Meio Ambiente

Em lixo no Parque dos Poderes, até preservativo é levado por quatis

Detritos, incluindo as sobras de "noitadas", são acessados facilmente pelos animais silvestres e domésticos, o que pode até causar sua morte

Bruna Pasche e Izabela Sanchez | 03/02/2019 17:30
Quati, na manhã deste domingo, com um preservativo na boca (Foto: Direto das Ruas)
Quati, na manhã deste domingo, com um preservativo na boca (Foto: Direto das Ruas)

O lixo pode não ser tão aparente quanto em outras regiões e por isso não desperta insegurança nos frequentadores do entorno do Parque dos Poderes, em Campo Grande. No entanto, representam perigo para a fauna da Reserva Ecológica do Parque. No local, é possível encontrar, dentro e fora das cercas, latas e garrafas de cerveja, copos e até preservativos.

Ao passar pelo local na manhã deste domingo (3), o Campo Grande News flagrou um quati mastigando uma camisinha.

O perigo não se restringe apenas aos animais nativos. Quem leva os de estimação para passear também se preocupa. “Nós ensinamos ele desde bebê que não pode comer as coisas do chão, mas é inevitável que ele chegue perto para cheirar e se você der um minuto de bobeira pode ser que engula. É bem complicado”, disse Leonara Mergareno, de 28 anos, que levou pela primeira vez o bulldog Dean ao parque.

Só no trecho entre a Governadoria e a Secretaria de Saúde, encontramos mais de dez garrafas de cerveja, algumas latinhas, além de copos e pelo menos 30 preservativos no local, abertos e apenas com a embalagem. A situação gera revolta em quem busca um lugar tranquilo para curtir com a família.

“De longe você olha e está tudo aparentemente limpo. Quando chega perto, vê esse tipo de coisa”, reclamou Bruno Henrique Nascimento de 27, que estava no local com a mulher e as duas filhas, de 7 meses e 2 anos.

Garrafas e latinhas, rastros de quem não se importa com a preservação da vida natural do Parque (Foto: Direto das Ruas)

Frequentadora assídua do Parque, a empresária Andreia Grance, 37, conta que a situação não é nenhuma novidade. “Sempre tem esse tipo de coisa por aqui, é uma vergonha, constrangedor e perigoso para os animais. O que falta é fiscalização à noite, ontem eu passei aqui e estava lotado. Quer fazer as coisas, beleza, mas leva para casa ou joga fora”.

“Tem que ter policiamento à noite e de madrugada. Eu trabalho aqui na Governadoria e o pessoal limpa toda a semana, o problema é o que vira aos finais de semana”, disse uma frequentadora, que preferiu não se identificar.

Questionados, policiais do 9° Batalhão, responsável pela área, informaram que o policiamento na região é diário e contínuo, mas que diferente do que dito pela empresária, não é comum carros no local.

Restos das noitadas, garrafas fazem parte do cenário no Parque dos Poderes (Foto: Direto das Ruas)

Riscos para a saúde animal – Biólogo, o tenente-coronel da PMA (Polícia Militar Ambiental) Edenilson Queiroz explica que o maior risco para os bichos é o lixo orgânico, restos de comida que podem até alterar a rotina de alimentação dos animais silvestres, a exemplo dos quatis.

“Primeiro tem risco de contaminação desses produtos. Mesmo sendo resto de alimento, não é da dieta deles. Aumenta gordura, pode dar problemas de saúde, várias complicações. A difulcudade maior é fazer com que o animal, pela facilidade, não procure mais o alimento na natureza, sempre sai procurando o lixo e não o alimento adequado que tem na natureza”, explica.

Segundo o tenente, esse tipo de alimentação incorreta pode até alterar o padrão de reprodução dos animais. “Já fizemos várias campanhas, diminuiu muito, mas as pessoas ainda deixam contêineres abertos”. Se ingerirem outros materiais, como o plástico dos preservativos, por exemplo, podem sofrer com problemas estomacais ainda piores, comenta.

Biólogo e mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional, Marco de Barros Costacurta explica que os animais silvestres são atraídos para esses locais pela qualidade dos restos de comida do lixo. Ainda assim, a curiosidade ou algum acidente fazem com que tenham contato com materiais mais perigosos.

“Podem acarretar em ferimentos graves e até a morte do animal, seja através de objetos pontiagudos e cortantes (agulhas, cacos de vidro, tampinhas e lacres de bebidas) ou de objetos que não são digeridos (plástico e metal) ocasionando desde indigestão leve até um problema sério de vômitos e diarreia com sangue ou ainda, uma perfuração ou obstrução do estomago ou intestino desses animais, podendo ocasionar sua morte”, comenta.

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