mudar a imagem e se livrar da fama de “pai da corrupção”. Até gente de 33 anos de história decretou outro rumo e as próximas eleições municipais poderá ter enfrentamento de petistas com ex-petistas.

Ubirajara Gonçalves de Lima, conhecido como professor Bira, assinou sua desfiliação na sexta-feira (8) e deverá concorrer a prefeito de Coxim pelo PDT. Ele poderá enfrentar um ex-colega de partido, o vereador Vladimir Ferreira (PT).

Em Corumbá, terceiro maior colégio eleitoral do Estado, a situação poderá se repetir. Ex-prefeito da cidade, Ruiter Cunha alega “desgaste” com lideranças locais e está de malas prontas para deixar o PT. “Uma situação se acumulou e está difícil de continuar”, afirmou.

Ele, porém, garantiu que não está saindo para ser candidato e enfrentar o atual prefeito e presidente regional do partido, Paulo Duarte (PT). Ao mesmo tempo, não descarta a possibilidade. “Na política, nunca pode se dizer não, se for viável e tiver estrutura, é possível (ser candidato), mas não estou preocupado com isso agora”, frisou Ruiter.

Em Coxim, o problema também é divergência interna. “Estamos em Coxim há mais de 30 anos e não conseguimos articular o partido para chegar à prefeitura. É muito problema interno, elege vereador, ele foge dos interesses e o partido não evolui o suficiente para disputar a eleição e ganhar”, disse Bira.

Também estão repensando seu futuro no PT os prefeitos de Rio Verde e Antônio João, respectivamente, Mario Kruger e Selso Luiz Lozano Rodrigues. “Em momento de reforma política, todo mundo está repensando seu futuro. Se aprovar, por exemplo, o voto distrital, posso não ser candidato a prefeito e concorrer a deputado estadual”, comentou Kruger.

Ele, porém, garantiu que, em sua cidade, o PT está unificado e em paz, mesmo assim, manteve mistério sobre seu futuro político. “O futuro pertence a Deus”, declarou. O prefeito de Antônio João não foi localizado pelo reportagem.

Ruiter Cunha alega “desgaste” com lideranças locais e está de malas prontas para deixar o PT (Foto: Divulgação)
Paulo Duarte vê "conveniência pessoal" na debandada, mas admite que o "momento é difícil) (Foto: Divulgação)

Crise Nacional - Além da situação local, Bira aponta a crise nacional como outro fator prejudicial ao PT. “No país, tentaram criminalizar todo o PT, classificaram o partido como o pai, a mãe da corrupção. No Brasil, não alcançaram a meta, mas, no Mato Grosso do Sul, a fama pegou e vejam o que aconteceu com a candidatura do senador Delcídio (do Amaral) a governador”, lembrou, fazendo menção a derrota do petista, que largou a campanha em primeiro lugar, segundo pesquisas.

Para Bira, a dificuldade do partido tende a se acentuar porque “não arrumaram autodefesa para escapar desse jogo que inventaram”. “Espalham que todos somos mensaleiros, nunca roubei nada e tenho minha consciência tranquila”, acrescentou.

O resultado, segundo ele, será a diminuição do PT nas próximas eleições municipais. “Tenho convicção que Dilma vai superar a crise, agora, o PT vai demorar mais tempo para dar a volta por cima”, avaliou. “Pra mim, foi duro essa ruptura, sai do PT não porque quero, mas para realizar o sonho de ser prefeito de Coxim e tirar a cidade da UTI”, finalizou.

Conveniência - Presidente regional do PT, Paulo Duarte admite que o “momento é difícil” e classifica a debandada como “conveniência pessoal”. “É inegável o momento difícil do PT, mas não só do PT, como da política e dos políticos”, começou.

Sobre a debandada, ele destacou que “as pessoas são livres” e lamentou o que chamou de “procurar o caminho mais fácil”. “É conveniência pessoal, não estou recriminando, só não pode posar de santo”, disparou. Como exemplo, ele citou o caso de Marta Suplicy. “Ela deixou o PT porque quer ser candidata (a prefeito de São Paulo) de tudo que é jeito”, disse.

Por isso, Duarte descartou preocupação com a saída de correligionários. “Sinceramente, não me preocupa, até agora, não teve grandes baixas e a história mostra que quem saiu do PT não se deu bem”, alfinetou.

Mesmo assim, o momento é de alerta e o PT nacional decretou convenções extraordinárias em todos os estados. Em Campo Grande, o encontro será sábado (16). “Tenho defendido para parar com essa disputa interna, muitas vezes insana, e tentar fortalecer o partido. Enfim, não tem uma saída única, temos que se reinventar”, concluiu Paulo Duarte.

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