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Na onda do parto humanizado, curso ensina doulas a respeitarem limite da mulher

Paula Maciulevicius | 04/10/2015 08:13
Através da oralidade, os ensinamentos são passados para formar as doulas na Tradição. (Foto: Gerson Walber)
Através da oralidade, os ensinamentos são passados para formar as doulas na Tradição. (Foto: Gerson Walber)

Sentadas em um círculo no chão com os pés descalços, mulheres ouvem atentamente às histórias e lições sobre partos realizados. Através da oralidade, os ensinamentos são passados para formar as doulas na Tradição. Em Campo Grande, o Cais do Parto (Centro Ativo de Integração do Ser) esteve por quatro dias ministrando aulas no Gayatri Spa, para futuras doulas aliarem as técnicas de massagem e exercícios, aos elementos da natureza.

"A doula na tradição trabalha com chás, rezas, a energia do parto. Preparamos o ambiente, porque sabemos que é um espírito que está chegando à terra e é importante ter a harmonia no parto", explica a doula na Tradição e ministradora do curso, Marla Carvalho, de 42 anos. Socióloga por formação, ela e a irmã Marcely viajam o País levando formação de doulas e parteiras. A mãe delas, Suely Carvalho, quem fundou há 25 anos a Escta "Escola de saberes, culturas da tradição ancestral das parteiras", na Bahia. 

Numa voz serena, mas firme nas palavras, Marla descreve que toda essa preparação do ambiente é porque as doulas na tradição acreditam que o parto não é só uma questão fisiológica. "A gente veio trazendo de volta para a cidade, fazendo o resgate do parto ligado à natureza, à ancestralidade", narra Marla.

No acompanhamento com as doulas na tradição, essas emoções começam a ser trabalhadas toda a semana a partir do quarto mês de gestação. Onde casais grávidos se reúnem para falar sobre tudo, desde relacionamento, vida familiar e finaneira.

 

Carol, mãe e estudante de Psicologia, recebeu o chamado para ser doula quando teve Manoel. (Foto: Gerson Walber)

"Quando chegar a hora do expulsivo, é essencial que a mulher esteja tranquila e ali a mulher pode travar. Nós trabalhamos para que ela se autoconheça, como a vagina, por onde passa o bebê é um órgão sexual, ele traz muitas lembranças", resume a doula.

Na onda do crescimento do parto humanizado, Marla vê também crescer o ativismo e a ideia de que a mulher precisa, a todo custo, ter um parto pela via normal. "Se coloca que tem que nascer de parto normal. Dentro disso o parto dura dias, é um processo longo, mas não deve levar dias. E as sequelas para o bebê? A gente entende que tem um limite para a mulher. Se esse parto dela não foi assim, o próximo será", enxerga Marla.

Em quatro dias de curso são trabalhados com as alunas o autoconhecimento. Desde a história de vida das futuras doulas, dos pais e dos partos da mãe, para entender como ela veio ao universo. Também são repassadas técnicas de massagem, melhor posição de parto, as rezas, os rituais e como é atividade de uma doula da tradição no hospital e em casa.

Terapeuta e parteira na Tradição Caroline, ao lado da ministrante Marcely Carvalho, falam de autoconhecimento. (Foto: Gerson Walber)

"Ser doula é receber um chamado. Tem que se doar", enfatiza Marla. Depois de terminado o curso, as novas doulas na tradição passam um período estagiando em partos e acompanhada pela representante da escola aqui. Foi atendendo a esse chamado que a estudante de Psicologia, Carol Oruê, de 22 anos, se sentou para aprender sobre a natureza e a ancestralidade.

A experiência de um parto humanizado e domiciliar dela foi há 9 meses, com o nascimento de Manoel. "Ali eu vi que poderia ajudar outras pessoas. É uma experiência tão boa", descreve. A escolha pela "Tradição", veio a partir das histórias de família. "Isso da ancestralidade, os partos da minha avó, meu avô fez. Eu acredito na força da natureza, do natural", diz.

O curso foi trazido a Campo Grande pela terapeuta e parteira da Tradição, Caroline Abreu Figueiró. De currículo extenso, Caroline exerce "Ayurveda", a Medicina Indiana e está à frente do Instituto Gayatri Spa. Depois de um ano todo dedicado à viagens e estudos da ancestralidade do parto, Caroline quer começar a própria equipe de parto domiciliar e rodas de casais em Campo Grande.

"Há anos batalho por concepção e nascimentos com amor e respeito à natureza individual de cada ser que vem a vida! Foi um tempo árduo de muita solidão, em uma época em que o nascimento não tinha os holofotes de hoje", descreve Caroline. Para ela, todo esse processo é mais que parir. "Na verdade é um movimento profundo de cura, aprendizado evolucional e libertação para todos os envolvidos, e começa meses antes da concepção, se estende no parto e no puerpério".

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