Consumo

Mercadinho do tempo do "êpa" não faz mais compras para estoque esgotar e fechar

Paula Maciulevicius | 27/01/2014 06:25
Depois de fazer compras no Paraná e em São Paulo, dono espera o fim das mercadorias para fechar de vez as portas. (Fotos: Cleber Gellio)
Depois de fazer compras no Paraná e em São Paulo, dono espera o fim das mercadorias para fechar de vez as portas. (Fotos: Cleber Gellio)

O Mercado Popular, na avenida Euler de Azevedo já teve açougue, dois caixas na ativa, quatro funcionários e uma fila de clientes. Aberto há 15 anos pelo libanês Nassif Khouri, hoje o dono não faz compras há três meses, no aguardo dos produtos nas prateleiras se esgotarem e ele poder, enfim, fechar as portas.

O local parece já desgasto com o tempo e revela também o cansaço do dono. ‘Seo’ Nassif diz que é “importado” ao contar que veio do Líbano em 1956 e manda que eu faça as contas ao duvidar que ele tem 74 anos. “Nasci em 1939, faça as contas se quiser”. É que de fato, ele não parece em nada a idade que diz ter.

O mercadinho era grande no movimento e nas vendas antes de as grandes redes chegarem tomando espaço. São cinco corredores e quatro gôndolas que hoje estão completamente vazios e em parte, empoeirados.

Nassif diz que fechamento é em parte pela concorrência e também pelo cansaço de 74 anos.

O libanês veio para Campo Grande, onde uma das irmãs já morava em busca de oportunidade. Diz ter a encontrado, além de achar o país maravilhoso. “Pelo menos é calmo, não tem guerras e nem revoluções”, completa.

O primeiro estabelecimento que abriu foi uma firma de doces na Rui Barbosa, região do bairro Monte Líbano. Depois, quando achou o salão que ocupa vago, abriu o mercado que hoje vende de flash de câmera até jogo de bisturi, sem faltar, claro, a Coca-Cola de garrafa.

“Esse flash eu tenho há dois anos, ele vale muito mais, mas eu vendo por R$ 75”, anuncia.

Os motivos do fechamento são dois, a concorrência e o cansaço. “Abriu um mercado aqui e outro lá embaixo, daí ficou muito difícil. Caiu bastante o movimento e depois, eu já cansei um pouco”, justifica Nassif.

Local demonstra que já teve dias melhores. Ao fundo do mercado funcionava o açougue.
Par de sapatos é o último à venda, tamanho 42, por R$ 49,90.

As prateleiras têm de tudo um pouco. Os alimentos e produtos de higiene carregam o preço em si, nas etiquetas que são coladas uma por uma. Já os brinquedos, utensílios domésticos e até um sapato, que restou de todos que foram colocados à venda, tiveram os valores apagados com o tempo.

O par é do tamanho 42 e vendido por R$ 49,90, mas o dono fala que deste modelo é difícil sair, que é o amarrar cadarço, porque hoje todo mundo prefere de fechar e pronto. O sabão em pó Omo é vendido de um outro jeito, leva pra casa a quantidade que quiser. Um quilo sai por R$ 4. “Para facilitar a saída”, argumenta.

O caixa não aceita cartões de débito e nem crédito e não é de hoje. Ele até tentou por um tempo implantar o sistema, mas não compensava. “O cliente vinha pra comprar um cigarro ou um refrigerante e passava cartão. Falar não, a gente não podia”, afirma.

A calculadora é aquela das antigas, que sai o comprovante da conta na folhinha branca. O valor do produto, quanto foi dado pelo cliente e o troco.

Nos tempos de ouro, as compras eram feitas em São Paulo e no Paraná, além do Atacadãoe Makro. Hoje, ‘seo’ Nassif não vai às compras há três meses e espera fechar as portas até o meio do ano.

Pergunto se ele foi feliz ali e ouço um sim saudosista. “Você acostuma, tantos e tantos anos, mas se é para melhor, não tem problema”. Ele e a família ainda estão estudando o que fazer depois que o mercado fechar mesmo. Parado, ele diz que “infelizmente” não consegue ficar.

São cinco corredores e quatro gôndolas, parte delas com produtos já empoeirados pelo tempo.
Nos siga no