Meio Ambiente

Agronegócio é potência com legião de trabalhadores que "herdaram" lida dos pais

Puxado pelo trabalho do homem do campo, agronegócio gera emprego e se consolida em MS

Clayton Neves | 23/05/2022 14:49
Com rotina intensa, trabalho do homem do campo começa antes mesmo do sol raiar. (Foto: Fazenda Bálsamo)
Com rotina intensa, trabalho do homem do campo começa antes mesmo do sol raiar. (Foto: Fazenda Bálsamo)

No horizonte das terras “lá pras bandas de Rochedo”, o sol ainda nem despontou quando Matheus dos Santos Araújo se levanta para a lida. É assim a rotina na Fazenda Bálsamo, onde trabalha. O dia só começa depois que o capataz se ajeita e vai até o curral tirar o leite que alimenta e dá força para o serviço diário. De lá, antes mesmo do café, o trabalhador encontra um companheiro e juntos, seguem em direção ao chiqueiro onde dão comida aos porcos.

“Tomado o café, vamos arrear cavalo, dar rodeio no gado e fazer algum manejo ou troca de pasto. Curar alguma coisa que esteja doente ou bichada e, às 11 horas, voltamos para a fazenda. Na parte da tarde, vamos tratar do gado de engorda e fazer o serviço braçal. Sou o responsável pela fazenda, mais conhecido como capataz”, explica. 

A fala simples, com sotaque carregado e expressões do dia a dia do homem do campo, revela particularidade singela de quem pode até não ter experiência com discursos, mas esbanja capacidade técnica e domínio no ofício que, na maioria das vezes, foi herdada dos pais. Jeito com a terra passado de geração para geração. 

Pelas mãos de Matheus e de pelo menos outros nove funcionários que a fazenda emprega direta e indiretamente, passa a produção que sai de Rochedo, no interior de Mato Grosso do Sul, e chega em forma de comida no prato de consumidores de regiões onde o capataz nunca imaginou estar, inclusive, locais fora do Brasil. 

“Fico muito feliz em saber que o serviço que a gente faz é importante para o País e produz alimento que chega na casa de muita gente. Sejam famílias pobres ou ricas, somos nós que atendemos todas. É gratificante ver que o serviço que você faz tem resultado positivo”, afirma o trabalhador rural. 

Negócio de família, a fazenda onde Matheus trabalha é empreendimento que se consolidou ao longo de duas gerações. Mascate, o avô dos atuais administradores andava entre fazendas da região oferecendo e comercializando utensílios diversos. Por vezes, as mercadorias eram trocadas por gado, que eram negociados por pedaços de terra.

“Meu avô materno fazia esse tipo de troca que, na época, era bem comum. Assim, ele adquiriu algumas fazendas e uma delas é a Bálsamo, que está na família até hoje”, explica Giulian de Morais Rios, administrador da Fazenda Bálsamo. 

Região de Campo Grande conta com cerca de 6 mil produtores rurais. (Foto: Fazenda Bálsamo)

Hoje, a propriedade especializada na criação e venda de gado Nelore e Angus tem produtividade que gira em torno de 7 arrobas e meia por hectare. Produção que emprega, garante comida para muita gente e ainda alavanca a economia de Mato Grosso do Sul. 

“Existe um papel social muito importante. Estamos remunerando pessoas que usam a renda para realizar seus sonhos e adquirir bens. Quando olhamos para o setor como um todo, a coisa é muito maior. Nosso trabalho de acordar cedo e ir para a lida todos os dias tem uma relevância muito grande. A sociedade precisa saber que aquele alimento que chega na mesa tem um pouco do nosso trabalho. Tem o suor do trabalhador, da gestão desenvolvida e do serviço da lida diária”, comenta.

Com o empenho de trabalhadores como o capataz Matheus e a logística de serviço estabelecida pelo pecuarista Giulian, o setor do agronegócio ganha a cada dia mais força e se consolida como o principal dos pilares da economia sul-mato-grossense. Conforme dados da Semagro (Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar), atualmente, o agronegócio é responsável por 37% do PIB (Produto Interno Bruto) do Estado, nacionalmente reconhecido pela potência da pecuária e agricultura.

Com consultoria desde 2016, Fazenda Bálsamo tem produtividade de 7 arrobas e meia por hectare. (Foto: Acervo Pessoal)

“Para que as pessoas comam um bife ou um churrasco no fim de semana, um trabalhador tem que acordar cedo, montar em um cavalo e sair para o campo. Existe todo um trabalho até que o bicho chegue ao prato do consumidor em forma de alimento. Por não saber, muitas vezes, a sociedade acaba tendo um estereótipo errado do produtor rural e nos veem como vilão ou o que desmata. Na verdade, temos muita responsabilidade, respeitamos o meio ambiente e as leis, mantemos parte da nossa área preservada e geramos emprego”, observa. 

Na avaliação do presidente do SRCG (Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho), Alessandro Coelho, o desempenho do setor atua diretamente na geração de empregos e movimenta milhões de reais na economia. Resultado eficiente da evolução do tripé integrado por responsabilidade econômica, social e ambiental. 

Atualmente, MS tem 69% do território destinado à produção agropecuária, 22% ocupado pela área agrícola. (Foto: Famasul)

“O produtor pensa no lado da economia e quer melhorar a produção reduzindo gastos, no entanto, para que isso tenha resultado eficiente, é observada a importância de uma boa relação com a área ambiental. Junto disso, o consumidor está muito mais exigente com o que compra e tem um olhar especial para produtos artesanais, naturais e sustentáveis. Essa mudança de hábito faz com que adaptações sejam necessárias. Na outra ponta, os colaboradores também querem mais qualidade de vida”, avalia. 

Para que três pilares se desenvolvam, a dica de quem está em destaque no mercado é se reinventar e modernizar as estruturas de trabalho. Para ajudar, o Sindicato Rural de Campo Grande, Corguinho e Rochedo oferece diferentes cursos e especializações para quem não quer ficar para trás.

“Trabalhamos preparando a mão de obra de quem trabalha. Desde o operador de máquinas, passando por quem faz classificação de grãos, doma racional e até inseminação. São cursos para quem presta serviços nas propriedades e para os proprietários que empreendem. Não é apenas sobre trabalhar na fazenda, mas sobre desenvolver a agroindústria” afirma. Alessandro Coelho.

Para o representante da categoria, que também é produtor rural, a qualificação da mão de obra agrega valor ao serviço, implementa evolução na propriedade e melhora a vida das pessoas. “Uma constatação no mercado é que quanto mais conhecimento operacional, maior a remuneração do trabalhador”, relata. 

Curso de Análise e Classificação de Grãos é uma das opções de capacitação oferecidas pelo Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho. (Divulgação SRCG)

Com suporte que oferece a mais de 6 mil produtores da região de Campo Grande, o SRCG tem o objetivo de fortalecer e prestar assistência aos grandes, sem deixar de observar os produtores de menor porte. “Diferente do restante do Estado, a força da região de Campo Grande vem das pequenas propriedades, como as que produzem frutas e hortaliças, por exemplo”, explica o presidente.

Na Fazenda Bálsamo, Giulian Rios entendeu a importância de reinventar os métodos de trabalho e já elenca os resultados de aprender e implantar na propriedade o conhecimento adquirido. "Temos trabalhado com consultoria desde 2016 na intenção de profissionalizar nossa gestão e ser o mais eficiente possível. Assim, conseguir fazer um negócio lucrativo e rentável. Com a consultoria, a gente tem conseguido esses resultados", revela.

Mato Grosso do Sul é responsável por 10% da exportação de gado do País. (Foto: Fazenda Bálsamo)

Mesmo na pandemia, período em que diversos segmentos tiveram amargas perdas, o pecuarista se vê como prova de que, mais uma vez, o setor provou a força e importância que tem. “A frase que diz que o agro não para nunca fez tanto sentido. Fomos um dos setores privilegiados durante a pandemia porque as pessoas tiveram várias restrições, mas ninguém pôde parar de comer. Continuamos trabalhando com responsabilidade para que o alimento chegasse a todo mundo. Aqui, conseguimos manter o quadro de funcionários e até contratamos mais um”, relata. 

Conforme dados da Famasul (Federação da Agricultura de Mato Grosso do Sul), atualmente, o Estado tem 69% do território destinado à produção agropecuária. Do total, 22% é ocupado pela área agrícola.

Na área da pecuária, ramo em que atua a Fazenda Bálsamo, nas últimas duas décadas, foi registrado aumento de 19% na produção. Com isso, o setor aumentou a participação no total de exportações feita pelo País, saltando de 2% para 10% na contribuição nacional.

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