Sabor

Com tudo feito de farinha, festa tem de bolos tradicionais a viagra de mandioca

Aliny Mary Dias, de Anastácio | 04/05/2014 08:24
Aristeu fabrica farinha em Anastácio e é referência no assunto  (Foto: Cleber Gellio)
Aristeu fabrica farinha em Anastácio e é referência no assunto (Foto: Cleber Gellio)

Durante dois dias no ano, a farinha de mandioca é a rainha na terra mais nordestina de Mato Grosso do Sul. Em Anastácio, distante 120 quilômetros da Capital, a festa que leva o nome da matéria-prima usada em praticamente todos os pratos vendidos no evento tem peculiaridades que vão do famoso bolo de massa de pupa, do sorvete de mandioca até o viagra da raiz.

Se a farinha é a rainha da cidade, Aristeu dos Santos, 65 anos, é o rei. Nascido no Sergipe e vivendo há 62 anos no sítio da família em Anastácio, o nordestino é referência na fabricação da farinha. É da terra dele que saem mais de 4 toneladas de farinha todos os meses.

E durante a festa, Aristeu faz questão de mostrar como se torra a farinha do modo tradicional. É em um tacho de ferro fundido fixado em um fogão de barro e tijolo que a mágica acontece. Todo o processo que começa com a adubação da terra e termina na secagem da farinha passa pelo último estágio nas mãos de Aristeu.

“A gente faz isso aqui com gosto e o melhor é ver toda a família reunida dedicada na farinha. Eu tenho orgulho de tudo isso e amo o que eu faço”, diz o nordestino de nascimento e sul-mato-grossense de coração.

Bolos feitos com farinha de mandioca são tradição nordestina em Anastácio (Foto: Cleber Gellio)

Os pratos feitos e vendidos durante a festa têm o espírito nordestino, mas nem todos envolvidos tiveram a oportunidade de conhecer a terra dos pais e avós. Mesmo assim, a qualidade dos pratos é aprovada e tudo que é vendido respeita a tradição do nordeste brasileiro.

Ruite Soares dos Santos tem 21 anos e vive com a família no assentamento Monjolinho, situado na região de Aquidauana, cidade vizinha a Anastácio. Neta de baianos, ela aprendeu os famosos bolos de mandioca quando criança e aperfeiçoou as técnicas em cursos de capacitação oferecidos para os assentados.

“A gente cresce comendo mané pelado e tudo quanto é tipo de alimento que vem da mandioca, agora alguns como eu gostam tanto que colocam a mão na massa e se dedicam para aprender cada dia mais”, explica.

Um dos alimentos mais vendidos na barraca da Rute e de muitas outras montadas no evento é o bolo feito com a massa de puba. A matéria-prima é uma massa que demora 15 dias para ser feita, tudo porque a mandioca precisa ficar de molho em água para passar pelo processo de fermentação. Depois a raiz é ralada e seca, a última etapa pode levar até uma semana dependendo do clima.

Bolo de puba é vendido a R$ 3 e é carro chefe de muitas barracas (Foto: Cleber Gellio)
Sorvete de mandioca é criação de morador de Anastácio (Foto: Cleber Gellio)

Rute explica que o bolo de puba não tem segredo, mas garante que é preciso paciência porque dá trabalho. Além da massa de puba, a receita leva ainda três ovos, três colheres de manteiga, meio copo de óleo, coco ralado, meio copo de leite de coco e duas xícaras de açúcar. O resultado é um bolo firme, suculento e bastante saboroso.

Bolos de mandioca, tapioca e biscoitos de polvilho são comuns em casa de nordestinos. Mas o sorvete de mandioca criado em Anastácio é uma atração única da Festa da Farinha. Criado pelo dono de uma sorveteria da cidade há nove anos, a sobremesa surpreende muita gente.

Valdir Barbosa, 30 anos, explica que o doce foi criação do pai e que a sobremesa é muito procurada na sorveteria durante todo o ano. “Sempre pedem o sorvete de mandioca”, diz.

Viagra de mandioca promete animar qualquer um (Foto: Cleber Gellio)

Definir o sabor do sorvete não é tarefa fácil, na verdade, a mandioca nem parece estar ali, mas a cremosidade da massa deixa um leve “gosto diferente” na boca de quem prova pela primeira vez. Durante a Festa da Farinha, muita gente provou e repetiu.

E como dizem por aí que o melhor fica para o final. Eis a grande surpresa do evento que reúne toda a cidade e ainda atrai visitantes de outras partes de Mato Grosso do Sul: o viagra de mandioca. A bebida, que dizem ser afrodisíaca, é vendida como “batida”, mas a maioria que procura a barraca da Ruth Maria, de 42 anos, está em busca mesmo é do viagra.

A receita é tão simples que causa até espanto. Para fazer a bebida Ruth usa um copo de mandioca cozida, uma lata de leite condensado, um copo de pinga, três copos de água e gelo. O resultado é uma bebida que nem de longe parece ter gosto de mandioca, mas que a tradição diz ter a capacidade de animar qualquer um. “Tem que tomar pra tirar a prova”, completa Ruth.

Nos siga no