Diversão

Mais importante que título, quadrilhas são as cores, ritmo e tradição do Arraial

Concurso teve cinco concorrentes neste ano, com figurino, música e história, cada um levou levou temas diferentes para a festa.

Kimberly Teodoro | 16/06/2019 09:47
Cores, expressão corporal, música anima e muito arrasta pé fazem parte de uma das maiores manifestações culturais brasileiras: As quadrilhas juninas (Foto: Paulo Francis)
Cores, expressão corporal, música anima e muito arrasta pé fazem parte de uma das maiores manifestações culturais brasileiras: As quadrilhas juninas (Foto: Paulo Francis)

Cores, expressão corporal, música anima e muito arrasta pé fazem parte de uma das maiores manifestações culturais brasileiras: As quadrilhas juninas. E claro, não poderiam ficar de fora do Arraial de Santo Antônio, que neste ano teve cinco equipes em busca do troféu. Mais que levar o primeiro lugar para casa, o que conta para essa turma é a participação, são cerca de vinte minutos em frente ao público, mas que fazem valer os meses de ensaio, dedicação e investimentos que chegam à 4 mil reais.

Cada quadrilha levou um tema diferente para festa, o casamento caipira, um marcador, coreografia e figurino deveriam fazer parte da história narrada por exigência da da Sectur (Secretaria Municipal de Cultura e Turismo). Para o 1º lugar, o prêmio em dinheiro é de R$ 3, 5 mil, o 2º lugar recebe R$ 2,5 mil e o 3º lugar leva pra casa R$ 1,5 mil.

A “Quadrilha Dona Maria” foi a primeira concorrente a se apresentar, de carroça e com cenário ao fundo, vestidos amarelos e saias esvoaçantes para as mulheres e camisas azuis e lenços xadrezes para os homens, a equipe narra a chegada de Antônio João à Campo Grande.

Quadrilha Dona Maria foi a primeira a se apresentar (Foto: Paulo Francis)
Companhia Saí de Baixo trouxe inspiração do nordeste (Foto: Paulo Francis)

Jeferson de Souza é o responsável pelo texto e roteiro da apresentação inspirada no padroeiro e nos 120 anos da cidade. “Esse ano foi bem corrido, levamos um mês entre os ensaios e a produção do cenário. Cada figurino custou em média 150 reais, mais os cenários. Ao todo deu cerca de 4 mil reais”, conta.

Vindos de Jaraguari, a “Companhia Sai de baixo” foi buscar inspiração nas festas do nordeste e entrou até com a sombrinha de frevo na mão, carregando uma cruz como cenário e até um personagem vestido de balão, vestidos coloridos e camisas amarelas com coletes enfeitados pelas típicas bandeirinhas. Aproveitando para lembrar de São João Batista, eles lembraram a influência do santo nos festejos juninos.

O grupo teve em torno de um mês e meio de ensaio, de acordo com Miller Barbosa, coreógrafo da Companhia Sai de Baixo. “Primeiro escolhemos o tema, as músicas e o figurino. Vamos montando e durante os ensaios, o que não dá certo, vamos alterando”, explica.

Já a narrativa e o figurino ficaram por conta de Raquel da Silva Montealvão, que trouxe da internet as referências para o figurino. De acordo com ela, cada vestido, custou R$ 80 reais a confecção, mais a compra dos tecidos e dos acessórios, no total ficou em torno de R$ 250 a R$ 300 reais.

Rede Solidária apostou na coreografia e adereços mais simples (Foto: Romeu Luz - Sectur)
Narrativa invertida, a Rede Solidária contou a história da noiva fujona (Foto: Romeu Luz - Sectur)

Já a narrativa e o figurino ficaram por conta de Raquel da Silva Montealvão, que trouxe da internet as referências para o figurino. De acordo com ela, cada vestido, custou R$ 80 reais a confecção, mais a compra dos tecidos e dos acessórios, no total ficou em torno de R$ 250 a R$ 300 reais.

A Rede solidária, projeto do governo do estado que atende crianças a partir dos 5 anos até adultos, com arte e oficinas de música, participou pelo segundo ano da competição e dessa vez apostaram na coreografia e no figurino. Usando oxford como tecido para os vestidos longos e saias rodadas, com acessórios feitos pelos próprios alunos para dar o toque final.

Como enredo, a quadrilha resolveu inverter o tradicional conto do noivo fujão e levou para festa uma noiva aventureira, que ao som de “Barquinho” do grupo tradição, deixou o futuro marido de plantão no altar e foi bater perna por Campo Grande. Contando mais com o carisma, as expressões corporais e coreografia que levou 20 dias para ficar pronta, do que com cenários e apetrechos, os gastos da Rede Solidária ficaram em torno de 1 mil reais, arrecadados através de padrinhos e doações.

"Pega Fogo" levou homenagem às festividades juninas (Foto: Romeu Luz - Sectur)

O “Grupo Pega Fogo” da Escola Municipal Consulesa Margarida Maksoud Trad levou uma homenagem às tradições juninas para o público. Com músicas e coreografias que relembraram festejos do século passado com coreografia mais lenta e ritmada, adicionando canções mais modernas à medida que dança progredia. Cláudio Ovando Piuna, conta o noivo foi o personagem central. “Ele tem na memória com foi o seu casamento e como foi brincar o festejo junino nessa época, então ele retorna ao sertão em busca disso novamente, mas quando ele chega lá, é um festejo mais estilizado, mais moderno. Mas ele também percebe que ainda existe o colorido e a música e se satisfaz com isso porque a tradição ainda se mantém”.

Foi necessário três semanas de montagem, incluindo escolha do tema, músicas e coreografia, tudo feito com investimento próprio. “Não contamos com apoio, então cada um se dedica tanto que no final o próprio prêmio não cobre os nossos gastos com figurino, transporte. Reduzimos bastante esse ano, mas gastamos em torno de R$ 3,5 mil a R$ 4 mil”, diz Cláudio.

Paulo Ricardo Gomes, participa da quadrilha da escola desde a quinta série, quando uma das professoras, vendo a dificuldade em quebrar a timidez, fez um convite para que participasse da quadrilha. “A partir daquele momento eu fui vencendo as barreiras, perdendo a vergonha e foi onde consegui fazer amigos. A animação e amizade que fica é muito bacana, com a separação da rotina, é na dança que nos reencontramos”.

Explosão Aquícola veio de Dourados representando a UFGD (Foto: Romeu Luz - Sectur)
Quadrilha levou protesto e mensagem de esperança ao público (Foto: Romeu Luz - Sectur)

Representando Dourados e a UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), a Santo Antônio Explosão Aquícola se prepara para a apresentação há cinco meses e resolveu acrescentar à manifestação cultural uma mensagem política. Com narrativa que começa no cangaço de Virgulino e Maria Bonita, a história traz um grupo de retirantes que, cansados da vida de cangaceiros, procura uma “vida normal” no garimpo de uma cidade esquecida chamada Taperoá, na Paraíba. Quando o grupo finalmente recomeça e se estabelece no novo lar, uma das barragens da mineradora que explora o local se rompe, “lavando” a apresentação com lama.

“Só em Taperoá são 127 barragens que estão para estourar ainda esse ano, um risco altíssimo. Homenageamos as vítimas aqui hoje, mas tentando abrir a consciência das pessoas de que quando você procura a empresa, se dedica ao trabalho, mas quando morre há um descaso total. Por enquanto foi Mariana e Brumadinho, mas quantas mais serão?”, explica Wanderson da Costa, diretor criativo da quadrilha.

Yasmin Casa Dias, foi a noiva da quadrilha, ela conta que o grupo encomendou os figurinos do Paraná e todos os gastos, incluindo a viagem para Campo Grande, foram pagos com recursos próprios e mobilizações, rifas e arrecadação de dinheiro. Tudo para “além da dança e da cultura, também mostrar a desvalorização da vida, viemos por uma questão de protesto”.

As apresentações duraram dois dias com as quadrilhas finalistas retornando no sábado (15) para a grande final. Considerando o enredo, o casamento, o figurino e a coreogradia, a Rede Solidária ficou em 1º lugar, Explosão Aquícola em 2º lugar e Sai de baixo em 3º.

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