Diversão

Colônia de Férias diferente, com Dia da Beleza e Moda para quem não pode pagar

Elverson Cardozo | 17/01/2013 08:54
No salão, Natália chegou com o cabelo ondulado e saiu com as madeixas lisas. (Foto: Elverson Cardozo)
No salão, Natália chegou com o cabelo ondulado e saiu com as madeixas lisas. (Foto: Elverson Cardozo)

Natália Neri Vitoriano Chagas, de 8 anos, chegou com o cabelo ondulado, sentou na cadeira e, depois de quase 30 minutos, saiu com as madeixas esvoaçantes, brilhando de tão lisa. Estava se preparado para o desfile que teria à tarde. Não poderia fazer feio.

Milena Figueiredo de Moraes, de 9 anos, preferiu fazer a unha primeiro. Exigente que é, pediu francesinha, com esmalte cintilante e com o detalhe em branco. Saiu satisfeita, sorrindo, feliz com o resultado.

A amiga, Rafaela Ticiane, que tem a mesma idade, ocupou a poltrona logo em seguida. Também queria dar um trato na cutícula. Deixou lixar, aparar, cutucar, fazer tudo. Saiu ainda mais bonita, cheia de auto-estima.

Kaik Alexandre, de 7 anos, não teve dúvidas. Chegou decidido a cortar o cabelo. Cortou e voltou a fazer peraltices no meio dos colegas que se divertiam com os legos.

No meio do salão, desfilando de um lado para o outro, Erika Rodrigues, de 8 anos, não se intimidou na hora de pedir uma foto. À essa altura, de sombra lilás e com o cabelo cuidadosamente enrolado para formar os cachos, ela pousou para o retrato, sem nem se importar com o resultado final. Ficou linda, como era de se esperar.

A manicure e a cliente do dia. (Foto: Elverson Cardozo)

No salão improvisado, minutos antes, na mesma poltrona onde Kaik cortou o cabelo, a pequena Vitória, de 6 anos, parecia incomodada com o barulho e o calor provocado pelo secador, mas aguentava firme, em pé, enquanto fazia a segunda escova de sua vida. A primeira foi na casa da avó, há 1 ano aproximadamente.

Os cachos, depois de muita braçada e paciência, se soltaram. Durante o trabalho, se dividindo entre a concentração de se manter bela e o esforço para responder ao o repórter insistente, quase inconveniente, que não parava de questionar, Vitória contou que não lembrava há quanto tempo está ali, mas estimou: “Acho que uns 20 anos”, disse, numa inocência capaz de encantar qualquer adulto ranzinza.

A declaração provocou risada alta dos mais crescidinhos, mas ela manteve o discurso. Um dos recreadores, notando o “ato falho” da menina, tratou logo de explicar: “Ela está aqui só para a colônia de férias”.

Colônia - É a primeira promovida pela Alpa (Associação Lar do Pequeno Assis), no bairro Tiradentes, em Campo Grande. A entidade é administrada pela Arquidiocese de Campo Grande.

Vitória, de 6 anos, sofreu para alisar o cabelo. (Foto: Elverson Cardozo)

As crianças e adolescentes atendidos na casa carregam histórias singulares, às vezes parecidas, mas, no geral, elas precisam de carinho, atenção e dedicação. Foi pensando nisso, no bem estar dos pequenos e na idéia de não deixá-los na rua no período de férias escolar, que a instituição resolveu promover a primeira colônia de férias sob a administração da Alpa.

As atividades começaram no dia 7 de janeiro e terminam no dia 2 de fevereiro, com apresentação dos trabalhos feitos pelas crianças durante o período de brincadeiras. O cronograma, para mais de 1 mês de trabalho, inclui gincana, acampamento, piquinique, noite do pijama, visita ao recanto São João Bosco, passeio ao parque e os “dias”: das profissões, da cultura, compras, arte e louvor. Ontem (16) foi o Dia da Beleza e Moda.

A ação envolveu cerca de 70 crianças, entre alunos matriculados no Lar e participantes das oficinas. Um time de voluntários se juntou aos funcionários da casa para garantir a abertura do salão improvisado e dar início às “transformações” encomendadas pela criançada.

Cabeleireira há 3 anos, Maiza Socorro de Lira, 35, chegou às 8h e até às 12h já havia atendido cerca de 10 crianças. A agenda, no salão onde trabalha, estava cheia, mas ela preferiu doar parte do tempo. “Depois a gente recupera. Compensa. Deus chama e a gente tem que obedecer”, disse, se referindo ao possível prejuízo no negócio.

Erika Rodrigues, de 8 anos, não se intimidou e pediu para ser fotografada antes mesmo do resultado final. (Foto: Elverson Cardozo)
Kaik aproveitou para cortar o cabelo. (Foto: Elverson Cardozo)

Manicure, Silene Maria Cardoso dos Santos, de 42 anos, pensa da mesma forma. Ela já conhecia o projeto, mas nunca tinha participado de uma ação voluntário, até que aceitou o convite de uma amiga.

“Eu acho excelente, elas precisam disso. Além de estar aqui, ter um lugar para serem cuidadas, porque não promover um Dia da Beleza?” afirmou, acrescentando que o trabalho, embora puxado, é recompensador.

Recreador, Renato Brandão, de 27 anos, também partilha do discurso da cabeleireira e da manicure. Há 1 ano trabalhando no local o rapaz diz que ali há realidades diferentes, muitas delas chocantes.

"Todas são muito carentes de atenção, colo, abraço e carinho”, resumiu.

Histórico – O projeto realizado pela Alpa (Associação Lar do Pequeno Assis) existe há aproximadamente 20 anos, mas está sob administração da Arquidiocese de Campo Grande há três. Quem cuida do espaço é a Comunidade de Vida e Aliança Irmãos de Assis.

Trata-se de uma associação civil filantrópica que atende cerca de 150 crianças carentes de 4 a 13 anos, em situação de vulnerabilidade social. No local, em contraturno escolar, elas participam de oficinas de ballet, informática, teatro, catequese, recreação e auxílio nas tarefas escolares. As turmas são dividas por níveis.

Além das atividades recreativas, lúdicas e as oficinas, as crianças recebem café da manhã, almoço e lanche. As famílias das crianças matriculadas no projeto também recebem assistência.

A Alpa sobrevive de doações. Para ajudar, ligue (67) 3028-1955 ou (67) 3352-1955. A conta corrente para depósitos bancários é a seguinte:

Caixa Econômica Federal
AG: 1568
OP: 003
C/C: 1873-9

Serviço - A Associação fica na rua Marrey Junior, 280, bairro Tiradentes, em Campo Grande. Outras informações podem ser obtidas no site www.irmaosdeassis.com.br

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