Meio Ambiente

Para salvar Pantanal de riscos com hidrovia, associação pede fim de projeto

Medo é que navegação cause danos ao ciclo de secas e cheias do Rio Paraguai, fauna, flora e aos ribeirinhos

Por Cassia Modena | 19/03/2024 12:41
Avanço do projeto prevê alterações na parte do Rio Paraguai localizada em Corumbá (Foto: Arquivo/Toninho Ruiz)
Avanço do projeto prevê alterações na parte do Rio Paraguai localizada em Corumbá (Foto: Arquivo/Toninho Ruiz)

A Associação para Biologia Tropical e Conservação publicou neste mês uma resolução para tentar barrar o avanço do projeto do governo federal que prevê construir hidrovia no Rio Paraguai para intensificar o transporte de minérios, fertilizantes e outras cargas pelo caminho aquaviário.

Entidade que reúne cientistas e profissionais ligados às áreas de conservação de ecossistemas tropicais de diversos países, a associação aponta que estudos já demonstraram como a proposta pode resultar, "de forma clara e inequívoca, em danos ambientais e sociais" para todo o Pantanal. 

Entre os principais danos citados está a alteração do fluxo de cheias e secas no rio, do qual dependem toda vida do bioma, inclusive a das comunidades ribeirinhas.

Chamado de Hidrovia Paraná-Paraguai, o projeto prevê o aprofundamento do leito do rio e sua dragagem, que inclui a escavação de materiais sedimentados no fundo.

"As consequências biofísicas da dragagem e da fixação das margens do rio resultariam num aumento da descarga e uma desconexão entre o tronco principal do rio e os habitats das enchentes, comprometendo a integridade do ecossistema, sua fauna e flora altamente adaptadas e as estratégias tradicionais de uso de recursos pelas populações humanas locais, incluindo a pesca, que tem grande importância cultural e socioeconômica em toda a região", diz a tradução de um trecho da resolução.

Em outro, destaca "riscos de derramamento de óleo, liberação de combustível e pesticidas, esgotamento maciço de oxigênio quando fertilizantes são derramados no rio e a introdução de espécies aquáticas invasoras" e explica que isso levaria à morte maciça de peixes, ao turvamento do rio e "à alteração a longo prazo desse ecossistema altamente sensível".

Avanço inclui Corumbá - O projeto prevê obras na parte chamada de Tramo Norte do Rio Paraguai, ao longo de 700 quilômetros entre Cáceres, em Mato Grosso, e Corumbá, em Mato Grosso do Sul.

Na cidade sul-mato-grossense, mineradoras já fazem transporte de produtos pelo rio. Há outras empresas privadas que também exploram a via, mas em menor intensidade do que o projeto do governo federal propõe.

Um artigo assinado por 42 pesquisadores de Mato Grosso do Sul e de outros estados, além de mais entidades estrangeiras, denunciou no ano passado os planos de tornar o Rio Paraguai uma “estrada” para exportação de produtos é uma ameaça não apenas ao curso d’água, mas para todo o bioma.

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