Meio Ambiente

Se não tem "comportamento japonês", catadores dão fim ao lixo

Mariana Lopes | 24/06/2014 08:50
Se não tem "comportamento japonês", catadores dão fim ao lixo
(Foto: Cleber Gellio)

O jogo entre Brasil e Camarões reuniu mais de 3 mil torcedores na Vila Brasil, em Campo Grande. E claro que o lixo foi proporcional à quantidade de pessoas que ocupou os altos da avenida Afonso Pena na tarde ontem (23). Com escassez de lixeiras, ou o torcedor levava sua própria sacola plástica para recolher os resíduos ou jogava no chão. A sujeira só não foi maior graças aos catadores que perambulavam entre a multidão atrás principalmente de latinhas.

Sentado no meio-fio do canteiro central da avenida, o mototaxista Luciano Tavares, 25 anos, terminou de tomar um copão de cerveja e, sem constrangimento, jogou-o na rua. Indagado se havia levado uma sacola para guardar o próprio lixo, ele respondeu sem titubear: "Não sou japonês". A justiticativa foi em alusão à torcida japonesa que, nos jogos pela Copa do Mundo, tem chamado a atenção por recolher o lixo produzido e colocar em sacos plásticos que levam para o estádio. O gesto, que para eles é habitual, ganhou destaque na imprensa brasileira, como um bom exemplo a ser seguido, mas que na prática, não é.

Atitude que Marcelo até aprova e acho louvável, apesar de não segui-la. "Esqueci minha sacola, e mesmo assim, eu poderia até pegar o copo, mas daí vou jogar onde? Não tem uma lixeira por aqui", critica.

Sentada no gramado com dois filhos pequenos, a estudante corumbaense Ronilda Oliveira Jarcem, 25 anos, estava com copos descartáveis e plásticos de algodão doce jogados no chão, aos pés dela. Sem ter levado sacola ou algo do tipo, ela garantiu que o material seria recolhido quando fosse embora. "Vou levar na mão mesmo e colocar no carro até achar uma lixeira, ou jogo em casa mesmo. Já trabalhei com limpeza e sei a importância de não deixar lixo pra trás", pontua Ronilda. 

Lixo jogado no chão, durante jogo da seleção brasileira nesta segunda-feira (Foto: Cleber Gellio)

Catadores - Durante todo o jogo de ontem (23), não era raro encontrar um catador passando entre os torcedores com uma sacola recolhendo as latinhas vazias. O pedreiro Nelson da Silva, 58 anos, está desde o primeiro jogo neste ofício. "No jogo passado consegui juntar 10 quilos de alumínio, mas hoje estou com mais concorrência", observa.

Ou seja, o número de catadores aumentou na Vila Brasil, já que o que não falta por lá são latas de bebidas. E sobre os torcedores, Nelson afirma que eles gostam da presença dos catadores. "Muitos já deixam as latinhas separadas para a gente, nos ajudam", comenta o pedreiro, que aproveitou o mundial para ganhar um dinheiro extra.

Em meio a torcida, a reportagem notou algumas pessoas com sacolas plásticas, nas quais jogavam o lixo. Em um grupo de sete pessoas, o vendedor Joelton Rocha, 35 anos, levou as próprias bebidas em um isopor e, ao lado, uma sacola para jogar as latas. A consciência ambiental foi evidenciada. "Imaginamos que não teria onde jogar e para não deixar na rua, sujando a avenida, garantimos para ter onde jogar o lixo", explicou.

Assim que um catador passou, a sacola cheia de latinhas ganhou um novo destino. "Eles estão trabalhando, não custa ajudar, e também é bom que fica menos lixo para a gente levar embora", ressalta Joelton.

 

Nos siga no