Lado Rural

Embrapa valida diretrizes técnicas para produção de carne baixo carbono

Protocolos visam valorizar produtos pecuários de sistemas mais eficientes e com menor impacto ambiental

Por José Roberto dos Santos, com informações da Embrapa | 19/03/2024 11:20
Bovinos são criados a pasto no novo sistema, a partir da adoção de boas práticas agropecuárias, envolvendo os componentes solo, pasto e animal. (Foto: Márcia Silveira/Embrapa)
Bovinos são criados a pasto no novo sistema, a partir da adoção de boas práticas agropecuárias, envolvendo os componentes solo, pasto e animal. (Foto: Márcia Silveira/Embrapa)

Depois de lançar a marca-conceito CCN (Carne Carbono Neutro), que valoriza sistemas pecuários com a presença do componente florestal e neutralização da emissão de GEE (gases de efeito estufa), a Embrapa validou as diretrizes de mais um protocolo que vai ajudar o pecuarista a produzir com foco em sustentabilidade: o Carne Baixo Carbono. Os resultados da avaliação de parâmetros técnicos do protocolo CBC durante dois ciclos produtivos no Cerrado baiano contemplam sistemas pecuários sem a presença de árvores na pastagem, mas com potencial de mitigação das emissões de GEE a partir da adoção de boas práticas agropecuárias, envolvendo os componentes solo, pasto e animal.

Oito foram os parâmetros técnicos avaliados durante os dois anos de validação do protocolo CBC: densidade do solo, estoque de carbono e qualidade do solo, disponibilidade da forragem e cobertura do solo, ganho de peso médio diário dos animais, ganho de peso por área dos animais e emissões entéricas. Esses parâmetros estão sendo contemplados nos requisitos obrigatórios propostos no Protocolo CBC juntamente com requisitos de legislação trabalhista e ambiental.

Segundo a pesquisadora que coordenou o trabalho de validação das diretrizes para produção de CBC, Márcia Silveira, à época na Embrapa Pecuária Sul (RS) e atualmente na Embrapa Milho e Sorgo (MG), os resultados mostram que a implantação do protocolo garante produtividade e qualidade da carne, de forma a aumentar a lucratividade do produtor, sem abrir mão da manutenção ou aumento do estoque de carbono do solo e da mitigação da emissão de GEE, além do efeito poupa-terra, ou seja, com menor pressão sobre a vegetação nativa. “É mais um passo na busca pela eficiência produtiva que leva em conta a qualidade do produto e do seu ambiente de produção”, destaca Silveira.

Estas marcas, como a CBC e a CCN, vêm sendo desenvolvidas no âmbito da Plataforma Pecuária de Baixa Emissão de Carbono, que visa valorizar produtos pecuários produzidos em sistemas mais eficientes e com menor impacto ambiental. As diretrizes técnicas para a produção de Carne Baixo Carbono foram lançadas em 2020, e estão alinhadas ao Plano Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Plano ABC+). 

Estes parâmetros necessitavam de validação em um ambiente de produção comercial antes da disponibilização do protocolo para adesão voluntária por parte dos pecuaristas. “Nesse sentido, o trabalho de validação desenvolvido pela Embrapa servirá como modelo para certificação da marca-conceito CBC nas fazendas de pecuária de corte que desejarem produzir carne dentro deste escopo”, ressalta Roberto Giolo, pesquisador da Embrapa Gado de Corte, de Campo Grande (MS) e líder da Plataforma Pecuária de Baixo Carbono.

Vantagens em todos os aspectos

“Em relação ao componente forrageiro, a massa de forragem (quilograma por hectare, kg/ha, de matéria seca – MS) e a cobertura do solo (%) foram maiores no tratamento CBC quando comparadas ao tratamento convencional, apresentando valores superiores a 2.000 kg/ha de MS e cobertura do solo acima de 80%, conforme preconizado nas diretrizes do CBC”, observa a pesquisadora Márcia Silveira.

Animais engordados a pasto no sistema CBC; ganho de peso superou o da criação em sistema convencional. (Foto: Márcia Silveira/Embrapa)

Quanto ao desempenho animal, os ganhos médios diários de peso por animal foram semelhantes entre os tratamentos, sendo os ganhos médios diários de 440 gramas por dia (g/dia) e 404 g/dia no CBC, no primeiro e segundo ciclos avaliados, e 430 g/dia e 375 g/dia no manejo convencional, no primeiro e segundo ciclos avaliados. 

Porém, Silveira destaca que no tratamento CBC foram registrados maiores ganhos por área em função da possibilidade de trabalhar com maiores taxas de lotação, no caso, 2,33 e 2,77 unidades animal por hectare (UA/ha) nos dois ciclos de avaliação do CBC e 0,89 e 0,70 UA/ha nos dois ciclos de manejo convencional. Esses maiores ganhos por área não proporcionaram aumento de intensidade de emissão de metano entérico.

Maior lucratividade no CBC

Quanto à visão econômica, as análises comprovaram maior lucratividade do CBC em comparação ao manejo convencional, devido à maior produção por área ao longo do período analisado e, na segunda safra, à possibilidade dos animais CBC terem alcançado o peso mínimo de entrada no confinamento e, posteriormente, terem sido abatidos. “Logo, os resultados indicam que a implementação do protocolo CBC proporciona maior produção por área de carne, com aumento da lucratividade”, destaca Mariana Aragão, pesquisadora da Embrapa Gado de Corte.

“Na perspectiva ambiental, o sistema de produção CBC propiciou boa cobertura do solo, que impactou na manutenção do estoque de carbono, na mitigação da emissão de gases de efeito estufa, além de promover o efeito poupa-terra e a resiliência do sistema de produção”, completa Roberto Giolo.

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