Política

Aluguel de apartamento era acerto com amigo de Lula, diz engenheiro de MS

Primo de José Carlos Bumlai, Glauco Costamarques se tornou réu na investigação federal

Mayara Bueno | 27/12/2016 09:24

Engenheiro de Mato Grosso do Sul e pivô da mais recente ação contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Glauco da Costamarques disse à Lava Jato que o valor do aluguel de um apartamento de sua propriedade usado por Lula era repassado diretamente a ele pelo advogado e amigo do petista, Roberto Teixeira. As informações são da Folha de São Paulo.

Glauco é primo distante o pecuarista José Carlos Bumlai, também de Mato Grosso do Sul, condenado e preso pela Lava Jato. Ainda segundo o engenheiro, na prática o advogado não pagava o aluguel, pois o repasse era usado como compensação por uma “assessoria sobre imóveis” que ele prestava.

O apartamento a que ele se refere é em São Bernardo do Campo (SP) e fica no mesmo prédio do imóvel em que mora Lula. À investigação, Glauco afirmou que não contabilizava os rendimentos com o imóvel porque “não achava necessário”.

Para a acusação, a empreiteira Odebrecht está por trás da aquisição do imóvel, como forma de beneficiar o ex-presidente e que Costamarques era “testa de ferro” do petista.

Ainda segundo a reportagem, a Lava Jato levantou que, para arcar com a compra da unidade, o engenheiro teria recebido R$ 800 mil da DAG Construtora, em 2010, que por sua vez havia obtido repasses da Odebrecht.

A história faz parte da denúncia aceita pelo juiz federal Sergio Moro, na segunda-feira (20), o que fez Lula se tornar réu pela quinta vez. A falta de pagamentos de aluguel pelo ex-presidente é um dos principais argumentos da acusação na ação.

A investigação rastreou as contas bancárias de Lula e não encontrou os repasses, embora o ex-presidente tenha declarado os gastos desse aluguel no Imposto de Renda. Anteriormente, à Polícia Federal, o engenheiro disse que o valor "de alguns aluguéis" foi pago em espécie.

Também em depoimento, Glauco disse que, em 2010, quando Lula era presidente, o advogado Roberto Teixeira contou que o imóvel estava alugado para a Presidência e que comprá-lo poderia ser “um bom negócio”, mas que “só serviria se não quisesse moral no local”.

Ao indagá-lo, os investigadores estranharam o fato de o engenheiro argumentar que comprou a unidade "para investir" e não tenha se preocupado em calcular quanto obteve com aluguéis.

O apartamento foi comprado por R$ 504 mil por meio de cessão de direitos hereditários do espólio do proprietário anterior, morto em 2009.

Uma das herdeiras disse, em declaração anexada aos autos, que seus advogados afirmaram à época que a venda seria para Lula.

Os investigadores perguntaram ao engenheiro por que, passados seis anos, ele não transferiu formalmente o imóvel para seu nome. Costamarques afirmou que só poderia tomar essa iniciativa quando os herdeiros pagassem o devido imposto de transmissão.

Ao receber a denúncia, o juiz federal decretou o sequestro do apartamento "diante dos indícios de que foi adquirido com proventos do crime" e de que pertence de fato ao ex-presidente.
O engenheiro se tornou réu na ação, assim como Teixeira e Marcelo Odebrecht, e se apresentou no depoimento como pecuarista e investidor em imóveis.

Segundo a reportagem, a defesa de Costamarques disse que ele reafirma o que foi falado aos procuradores. Também declara que não foi notificada a respeito da ação penal. Ao depor, ele disse que recebeu R$ 800 mil da DAG Construtora porque repassou à empresa o direito sobre o uso do terreno adquirido na zona sul de São Paulo objeto da ação penal.

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