Sabor

Em fogão improvisado, Diodete faz bolo de mandioca assado na folha de bananeira

A receita de massa puba surgiu no Pernambuco e foi levada para Anastácio há mais de 60 anos para alimentar a família

Alana Portela | 03/10/2019 09:18
O bolo de mandioca pronto para ser servido (Foto: Arquivo pessoal)
O bolo de mandioca pronto para ser servido (Foto: Arquivo pessoal)

Para resgatar a infância, Diodete dos Santos Barbosa resolveu preparar o bolo de mandioca assado na folha de bananeira que aprendeu com a mãe. A receita de massa puba surgiu no Pernambuco e foi levada para Anastácio, 140 quilômetros de Campo Grande. “Minha mãe se mudou pra cá ainda jovem, isso há mais de 60 anos, e trouxe o prato com ela para matar a saudade da terra natal”, disse a cozinheira.

Diodete cresceu comendo bolo, e se lembra de uma de suas recordções. “Acordava bem cedo porque tinha que trabalhar na roça, onde plantávamos a mandioca. Meu pai vendia a mandioca para Corumbá e outras cidades. Quando acordava cedo para ajudá-lo, via a mesa do café da manhã cheia. Éramos em oito irmãos e minha mãe preparava tudo”.

Sua mãe é pernambucana e se mudou para uma chácara perto de Anastácio. Na época, as coisas eram mais difíceis e para não deixar ninguém com fome, preparou a receita. “Não tinha fogão a gás e assava num forno improvisado, como eu faço. Uso uma lata de tinta, coloco barro na parte de baixo para fixar bem no chão. A panela é colocada em cima e tampada com uma chapa com brasa”. “Aprendi a fazer a receita aos 12 anos, mas fiz adaptações, tirei o ovo”, contou.

O bolo já assado na panela (Foto: Arquivo pessoal)
Folha de bananeira é colocada no fundo da panela (Foto: Arquivo pessoal)
Fogão improvisado para assar os bolos de mandioca (Foto: Arquivo pessoal)

O preparo leva a massa puba, leite, manteiga e açúcar. “A massa é demorada. Tem que deixar a mandioca de molho na água por uns dois dias, até ela desmanchar e virar uma massa mesmo. Depois peneira e bata os ingredientes no liquidificador. Cubra o fundo da panela com uma folha de bananeira, despeje a massa e asse por 30 minutos”.

Aos 58 anos, ela começou a preparar a receita para os quatro filhos experimentarem. Como é sua receita predileta e faz lembrar dos bons tempos do passado, resolveu dar continuidade à tradição criada pela mãe. No entanto, a receita é especial e precisa ser assada na brasa. “É pelo sabor. A folha ajuda o bolo a ficar mais leve, cremoso e ter um gostinho mais adocicado. É tradição os pernambucanos usá-la”.

Quando surgiu a Festa da Farinha para comemorar o aniversário da cidade de Anastácio, Diotede quis participar e levou seu bolo de mandioca para a população comprar e experimentar seu bolo. “Comiam tudo, mas faz uns três meses que comecei a preparar para vender mesmo, e todos os dias tenho cerca de 13, 14 encomendas”. Os bolos são vendidos a partir de R$10.

A receita lembra o “Pé de Moleque”, outra tradição dos pernambucanos. No entanto, a diferença no preparo da outra, é que acrescenta ovo, coco ralado e na hora de assar a massa é coberta pela folha de bananeira. “Já teve pessoas perguntando se era isso, mas não é”.

A mandioca e folha de bananeira também é usada na culinária indígena, no preparo do “Hihi”, que é bolo de mandioca. O que também diferencia da receita de Diodete é que os índios preparam a receita com a mandioca ralada. “Outra é que o deles é salgado. O meu já é doce e a mandioca precisa desmanchar para ser preparada. Tinha um vizinho que fazia”, concluiu.

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Dona Diodete no centro, segurando um bolo pronto embalado para venda, do seu lado os ajudantes (Foto: Arquivo pessoal)
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