Meio Ambiente

Enquanto SP sofre com seca, Capital aposta em poços para ter água

Viviane Oliveira e Priscilla Peres | 03/02/2015 09:20
Represa do Guariroba, que fica na saída para Três Lagoas, em Campo Grande.  (Foto: Marcos Ermínio)
Represa do Guariroba, que fica na saída para Três Lagoas, em Campo Grande. (Foto: Marcos Ermínio)

Enquanto os grandes centros sofrem com a seca, principalmente o Estado de São Paulo que vive a pior crise hídrica da história, Campo Grande aposta em poços subterrâneos para não ficar sem água. Sem grandes mananciais, todos os córregos que abastecem a cidade são limitados, de acordo com o engenheiro José João Fonseca, diretor-presidente da Águas Guariroba, concessionária responsável pelos serviços de abastecimento e esgotamento sanitário na Capital.

Hoje, o córrego Guariroba é responsável por 40% da distribuição da água utilizada em Campo Grande, depois vem o Lageado com 16%. A empresa ainda utiliza 150 poços artesianos, desses, dez são perfurados no Aquífero Guarani, maior reserva natural de água doce e potável no Brasil, que passa sob Mato Grosso do Sul.

Futuramente, para não enfrentar problemas com a escassez de água, o abastecimento será por meio de poços subterrâneos. “Por isso, nossa preocupação em acabar com perfurações irregulares em Campo Grande. Nós precisamos cuidar do subterrâneo, porque no futuro o abastecimento da cidade vai vir de poços”, destaca José João. Estima-se que na cidade existem cerca de 20 mil poços clandestinos.

Ao contrário do que parece, a água é um recurso natural esgotável e a demanda não para de crescer em uma cidade com mais de 843 mil habitantes. No entanto, a escassez que vem acontecendo nos grandes centros não é apenas devido a seca, mas de planejamento e investimento. “Em São Paulo, os reservatórios são antigos e a área de captação não acompanhou o crescimento da cidade”, pontua o diretor da Águas.

Já a cidade Morena, segundo a concessionária, não corre risco de passar por racionamento, no entanto, o gasto deve ser consciente e a população precisa ajudar a cuidar dos mananciais. Em residências, por exemplo, se o consumo de água tratada for reduzido há um aumento da capacidade de oferta, o sistema se torna mais eficiente e as perdas diminuem. “Dessa forma, além de minimizar o impacto da poluição sobre as fontes de água potável, o uso pode ser democratizado e chegar a lugares onde não existe, tendo o custo barateado”, explica o engenheiro ambiental Jhonatan Barbosa da Silva.

Engenheiro José João diz que Campo Grande não tem grandes mananciais e que no futuro o abastecimento da cidade será por poços subterrâneos. (Foto: Marcelo Calazans)

Racionamento - Acostumados com água em abundância, sul-mato-grossenses que moram na capital paulista passam por apuros. É o caso da jornalista campo-grandense Aline Canassa, 30 anos, que há quatro anos mora em São Paulo. Ela conta que no apartamento onde mora, na Vila Madalena, é feito um sistema de racionamento de água permanente. De segunda-feira a sábado, das 14h às 18h, e nos domingos, das 15h às 19h, o fornecimento de água é interrompido.

Com a seca, que atinge o Estado desde o ano passado, o racionamento foi ampliado e agora os moradores ficam sem água também das 23h30 às 5h30. Com isso, ela que acorda todos os dias às 5h para ir trabalhar, precisa tomar banho frio e rápido. "Não sai água quente a essa hora da manhã, só a fria que fica na caixa d'água. Eu tomo banho correndo, porque a água pode acabar a qualquer momento", diz.

Apesar disso, Aline afirma que não "sente tanto" o racionamento de água na cidade, pois o assunto referente a questão é constante e as pessoas já estão atentas de que precisam economizar. Ao fazer a relação com um estado de água abundante, a jornalista diz que sofre as consequências de morar em uma metrópole e lembra que ninguém está livre de viver em racionamento de água.

Para ela, não existe uma campanha forte por parte do governo de economia de água, mas a prática acontece em todos os locais. "No meu trabalho, por exemplo, colocaram adesivos próximos as torneiras para pedir que as pessoas lembrem-se de não desperdiçar", conta.

Armazenar água da máquina de lavar roupa para jogar no vaso sanitário, evitar dar descarga e lavar louça toda hora são maneiras que Evelyn Pereira Gonçalves Regis, 27 anos, encontrou para não desperdiçar água. Há 3 anos morando com o marido em São Paulo, a jovem conta que no condomínio onde mora, no Bairro Itapegica, em Guarulhos, chega a ficar até 18 horas sem água de três a quatro vezes por semana. Além disso, por determinação do síndico, só se pode lavar roupa aos sábados. “Mesmo com essa crise toda, ainda tem gente que insiste em esbanjar água”, lamenta.

Em Florianópolis (SC), a situação também é desconfortável, de acordo com Isadora Ceni, 20 anos. A acadêmica de Direito mora, há pouco mais de um ano, no Bairro Itacorubi e conta que todo verão precisa comprar água potável para beber. “O prédio onde moro fica em uma região mais alta e sempre teve problemas de abastecimento, principalmente nesta época do ano, que a população triplica”, diz.

Isadora conta que até o cachorro dela, da raça Pug, passou mal ao tomar a água amarelada que sai das torneiras. A estudante diz que mesmo depois do verão continua comprando água para beber. “Tenho um amigo que bebe água da torneira e não passa mal, mas eu fico com receio”.

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