Consumo

Galerias da cidade têm de especialista em macacão a mercearia delicada de balé

Paula Maciulevicius | 12/03/2014 06:22
No bairro Santa Fé, na esquina das ruas Antônio Maria Coelho e Nortelândia, galeria existe há dois anos. (Fotos: Cleber Gellio)
No bairro Santa Fé, na esquina das ruas Antônio Maria Coelho e Nortelândia, galeria existe há dois anos. (Fotos: Cleber Gellio)

As vitrines são charmosas, as portas ficam quase sempre trancadas e quem vem abrir, chega com um sorriso de familiaridade no rosto. Por não estarem expostas em grandes centros, ou em shoppings, as lojas de galeria precisam ter um “quê” a mais. Despertar interesse nos clientes e promover entre araras e provadores um ambiente mais íntimo.

O Lado B resolveu criar um roteiro de compras só por galerias de Campo Grande, para mostrar o que essas lojas menores escondem. A busca começa pelo bairro Santa Fé. Na esquina das ruas Antônio Maria Coelho e Nortelândia, há dois anos a empresária Ceane Vincensi, de 28 anos, finalizou a reforma da própria casa. Transformou a residência em quatro lojas e continuou com a casa no fundo. Aproveitando o ponto estratégico para o comércio, ela abriu as portas para uma pequena galeria.

A primeira loja “Spazio Piu Bella” é dela mesma, entre a moda praia, semi-joias, produtos Mary Kay, lingeries e pijamas, um dos diferenciais vem da estilista Gisele Pedrozo. De Dourados, uma arara inteira é destinada aos macacões, saias e vestidos longos de uma malha de querer dormir.

Na loja "Spazio Piu Bella", moda praia é encontrada a partir de R$ 88.
Comércio também oferece marca exclusiva, da estilista Gisele Pedrozo, de Dourados.

O tecido chama “fluity”, não muito comum em roupa, tem uma textura diferenciada e estampas que a dona afirma serem exclusivas de Gisele. E Ceane ainda reforça “ela é daqui, estilista daqui do Estado”, como incentivo para valorizar a arte vinda da terra. As roupas são vendidas a partir de R$ 79.

A empresária conta que a loja é uma filial de Maracaju. Em dois anos e meio de comércio, o que virou chamariz é o fato da rua lateral ser caminho do shopping Campo Grande. Como o fluxo de galeria é diferente dos demais negócios, quem toca a campainha dali, chega procurando algo específico. “Aqui as pessoas entram para consumir mesmo”, afirma.

As lojas são alugadas pelo valor avaliado no mercado imobiliário. Como a região é considerada nobre, o preço mensal é na média dos R$ 1,6 mil. Outro ponto a favor da galeria, não só desta, como das demais que a cidade abriga, é a facilidade de estacionamento. Mesmo sendo uma via movimentada, tem lugar de vaga de sobra, além de um espaço destinado aos clientes, na rua Nortelândia.

“Tem estacionamento e não cobramos por ele. Aqui você encontra coisas com preços tão bons quanto o centro”, enfatiza Ceane. Na loja dela, a moda praia é vendida a partir de R$ 88, de pijamas, tem conjuntos que podem ser encontrados por R$ 35.

E foi pela visibilidade e para que os clientes tivessem estacionamento, que a estilista Rebeca Allegretti mudou a loja “Maria’s Closet” do Jardim São Bento para o Santa Fé.

Dona da Maria's Closet trocou loja de lugar para oferecer estacionamento. Na foto, short jeans sai por R$ 50.
Das quatro lojas, três delas são voltadas ao público feminino e nem assim existe concorrência.

Com roupas femininas e acessórios que vão desde uma baladinha até para ocasião mais especial, a loja é um charme desde a entrada. Tapete, iluminação, a disposição das roupas nas araras, refletem um modo diferenciado de atender. Entre as marcas vendidas estão Raizz, Carlota Costa Lov It e Mais um, com peças a partir de R$ 50, como um dos shorts jeans. 

Das quatro lojas, três delas são voltadas ao público feminino e nem assim existe concorrência. Funcionários e proprietários se cumprimentam e até dizem que um chama o cliente do outro. “Uma coisa chama a outra, uma vem para a loja da Ceane e passa aqui também. Quando a gente vem para galeria, consegue chamar mais atenção do que se tivesse isolado”, explica a gerente da loja Renata Mongenot, Elza Recaldes.

O ambiente é tão íntimo que quando o Lado B adentra, encontra clientes tomando um café nas poltronas. Com uma pegada mais casual chique, para mulheres de 35 a 40 anos, as roupas são das marcas DTA, Sly, Ilícito, entre outras.

“Fazemos o que muitas lojas não fazem, de ligar para a cliente dizendo que chegou uma coleção que parece com ela. Foi feita para ela”, fala Elza. O serviço vai além das ligações, para clientes fieis, a loja leva, antes de por à mostra, roupas para a casa das mulheres.

O atendimento é de segunda à sexta, das 9h às 18h30. Aos sábados, cada loja fecha as portas num horário, mas todas esperam clientes a partir das 9h.

Na galeria do Santa Fé, a terceira porta é da Mercearia. Com exceção das sapatilhas, tudo é feito por Patrícia. De uma bailarina, para outra.

Delicadeza - Quem entra na Mercearia da Dança parece chegar a uma aula de ballet clássico. Só falta a barra. Para os ouvidos mais sensíveis, a música que embala os exercícios está para começar, seguido do “5,6,7,8”, que na dança, é a contagem regressiva para um pliè.

Na galeria do Santa Fé, a terceira porta é da Mercearia. Aberta há quatro meses, a bailarina trocou as piruetas pela customização dos collants, com exceção das sapatilhas e das bijouterias, tudo ali é feito de uma dançarina para outra. Por ela mesma.

Patrícia Signoretti tem 46 anos. Carrega na ponta dos pés a paixão pela dança. Aluna e professora de ballet clássico, ela abriu o negócio na intenção de agradecer. “Tudo aqui foi para devolver o que a dança me deu. Eu escolhi dançar aqui, sempre fiz cursos, porque não posso dançar aqui no Estado? Porque o Centro-Oeste não podia sair daqui e se mostrar para o mundo? Eu amo, a dança é a minha vida”, explica.

A loja tem mais do que artigos para ballet, inclui também dança de salão e do ventre, além de acessórios e roupas para vestir quem se inspira no bailar dos pés e mãos. “É para praticar e usar diariamente, não só por quem dança. Aqui tem tudo o que eu gosto e o que eu queria desde pequena”, descreve.

Bailarina desde os 7 anos e professora desde os 16, ela usa a mercearia para vender sapatilhas, collants, saias, ‘tutu’, sacolas, agendas, livros e o figurino por completo. A maioria das araras é criação de Patrícia ou fruto do trabalho manual sul-mato-grossense, de quem tem ligação com a dança.

Aberta há quatro meses, a bailarina trocou as piruetas pela customização dos collants.

Nas mãos, o collant de renda vinho, pensado, produzido e costurado pela bailarina, custa R$ 120. “Mas tem collant por R$ 50 e por R$ 70”, já adianta antes que a ache o preço salgado.

Ao invés do piso, preparado para a sapatilha não escorregar, um tapete convida às crianças que adoram a loja. “Elas chegam, pegam um livro, sentam e ficam olha mamãe, olha mamãe”, conta Patrícia. Em parte, as meninas ficam em posição de borboleta. Quem já ensaiou coreografias, sabe que se trata de um exercício de ‘chão’.

A mercearia começou a ser pensada em setembro e já abriu as portas em novembro. “As pessoas entram e perguntam, quem foi o arquiteto?” A resposta é: ela e o marido. “Eu planejo, crio, tento ver o que o bailarino gosta. Acho que é porque eu vivi a dança, frequentei escola de dança, grupo de dança, adoro ler sobre dança, acho que é o carinho. Todo mundo diz que é agradável estar aqui”, resume Patrícia. E é mesmo.

A Mercearia da Dança abre de segunda a sexta, das 9h às 11h30 e das 13h30 às 18h. Aos sábados, das 9h às 12h.

Nos siga no