Faz Bem!

Em equipe iniciante, repórter sedentário experimenta horas de rally a pé

Elverson Cardozo | 15/12/2014 06:34
Início do percurso, no trilho. (Foto: Elverson Cardozo)
Início do percurso, no trilho. (Foto: Elverson Cardozo)

Eu tinha apenas duas opções neste domingo (14): Fazer meu plantão de 10 horas na redação, estando sujeito a cobrir qualquer coisa que viesse a surgir, ou trabalhar fora dela, ao ar livre. A segunda hipótese tinha uma condição: participar de um esporte de aventura e, depois, contar a experiência aqui no Lado B.

Não pensei duas vezes. Decidi abandonar o computador para curtir a natureza. Mas fiz isso, confesso, para fugir da rotina mesmo e não porque gosto de me exercitar. Na minha vida de sedentário, assumido, esporte não e lá uma prioridade. Detesto. De aventura, então, dá para imaginar o nível do ódio.

Mas ignorei o fato, já consumado, e resolvi encarar o "Trekking de Regularidade", também chamado de "Enduro a pé" ou, simplesmente, "rally a pé". "Ah, é algo novo para mim", pensei antes, tentando me convencer. Sinceramente, ainda não sei se saí em vantagem porque, enquanto escrevo essa matéria, de casa, sinto minha virilha, coxas, e até o cóccix latejarem. Estou um trapo. Morto de casado. Nunca andei tanto na vida. E olha que foram só 6 quilômetros.

Equipes precisam se localizar com planilha, bússola e cronômetro. (Foto: Elverson Cardozo)

Mas 6 quilômetros no meio do mato, com "sol de estalar mamona", e pisando em pedra, no barro, pulando cerca, desviando de galhos, de vacas e de outros obstáculos. Na teoria, o percurso tem apenas um quilômetro a mais do que os 5 km que eu já me acostumei a fazer quando a calça aperta na cintura. Mas isso nem se compara.

Caminhar no asfalto, em terreno plano, é uma coisa. Fazer percurso equivalente em área de desnível é outra, e bem mais complicada. Isso reflete no tempo de finalização, que acaba sendo mais que o dobro. Mas é essa a graça do Trekking.

A modalidade é definida como uma caminhada esportiva, onde um grupo, formado por 3 ou, no máximo, 6 pessoas, percorre uma trilha com o auxílio de uma planilha de navegação, contando passos, fazendo uso de cronômetro e, inclusive, de uma bússola.

Monitor usa camisa azul e fica atento aos atrasadinhos. (Foto: Elverson Cardozo)

O caminho precisa ser desvendado com ajuda de pontos de referências, destacados, na planilha, por pequenos desenhos (cerca, pé de coqueiro, casa, etc.). O trabalho é em conjunto. Para dar certo, cada integrante assume uma função.

Tem o “Navegador”, que interpreta a planilha e faz a condução do grupo, o “Condutor de passos”, que mede as distâncias em metros ou passos, além do “Calculista”, que dá ritmo à equipe, medindo se as distâncias estão sendo percorridas no tempo adequado, fora o “Homem Bússola”, responsável pela orientação e direção da trilha a ser seguida.

No meu grupo, apenas três pessoas: eu, o estagiário do Campo Grande News, Adriano Fernandes, e a jornalista Flávia Vicunã. Nenhum dos dois conheciam o esporte. Eram, portanto, iniciantes e complemente inexperientes.

Pelo número reduzido de integrantes, acumulei funções. Me tornei "Navegador" e "Calculista". Flávia assumiu o posto de "Condutora de passos" e Adriano tornou-se o "Homem-Bússola". Não adiantou muita coisa. De cara, erramos o caminho.

Prova de escrita japonesa. (Foto: Elverson Cardozo)

A sorte é que, durante todo o trajeto, monitores acompanham as equipes de longe e em pontos estratégicos. Eles não entregam o jogo, mas mostram, pelo menos, uma luz no fim do túnel.

Com o passar do tempo, pega-se o jeito e aí, sim, caminha-se com as próprias pernas. E como caminha. A trilha, para um ansioso como eu, parece interminável. A vontade é sentar e não levantar nunca mais.

Não bastasse isso tem as provas que precisam ser cumpridas quando se chega a determinados locais. Em uma deles, o desafio era fazer um circuito equilibrando, na boca, uma colher com um ovo em cima. Na outra, foi necessário reproduzir uma escrita em japonês.

A única parada é para um descanso de 15 minutos e um lanche rápido, a base de banana, bolinho de maça com castanhas e água. Depois, "sebo nas canelas". Em determinado momento, o cansaço começou a ficar insuportável. Me senti franco e tive calafrios. Mas resisti.

A pausa de 15 minutos e o lanche, com banana e bolo de maçã e canela. (Foto: Elverson Cardozo)

Em aproximadamente 2h25, eu e minha equipe chegamos ao destino final. Na competição deste domingo, um rio era a surpresa. Para que começou a caminhar às 9h e só parou às 11h25, o banho de água fresca foi mais que um alívio.

O retorno para o almoço - churrasco e porco no rolete - foi na carroceria de um caminhão. De volta, "quebrado", mas vivo, pensei em como foi bom abandonar o computador e o ar-condicionado da redação. Se vou voltar, não sei. Mas já posso dizer que vive uma aventura.

A chegada no rio, destino final. (Foto: Elverson Cardozo)
Tênis voltam imundos. (Foto: Elverson Cardozo)

Meus companheiros de caminhada não tinham plantão neste domingo, mas adoraram a experiência.

"Por mais que você faça uma caminhadinha, alguma coisa, quando você encaram uma trilha dessa, de duas horas, andando em terreno íngreme, é diferente. Mas é extremamente relaxante. Acho que você se desestressa. No final a gente já estava louco para parar, de tão cansando. Aquele riozinho foi um deleite. Acho que super vale a pena. É uma atividade diferente. Quebra completamente sua rotina. Curti. Curti muito", destacou a jornalista Flavia Vicuña.

Para Adriano, o que mais valeu a pena na atividade foi o relaxamento. "Por um dia a gente esquece a rotina corrida do dia a dia, se exercita, diverte, se aventura e tudo isso em sintonia com a natureza. Não me lembrei de nada da minha vida enquanto estava na prova. Só pensava em descobrir o percurso e me divertir. Você sai com as energias renovadas".

Mas o exercício, completa, foi puxado. "O corpo sente. Chegou uma hora que deu falta de ar, calafrios. O final nunca chegava. Vou ficar sem andar por uma semana, mas tudo bem. Valeu a experiência", exagera.

A prova de ontem foi realizada pela empresa EDA (Espírito de Aventura Brasil) e aconteceu na Colônia Jamic, a 23 quilômetros de Campo Grande, na entrada do município de Terenos. O desafio reuniu, no total, 11 equipes.

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