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Em canteiro de obras, horta do seu Zé abastece prato de funcionário e patrão

Paula Maciulevicius | 25/06/2016 08:23
Em pleno canteiro de obras da construtora, José Lino arrumou espaço e tempo para cultivar uma hortinha.(Foto: Alcides Neto)
Em pleno canteiro de obras da construtora, José Lino arrumou espaço e tempo para cultivar uma hortinha.(Foto: Alcides Neto)

Tem pelo menos 20 anos que seu Zé é companhia diária para a família Sangalli através da enxada. Se não é na jardinagem, é na construção. Depois que migrou do jardim para o cimento, ele tem levado um pouquinho do que mais gosta para dividir com os colegas e patrões. Em pleno canteiro de obras da construtora, José Lino arrumou espaço e tempo para cultivar uma hortinha.

Dos 64 anos de vida, 30 deles foram exercidos fazendo jardins. O verde da horta de seu Zé chamou atenção de Tathyane, arquiteta do escritório e a segunda geração a trabalhar junto dele. Foi ela quem procurou o Lado B, por acreditar que José merecia uma homenagem.

"Nas obras no geral, canteiro é sempre bagunçado e de repente ele levou mudas despretensiosamente", descreve Tathyane Sangalli, de 41 anos. A construção fica no bairro Coronel Antonino e desde a fachada já tem dedo do seu Zé.

Dos 64 anos de vida, 30 deles seu Zé exerceu fazendo jardins. (Foto: Alcides Neto)

Próximo ao muro o servente plantou quiabo e até melancia. A fruta já deu colheita, o quiabo, ainda está crescendo pela segunda vez. O processo de plantar e colher tem pouco mais de seis meses, logo que a obra começou.

"E essa brincadeira envolveu todos os meninos da obra. Seu Zé vai, chega mais cedo, curte fazer aquilo e depois divide. Todo mundo sai de lá com um pouco para casa e geralmente os funcionários não comem tanta verdura, mas agora tem alface, couve, tempero", conta Tathyane.

As hortaliças precisam dar colheita em até nove meses. É o tempo que leva para a obra ficar pronta. De início, o verde era maior, mas a construção chegou e ainda deve chegar até o pequeno espacinho onde está previsto o estacionamento. 

Alface para seu Zé e todo mundo que quiser. (Foto: Alcides Neto)

E é o dono da horta quem enumera o que plantou ali: alface, almeirão, quiabo, couve, cebolinha e mamão. "Eu planto até lá fora, já deram 12 melancias e ninguém roubou da rua. Acho que ficaram com dó de mim", brinca José Lino Honorato.

Mineiro de Belo Horizonte, a jardinagem ele conta que aprendeu sozinho mesmo. "Isso aí é só não ter preguiça de inventar coisa pra fazer", justifica a horta.

Os cuidados são dados nos dias de sábado e domingo, ou quando chega cedo, antes do expediente começar. No fundo tem até amendoim.

"Só não tem planta no fundo do quintal quem não quer. É muito fácil, você compra muda envelopadinha, faz um canteiro na sombra, semeia a semente, agoa duas vezes por dia e quando ela tiver entre 5 e 10 centímetros, muda elas para a terra", explica seu Zé.

Para a terra, nem adubo ele usa. É só a cinza que o próprio servente queima na obra e mistura. "Aqui os nossos patrão leva quiabo. Não é só pra gente não. Tinha quem pensava que nem era terra e que ia dar alguma coisa", relata.

O sonho dele é ter 1 hectare para plantar algo para a região. Não só para si, mas dividir com quem quiser. "Felicidade pra mim é isso, trabalhar honestamente, para não deixar ninguém falar e a terra para dar alguma coisinha assim".

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O verde no meio do canteiro chamou atenção da arquiteta Tathyane. (Foto: Alcides Neto)
Quiabo ainda na horta. (Foto: Alcides Neto)
O amendoim já dá pra comer. (Foto: Alcides Neto)
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