Diversão

Na fronteira, parques contam história da guerra do Paraguai, do começo ao fim

Paula Maciulevicius | 26/11/2016 07:55
Parque Cerro Corá, em painéis a história da guerra na versão paraguaia. (Foto: Reprodução Facebook)
Parque Cerro Corá, em painéis a história da guerra na versão paraguaia. (Foto: Reprodução Facebook)

Não chegam a ser duas versões, mas cá e lá a história da Guerra do Paraguai é contada sob a ótica dos respectivos heróis. Considerado o mais longo e violento confronto da América Latina, a guerra durou seis anos e devastou o país vizinho. Na fronteira, parques contam, usando como cenário o início e o fim da guerra, de Antônio João a Pedro Juan Caballero.

Esta é a última reportagem da viagem que o Lado B fez à fronteira, a convite da Fecomércio, que discutiu em um seminário estratégias para fomentar o turismo além das compras. Trabalhar o segmento pela ótica da guerra pode ser sim uma saída perante à alta do dólar. Ainda que falte estrutura, sobra história.

O início do tour é em Antônio João, na visita ao Parque Histórico Colônia Militar dos Dourados, a 60 quilômetros da fronteira. A área conta com museu e um acervo de materiais com objetos da guerra, armamentos, réplicas de uniformes, cartas e documentos que informavam os detalhes do confronto e ainda a ossada de Antônio João.

Caminhada de 1km no Cerro Corá conta a rendição e a morte de Solano.
Monumento representa túmulo de Solano López.
Monumento marca local onde ditador paraguaio foi morto.

O nome “Dourados” vem da nascente do rio, que passa ao fundo do parque. “Aqui foi o começo da guerra, onde aconteceu a primeira batalha que deu início à Tríplice Aliança”, explica o guia, soldado Casanova.

Quando Francisco Solano López invadiu o Estado, ainda considerado sul de Mato Grosso, em 1864, as tropas entraram por Bela Vista e chegaram até a colônia que vivia sob comando de Antônio João, com cerca de 200 homens.

“Ele soube disso dois dias antes e avisou aos moradores para que abandonassem a colônia e mandou uma carta dizendo que ele ficaria aqui não com o objetivo de ganhar, mas para retardar o avanço dos paraguaios e assim pudessem dar uma chance dos colonos chegarem até Miranda”, conta Casanova.

Às tropas paraguaias, Antônio João disse que não se renderia e na primeira rajada, morreu. No local, área externa de onde hoje é a casa que abriga o museu, uma estátua dá rosto ao herói, ainda grifada com sua célebre frase: “Sei que morro, mas o meu sangue e de meus companheiros servirá de protesto solene contra a invasão do solo de minha pátria”.

No lado brasileiro, busto de Antônio João. (Foto: Reprodução Facebook)
Memorial abriga bustos, nomes e homenagens aos militares paraguaios.
Árvore histórica onde foram enterrados os corpos de Solano e o filho Pancito.

A colônia foi destruída e os militares paraguaios avançaram dando início à Tríplice Aliança, entre Brasil, Argentina e Uruguai. O Parque fica na BR-101 e abre de terça a domingo, das 8h às 17h, de graça.

Do outro lado da fronteira, a história é reunida onde terminou a guerra, no Parque Ecológico Cerro Corá, reserva natural de 5,5 mil hectares, a 35 quilômetros do Centro de Pedro Juan Caballero, no Paraguai.

“Aqui é muito rico historicamente, por ser onde terminou a Guerra da Tríplice Aliança e onde morreu mariscal heroicamente”, explica a guia paraguaia, Sara Ricardi. Rico em fauna e flora, o parque tem museu, onde painéis contam toda trajetória dos longos anos de guerra – 1864 a 1870 - que terminaram deixando o Paraguai devastado.

“Solano López era o nosso general que comandava o Exército. Eles chegaram aqui nas últimas instâncias, em março de 1870, com poucos soldados, porque Brasil, Argentina e Uruguai se aliaram contra o Paraguai. Quando foram atacados pelas tropas inimigas, o mariscal falou: “morro por minha pátria”, contextualiza a guia.

Considerado herói importante no País, a história do lado paraguaio é passada com muito mais emoção. O tour inclui uma caminhada de 1 km por uma estrada de guaviras, até chegar ao ponto onde foi pedida e negada a rendição de Solano López, sua morte e onde a esposa Elisa Alice Lynch enterrou os corpos do marido e do filho, também general na guerra.

“Ele foi morto neste pequeno riacho. Dizem, mas é mentira, que o fizeram engolir a bandeira. Mas não, colocaram no estômago para estancar o sangue. Pancito, o filho de mariscal foi morto na frente da mãe. Às tropas ele disse: “o general paraguaio não se rende”, conta Sara.

Os corpos foram levados em uma carroça e enterrados, pelas próprias mãos de “madame Lynch”, como era chamada a esposa de Solano López. Hoje o local é marcado pela “árvore histórica”.

Além dos monumentos que marcam onde cada cena ocorreu, um memorial dá nome e rosto aos principais guerrilheiros paraguaios. No local, todo primeiro dia de março tem festa. O parque Cerro Corá funciona todos os dias das 8h às 17h, de graça.

Colônia de Dourados funciona como museu e lazer com a história da guerra pelos brasileiros. (Foto: Reprodução Facebook)
Frase célebre de Antônio João antes da morte. (Foto: Reprodução Facebook)
Museu conta com acervo de documentos e armamentos. (Foto: Reprodução Facebook)
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