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Autotestes de HIV encalham nas farmácias, mas tem especialista que acha isso bom

Reação ao "positivo" pode ser muito perigosa quando a pessoa recebe a notícia sozinha, sem suporte psicológico

Thais Pimenta | 19/12/2017 06:20
Exame tem 99,9% de eficácia. (Foto: Divulgação)
Exame tem 99,9% de eficácia. (Foto: Divulgação)

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) liberou a venda dos exames de autoteste para detecção do vírus HIV no Brasil em novembro deste ano. Cerca de um mês após a liberação, apenas uma rede de farmácias o vende em Campo Grande.

A procura pelo teste tem sido pequena e não dá para definir se o fator mais alarmante é a falta de interesse das pessoas pela própria saúde ou a reação de quem recebe um diagnóstico positivo para a doença sem ninguém ao lado ou qualquer suporte psicológico.

A facilidade foi lançada justamente com a intenção de popularizar o processo, mas surgem pontos negativos e positivos nessa história. Ao contrário da maneira convencional, quando a pessoa busca o autoteste, se depara com o resultado sem a presença de um profissional que garanta informações fundamentais e também o apoio emocional.

Para o infectologista Rodrigo Coelho, fazer o exame em centros especializados ou a opção pelo autotestes é uma decisão pessoal. “O paciente que adquire esse teste já tem alguma necessidade pessoal de saber da sua situação. Saber da sua positividade por um médico ou saber sozinho, é uma decisão dele e cada um deve conhecer as suas próprias reações diante de notícias ruins. De qualquer forma, é preciso se saber que, em caso de positivo, seria necessário uma confirmação”, diz.

Ele reitera que o resultado não é definitivo. Mesmo tendo 99,9% de eficácia, é preciso ir até um infectologista, ou a um clínico geral, para realizar novos exames afim de passar um diagnóstico preciso final.

A novidade, na opinião do médico, é boa. “Vejo mais pelo lado positivo ter o teste rápido na farmácia. Isso poderia salvar a vida de muita gente, antecipando as medidas de controle e tratamento. Saber da sua real situação, sempre o mais cedo possível, é sempre vantajoso”, conta.

Céres Mota Duarte é especialista em Terapia Cognitiva Comportamental. (Foto: Thaís Pimenta)

Para a psicóloga clínica Céres Mota Duarte, especialista em Terapia Cognitiva Comportamental, o grande problema disso tudo é que a maioria das pessoas não consegue identificar sua reação perante situações de crise.

"Ter o resultado positivo em mãos traz impactos psicológicos a curto, médio e longo prazo na pessoa. Já existem pesquisas que comprovam que de imediato a pessoa pode ter uma crise de ansiedade, uma crise nervosa, taquicardia. Logo depois vem os processos de depressão e ansiedade", detalha Céres.

Ela explica ainda que a forma com que pessoa vai pensar e agir em relação ao diagnóstico, tem a ver com os aspectos emocionais e também aspectos cognitivo-comportamentais. "Existem aquelas pessoas que já tem desenvolvidas as Estratégias de Coping, ou seja, as estratégias de enfrentamento da vida. O paciente mais costuma solucionar os problemas que aparecem deve lidar com isso de maneira mais prática, a fim de buscar o tratamento necessário rapidamente".

Mas existem também os que preferem ignorar, agindo de forma a excluir essa notícia da rotina. "Esses dificilmente vão procurar auxílio médico ou psicológico. A própria doença vai obrigar, no futuro, que essa pessoa se trate". 

Casos mais graves podem levar ao suicídio, conta a psicóloga. "O suicídio não quer dizer depressão. As vezes o paciente não sabe como se livrar daquela dor ou problema e opta por acabar com aquilo. Sem pensar nas consequências acaba tirando a própria vida".

Por isso procurar um profissional da psicologia é tão importante quanto um especilista. "O soropositivo vai lidar pro resto da vida com sentimentos de culpa, de medo, de tristeza, de raiva e angústia. Aprender a deixar essas dores de lado vai ajudar a pessoa no tratamento do vírus", finaliza.

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