Sabor

No restaurante português mais conhecido da cidade, família põe a mão na massa

Elverson Cardozo | 21/12/2012 07:17
Dona Judite não deixa a paixão de lado. Ela mesma faz questão de elaborar os pratos. (Fotos: Pedro Peralta)
Dona Judite não deixa a paixão de lado. Ela mesma faz questão de elaborar os pratos. (Fotos: Pedro Peralta)

O nome faz jus ao que a casa oferece, mas as opções, como tempo, foram se ampliando. No dicionário de Portugal, Acepipe significa petisco, tira-gosto, aperitivo. No restaurante português mais conhecido de Campo Grande, a fachada vai além do significado. Representa tempero único, receitas exclusivas e tradição em família.

Portuguesa de Leiria, Judite do Rosário de Jesus Ferreira Fraga Rodrigues, de 74 anos, é uma das proprietárias. Na Capital desde 74, ele resolveu abrir o negócio com o esposo, Artur Pereira Fraga, que se inspirou nos três restaurantes de um sobrinho, morador de Portugal. Até o nome escolhido foi o mesmo.

Mas o empreendimento só teve início depois de uma odisséia e porque a dificuldade bateu à porta. No país onde nasceram, Judite, o marido e os dois filhos viveram por 13 anos.

De olho na pecuária, o casal se mudou para Moçambique, mas a revolução de 74 – período de forte repressão política originada em Portugal – refletiu na África do Sul. À época, tropas portuguesas foram enviadas para conterem revoltas em Guiné-Bissau, Moçambique e Angola. A situação ficou insustentável.

Judite e Artur resolveram se mudar para o Brasil e vieram parar na capital do Mato Grosso do Sul, onde tiveram o terceiro filho. Aqui, o português chegou a mexer com jóias e a tocar comércio, enquanto a esposa trabalhava como costureira.

Ficaram nessa vida durante 20 anos, de 1974 a 1994, quando inauguraram o restaurante, inspirados no sucesso do sobrinho. Ninguém, até então, tinha experiência no ramo, mas a aptidão na cozinha sempre foi notada em família.

Para a nora, restaurante só está em funcionamento porque o negócio é controlado pela família.

Nesse período, a nora, Eliane Arcanjo Fraga Rodrigues, de 47 anos, havia assinado um plano de demissão voluntária na Enersul, onde trabalhava como secretária de diretoria. Desempregada, conseguiu se tornar sócia da sogra. O marido, Artur José Ferreira Fraga, também entrou no ramo.

Hoje, 16 anos depois, a família continua a controlar o restaurante e comemora as conquistas. “No começo tudo foi muito difícil porque a gente não tinha experiência, mas a vontade de vencer superou tudo isso”, relembrou a nora. “Mas teve uma essência. Não foi no susto”, acrescentou, ao citar a aptidão que sempre manifestou.

Os donos é quem põem a mão na massa. Os seis funcionários e garçons apenas auxiliam na produção e atendimento aos clientes, a maioria brasileiros.

Eliane e Judite são as responsáveis por prepararem os pratos. Quem cuida da contabilidade e fica do outro lado do balcão é o marido da ex-secretária. Seo Artur, esposo da portuguesa, está um pouco afastado, por conta de problemas de saúde. Mas a casa continua à mil.

“Esse restaurante continua em pé porque os próprios proprietários cozinham, fazem o prato”, comentou Eliane, ao dizer que, além do negócio, a culinária é uma paixão antiga, mas ninguém nunca havia pensado em viver de servir os outros.

Para o esposo, a tradição é o que mantém a empresa funcionando, mesmo com a concorrência cada vez maior. “Há 15 anos, ninguém nem sabia o que era bacalhau. Não tinha restaurante especializado em bacalhau. Agora todo mundo quer fazer. Virou coqueluche”, disse.

Mineira, Eliane sempre teve gosto pela cozinha.

Cardápio – No Acepipe, o carro-chefe é o bacalhau ao forno, receita com variação abrasileirada. O original leva azeite, alho e batata. Aqui, é servido com um molho exclusivo. A porção, que serve até 3 pessoas, custa R$ 148,00, com arroz branco de acompanhamento. Na brasa, o valor também é o mesmo.

O bacalhau à Gomes de Sá – uma espécie de salada com a carne desfiada e gratinada – custa R$ 120,00. Mas há opções mais em conta, como a sardinha portuguesa, que sai R$ 70,00 e o bolinho de bacalhau, vendido por dúzia. Custa R$ 26,00.

Quem não gosta do peixe pode pedir pintado ao molho de camarão, salmão ao molho de alcaparras e até picanha grelhada, com arroz, batatas fritas e salada. Para beber, as opções vão dos licores – vinho do porto e contreau – ao whisky, passando pelas cervejas, refrigerantes, caipirinha e caipiroska.

O método de servir adotado pelo restaurante é à La Carte.

Encomendas – Para quem pretende montar uma ceia tipicamente portuguesa, a casa está aceitando encomendas para o natal e ano novo. Quatro pratos estão sendo oferecidos: o bacalhau ao forno (R$ 148,00), à Gomes de Sá (R$ 120,00), bolinhos (R$ 28,00 a dúzia) e salada de bacalhau (R$ 95,00).

Sócio-proprietário, Artur José conta que este é o período de maior procura. Até agora, 60 pratos já foram encomendados. A expectativa é que passe dos 150, fora a venda de bacalhau in natura.

Bacalhau ao forno e os bolinhos tradicionais.
Rabanada e pudim de claras.

Ceia - À pedido do Lado B, os proprietários montaram pratos que não podem faltar em uma tradicional ceia de natal portuguesa. Para a entrada, a opção foi o bacalhau ao forno, acompanhando dos bolinhos. O vinho do porto não pode faltar.

A rabanada – pão amanhecido embebido no leite e em algumas especiarias – é a opção de sobremesa. Como a receita é trabalhosa, os sócios optaram por retirar o prato do cardápio.

O pudim de claras com cobertura de creme também pode acompanhar. A receita, guardada a sete chaves, veio da família. “Aqui só eu que faço”, disse dona Judite, sem esconder o orgulho.

Para que a mesa fique mais completa a dica é acrescentar à mesa pães cozidos, peru, garoupa – uma espécie de peixe -, doces de abóbora e aletria, o macarrão “cabelo de anjo”.

Serviço – O restaurante Acepipe fica na rua Eduardo Santos Pereira, 645, Vila Alta, em Campo Grande.

O horário de funcionamento é de terça à sábado, das 11h às 13h30 e das 19h às 23h30. Aos domingos, o atendimento começa a partir das 11h e vai até às 15h.

Outras informações podem ser obtidas pelo telefone (67) 3383-4287.

Nos siga no