Diversão

Desfiles das escolas de samba do grupo especial atraem 12 mil à Praça do Papa

Elverson Cardozo | 18/02/2015 05:09
Primeiro carro da Igrejinha. (Foto: Marcos Ermínio)
Primeiro carro da Igrejinha. (Foto: Marcos Ermínio)

Cerca de 12 mil pessoas, segundo estimativa da PM (Polícia Militar), compareceram ao segundo dia de desfiles das escolas de samba em Campo Grande. O evento, que reuniu as agremiações do grupo especial, aconteceu na noite desta terça-feira (17), na Avenida Alfredo Sacaff, ao lado da Praça do Papa.

Como sempre ocorre, houve atraso de mais de uma hora, mas, de tão acostumado, o presidente da Lienca (Liga das Entidades Carnavalescas), Eduardo de Souza Neto, considerou a situação normal e “dentro do previsto”.

A primeira escola a desfilar, com cerca de 450 integrantes, foi a Deixa Falar, que teve como tema os “Contos, cantos e encantos da Bahia”. A comissão de frente trouxe os 12 orixás, a Iemanjá do Candomblé e o Exú.

O primeiro carro alegórico representou a Igreja Nosso Senhor do Bonfim, com baianas lavando a escadaria. O segundo trouxe São Jorge e Iemanjá da Umbanda. O terceiro foi uma homenagem ao escritor Jorge Amado. Também foram representadas figuras como Maria Machadão e Tieta. Nas alas, expressões culturais, como a capoeira, foram retratadas.

Igreja Nosso Senhor do Bonfim e as baianas da Deixa Falar. (Foto: Marcos Ermínio)

Não houve grandes sufocos, exceto o que a porta-bandeira enfrentou. Ela perdeu um lado da sandália no meio da avenida, mas, firme e forte, continuou desfilando até o final. Chamou atenção, além disso, a presença da Miss MS Gay de 2014, Nicolly Estefanelli, de 20 anos. “Fui convidada”, contou, ao comentar que vê a oportunidade como uma forma de combater o preconceito.

Com o tema “Lendas, mitos e mistérios”, a Vila Carvalho entrou confiante e fez bonito. A comissão de frente, formada por anjos, representava o paraíso, o Jardim do Éden, tema do primeiro carro.

As alas, de fogo e água, que vieram na sequência, ajudaram a contar passagem bíblica, que muitos consideram uma “grande lenda universal”. Além dessa, outras foram abordadas.

O Jardim do Éden da Vila Carvalho. (Foto: Marcos Ermínio)

São Jorge foi o tema do segundo carro. O terceiro representava o Egito e seus mistérios, no mito de Osíris e dos faraós. O último tratava da lenda indígena do “povo de pele vermelha”.

Mas não foi só isso. Teve a ala do baralho, dos signos do zodíaco, entre outras. Ciganas chamaram atenção e os integrantes com fantasias de luxo arrancaram aplausos.

André Kevin, desfilando como Oxum, a Deusa do Ouro. (Foto: Marcos Ermínio)

Por alguns momentos, André Kevin, de 20 anos, roubou a cena. Representando Oxum, a Deusa do Ouro, o rapaz vestia dourado dos pés à cabeça. Desfilou com uma saia rodada, bastante armada, e com um corpete cheio de pedrarias.

Teve como acessórios seis anéis, um par de brincos enormes, um maxi colar de strass, além de unhas postiças azuis. Completou a produção com uma “cabeça” gigante, também dourada, que praticamente escondia os olhos.

Na avenida, sambou como poucos e arrancou aplausos da platéia. “Eu desfilo desde criança. Fui da ala das crianças, da bateria, já fui passista e hoje sou carnavalesco de luxo. Quando a gente vai fazer um personagem, tem incorporar, acertar a passarela e saber agradar o público”, ensinou.

Ela era apenas um dos cerca de 600 integrantes que desfilaram pela Vila Carvalho, segundo estimativa do presidente da escola, José Carlos de Carvalho, que ficou satisfeito com o resultado. “Gastamos mais de R$ 86 mil”, revelou.

A Catedráticos do Samba, presidida por Marilene Pereira de Barros, teve orçamento mais modesto. Na avenida, as comparações são inevitáveis e a diferença é visível, a começar pelos carros, que quase não saíram do lugar de tão estragados.

Catedráticos relembrou de outros carnavais. (Foto: Marcos Ermínio)

Os carnavalescos fizeram uma homenagem à própria escola, com o tema “Trinta e sete anos de Catedráticos – Quando Deus quer o homem sonha e a obra nasce. Exaltações aos samba-enredos que fizeram sua história”.

Cerca de 450 pessoas, que desfilaram, ajudaram a relembrar dos 10 últimos samba-enredos. O abre-alas trazia uma águia, símbolo da Catedráticos. O segundo carro foi em homenagem a Delinha, que não pode ir e foi representada pelo filho, o músico João Paulo Pompeu, de 45 anos.

A cantora e o marido dela, Délio, que já faleceu, foi tema da escola em 2005. O terceiro carro falou da África, relembrando o enredo de 2008. O quarto, e último, foi do Corinthians.

Picolé foi o homenageado da Unidos do Cruzeiro. (Foto: Marcos Ermínio)

A Unidos do Cruzeiro falou, de certa forma, do mesmo assunto, mas em um tema único, bem definido: “Vida, trabalho, futebol e samba, 10 anos de saudade”. Foi uma homenagem a João Renato Pereira Guedes, o “Picolé”, carnavalesco de Campo Grande, fundador da escola, que morreu há uma década.

Para viúva de Picole, Aparecida Gomes, desfile foi emocionante. (Foto: Marcos Ermínio)

A viúva dele, Aparecida Gomes da Silva, estava emocionada. “É uma emoção forte. Ele era muito ligado às escolas de samba. Não era só a nossa”, relatou. Picolé faleceu aos 63 anos. Sofria de câncer.

Além de gostar de carnaval, João Renato, contou a esposa, tinha paixão pelo futebol. A ala do Operário Futebol Clube (onde ele jogou) tinha essa referência. O restante evidenciava o “Picolé” trabalhador, querido e admirado por muitos.

Uma delas, inclusive, era a da saudade. Os carros alegóricos também ajudaram a contar a história do carnavalesco. Em um deles, em formato de pandeiro, o irmão de João desfilou.

A última agremiação entrar na avenida foi a Igrejinha que, este ano, teve como tema “Tia Eva – lutas, crenças e sonhos”. A escola parecia a mais aguardada pelo público, que vibrou só de ouvir a introdução da bateria. Chamou atenção a caracterização dos ritmistas e rainha, bastante confiante.

Comissão de frente da Igrejinha. (Foto: Marcos Ermínio)

Na avenida, cerca de 600 pessoas, segundo estimativa da presidente, Mariza Fontoura Ocampos, ajudaram a contar a história de Eva Maria de Jesus, a Tia Eva, ex-escrava. A comunidade que leva o nome dela também foi retratada.

Mariza puxou o desfile e apresentou a escola. A comissão de frente, formada por artistas regionais, fez uma releitura da procissão de São Benedito. Majestoso, se comparado aos outros, o primeiro carro, representou a abolição da escravatura e trouxe duas mãos livres dos grilhões.

Bateria da Igrejinha. (Foto: Marcos Ermínio)

O segundo, que teve o carnavalesco Carlos Flores como destaque, falou sobre a trajetória de Tia Eva e carregou alguns dos descendentes da ex-escrava. O bisneto dela, Michel, desfilou. O terceiro foi uma réplica da capela construída para São Benedito. O último falou sobre a força do negro.

Nas alas, mais história. Teve a da alegria, da exaltação da fé, a do sagrado, do profano, entre outras. Foram 14 no total.

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