Lado B

Em um quintal da Vila Alba, confraria tem comida de boteco ao som do chorinho

Ângela Kempfer e Anny Malagolini | 25/09/2012 12:21
Quintal lotado no último domingo.
Quintal lotado no último domingo.
Quem sabe, ou arrisca, também pode dançar.

No quintal mesmo, do jeito que a música gosta, o casal Jackeline Fernandes e Adriano Praça criou a Confraria do Choro. Ela é socióloga. Ele músico conhecido do Grupo Acaba e agora integrante do Agemaduomi. Juntos dos amigos, os dois passaram a fazer parte da rotina cultural de Campo Grande há 9 anos.

A ideia veio de Cuiabá, onde um amigo abriu espaço para o mesmo tipo de programa. Todos os domingos, a reunião é certa, com cerca de 150 pessoas. “Escolhemos o domingo porque a origem do Choro é no domingo e também porque é uma forma de começar a segundona mais leve”, explica Jackeline.

Na fachada da casa não há placa indicando a roda de Choro, a propaganda é no boca a boca. Quem sustenta o lugar são os associados, com pagamento de 100 reais, a cada 6 meses. Eles garantem desconto na conta, não pagam couvert e têm cadeiras cativas. Jackeline explica que a confraria não rende lucro, apenas “se paga”.

 

“Aqui não tem roda de choro, tem roda de amigos. A nossa intenção é fomentar o choro, não ganhar. A idéia da confraria é de quem quiser entrar na roda está convidado”, lembra.

 

O choro começa às 19h30 e termina até a meia-noite, para não incomodar os vizinhos, na Vila Alba, um dos bairros mais antigos de Campo Grande.

 

Na cozinha, quem prepara os pratos e as bebidas são pai e madrasta de Jackeline. Irmãos, nora, genro e amigos completam o time da Confraria. “É a extensão da minha casa, por conta disso se tornou um ambiente tão familiar e intimista”, diz Adriano, um seresteiro que também passou a tocar chorinho em Cuiabá.

 

Pixiguinha, Paulinho da Viola, Tom Jobim, Chico Buarque...a noite segue assim, de cultura genuinamente brasileira. O choro é mais antigo que a abolição da escravatura. Suas primeiras impressões foram em 1877.

“Isso aqui é o fundo de quintal que faz nascer a música”, resume o músico de final de semana, Lamartine Ribeiro, agora na percussão da Confraria. Contaminado pelo lugar, não satisfeito em apenas ouvir, conta que decidiu tocar. “Fui me encostando no palco, aprendi a tocar e agora não saio mais do palco”.

Na parede, ao fundo do palco, imagens de músicos famosos são mais uma homenagem ao Choo.
Pão e linguiça, porção para acompanhar o programa.
 

O paulista Marcelo Celestino Andrade, 38 anos, é professor de dança de gafieira em Campo Grande e encontra no quintal de Jackeline e Adriano um bom lugar para treinar com as alunas.

“Em São Paulo tem vários locais para dançar. Aqui não. Por isso a Confraria é diferente, me identifico. Aqui o ambiente é mais selecionado, tanto em relação a música, quando aos freqüentadores”.

Com apenas 13 anos, Isadora de Matos já faz aulas de dança de salão e, mesmo iniciante, consegue aplausos em noites de domingo. “Comecei a fazer aula por influencia da minha mãe. Eu fazia ballet, mas enjoei”, lembra.

 

O jornalista Danilo Diniz queria ir a um lugar diferente da maioria, encontrou na Vila Alba. “As pessoas têm comportamentos convencionais nos barzinhos. Aqui não, as pessoas são normais, agem naturalmente.”

Os amigos Lauro Luis e Leco passam a maior parte do tempo ao som do rock, mas aos domingos costumam se encontrar no quintal do chorinho. “Moro aqui perto e um dia, passando, resolvi entrar, Isso já faz 2 anos”, conta.

 

Leco também é cliente por vocação. “Nunca vi nenhuma divulgação. O marketing aqui acontece no famoso boca a boca. É a melhor opção de domingo para o campo-grandense. O clima é de quintal e já tomamos a cerveja para a semana começar bem”, brinca.

A Confraria do Choro fica na avenida Madri, número 1.100, Vila Alba. Quem não é sócio, paga couvert artístico de 5 reais.

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