Diversão

Mesmo sem patrocínio, artistas conseguem montar ópera com estrutura profissional

Mariana Lopes | 12/07/2012 14:25
Mamma Lucia, interpretada pela mezzo-soprano Angela Bessa (Foto: Mariana Lopes)
Mamma Lucia, interpretada pela mezzo-soprano Angela Bessa (Foto: Mariana Lopes)

Cenário, figurino, iluminação, direção, cantores, músicos, figurantes... Enfim, uma estrutura que não deixa nada a desejar às grandes produções de óperas vistas pelo Brasil afora e prestigiada, na noite de ontem, pelo restrito público campo-grandense. O detalhe é que tudo foi produzido sem um centavo de patrocínio do poder público ou de empresas privadas.

O termo “amador”, neste caso, ressalta o amor dos artistas pela arte, que se desdobraram, com o pouco recurso que tinham, para levar aos palcos do Glauce Rocha uma produção que não sairia por menos de R$ 100 mil.

De apoio, a ópera Cavalleria Rusticana contou apenas com móveis emprestados da loja Maria Fulô, da iluminação cedida pela Fundac (Fundação Municipal de Cultura) e a Fundação de Cultura do Estado bancou a hospedagem do diretor mineiro Francisco Mayrink, que dirigiu o espetáculo.

O resto veio de dinheiro conseguido através de promoções realizadas pela escola de canto Cant’Arte e de mão na massa dos produtores Júlio César Balbueno, Beth Vipe e Carina Cardoso, que construíram a maioria das peças que compõem o cenário.

As roupas usadas pelos artistas foram confeccionadas sob medida. “Pesquisamos o figurino da época, compramos os tecidos e mandamos fazer, tudo com muito cuidado”, explica Júlio. No total do elenco são 30 cantores, três instrumentistas, quatro figurantes, nove crianças e seis atores da Trupe Casa de Ensaio.

No canto do palco, uma teclado, um violino e um piado de calda compunham o cenário também (Foto: Mariana Lopes)
Entre cantores e figurantes, no fundo do palco um telão no qual o texto do espetáculo era traduzido simultâneamente do italiano para o português (Foto: Mariana Lopes)

A produção da ópera foi feita em seis meses, entre ensaio, correr atrás de apoio, construir ou reformar o cenário, montar elenco, fazer contatos. “Algumas coisas a gente já tinha, da primeira vez que apresentamos a peça, há quatro anos, isso também ajudou a baratear o custo”, conta Carina.

O dinheiro arrecadado na bilheteria vai para pagar os cantores e o diretor. “É um valor bem abaixo do que um profissional recebe, mas é o que vamos conseguir pagar”, enfatiza Edineide Dias, diretora pedagógica da Cant’Arte. Cada convite é vendido a R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia).

E no meio de toda a dificuldade em realizar o espetáculo, com toda a pompa que ele merece, Edineide, idealizadora do projeto, esbarra em outro desafio: o público. “Estamos em um estado sertanejo, então temos que convencer de que ópera é bom, que não é uma arte ultrapassada”, diz.

Pela primeira vez assistindo a um espetáculo de ópera, o estudante de Direito Danilo Mandetta, 21 anos, conversou com a reportagem do Campo Grande News arriscando cantarolar algumas respostas em lírico, de tanto que gostou. “A produção foi bem maior do que eu imaginei e os artistas corresponderam à minha expectativa”, conta.

Embora tenha intimidade com as artes e cultura, o estudante confessa que antes tinha certo receio de investir em espetáculos de ópera. “Na verdade, não sabia se eu ia gostar e achava meio caro para o pouco tempo que iria desfrutar. Mas valeu a pena, pretendo vir mais vezes a espetáculos assim”, diz.

Para o diretor Francisco Mayrink, que está em Campo Grande há uma semana para finalizar os ensaios do espetáculo, apesar da cultura de gado e sertaneja, a cultura erudita, aos poucos, está se inserindo no cenário cultural de Mato Grosso do Sul.

E ao contrário do que muitos pensam, Francisco dá a dica: “Ópera é popular, não é coisa de elite, além de conseguir agregar todas as artes no mesmo palco, como a dança, o teatro, o canto, os instrumentos”.

A ópera Cavalleria Rusticana, encenada em comemoração aos 15 anos da escola Cant’Arte, será apresentada também nesta quinta-feira (12), às 20h, no teatro Glauce Rocha. Os convites podem ser comprados na hora, na bilheteria do teatro. O drama conta a história de um triângulo amoroso entre Lola e Santuzza, que brigam pelo amor de Turiddu.

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