Consumo

Após 42 anos, Du Gezzu está à venda e encerra história da moda no Centro

Proprietário pede R$ 2,5 milhões pelo imóvel na Rua Rui Barbosa, para fim de história que teve até incêndio

Aletheya Alves | 03/06/2022 08:54
Loja Du Gezzu está à venda depois de 42 anos de existência. (Foto: Kísie Ainoã)
Loja Du Gezzu está à venda depois de 42 anos de existência. (Foto: Kísie Ainoã)

Depois de dominar a moda jovem na cidade, resistir ao preconceito e manter as portas abertas até durante a pandemia, Gezo Barboza da Silva, de 68 anos, desistiu de continuar tentando lutar contra vários fatores da modernidade. Colocou a Du Gezzu à venda, depois de 42 anos de história, que teve até incêndio na década de 1990. 

O comerciante se tornou um personagem em Campo Grande. Quem foi adolescente nas décadas de 1980 e 1990, com certeza, lembra do quanto perturbou pai e mãe para comprar um cinto com enorme raio da Zoomp na fivela, ou um sapato "tratorado" da Transport. A loja bombava naquele tempo, em 3 diferentes endereços na Capital, o último na Rua Rui Barbosa, que agora vai dizer adeus. 

Na década de 1990, por exemplo, o prédio da Rui Barbosa, entre a Cândido Mariano e a Maracaju, pegou fogo, queimando, inclusive, todo o estoque da Du Gezzu. 

“Passei por muita tempestade, mas dessa vez, veio tudo de uma vez: crise, doença, desemprego, pandemia, guerra, juntou tudo e ficamos ainda mais no negativo”, ele resume. Com placa de “vendo este imóvel”, o comerciante abriu as negociações e está pedindo R$ 2,5 milhões pelo espaço. 

Proprietário está cobrando R$ 2,5 milhões pelo espaço. (Foto: Kísie Ainoã)

Triste com a decisão, Gezo contou ao Lado B que seu desejo era continuar no caixa da loja até o fim de sua vida, mas que ver todas as contas se negativando mais fez com que ele mudasse de ideia. “Esperar uma semana para vender duas camisetas não dá e estamos assim há bastante tempo. Tudo ficou negativado, é triste para nós”, diz. 

Além das vendas serem mínimas, ele explica que há cerca de dez anos, está com o IPTU atrasado e sequelas deixadas por AVC (Acidente Vascular Cerebral) entraram na lista de motivos para vender o espaço que se tornou até sua casa. Por não confiar na segurança apenas de câmeras, ele passou a morar na loja e já foi filmado até sem roupa para impedir que um ladrão continuasse tentando entrar no local. 

Já era para eu ter parado, são 53 anos aqui na Rui Barbosa e 42 nesse ponto. Há dez anos, eu sofri AVC e fui ficando mais velho, então não aguento mais nada por falta de saúde. Além de que o comércio e as lojas estão parados, não sou só eu", conta Gezo.

Nascido em Itaporã, desde os 18 anos ele vende roupas, primeiro de porta em porta, até abrir a primeira loja na Maracaju, esquina com a Rui Barbosa, com roupas "para quem gostava de coisa boa". 

Sobre sua trajetória, o comerciante lembra que a loja já foi um dos pontos mais famosos de Campo Grande e superou até o preconceito de pessoas que consideravam o lugar como a “casa do capeta”. 

“Eu vi essa cidade inteira mudar. Em 1984, foi a época em que mais ganhei dinheiro. Eu mandava nessa cidade, nas danceterias só dava DuGezzu com todo mundo usando cinto Zoomp e sapato tratorado.”

Conforme o tempo se passou, ele detalha que viu a fama se dissipar e as dificuldades aumentarem devido à sua saúde. “Eu não queria vender mesmo, sou o único comerciante da época que segue vivo, tive 3 AVCs e não fui. Mas fiquei doente e agora preciso parar”, diz. 

Loja ainda mantém roupas e acessórios disponíveis no endereço. (Foto: Kísie Ainoã)

Ele ainda relembra que antes de se tornar uma loja de rock, sua história começou como um espaço de vendas comum. Além do atual endereço, Gezo já vendeu roupas gerais em dois locais, sendo que o rock chegou há pouco mais de 20 anos para também superar crise. 

“Tinha muita concorrência com várias lojas de filiais vindas de São Paulo, elas nem existem mais, mas precisei reinventar. Lembro que fiz uma pesquisa e vi que não tinha loja de rock na época, então criei também, porque sempre gostei.”

Memórias do proprietário são da loja cheia, enquanto nos últimos anos, se tornou vazia. (Foto: Kísie Ainoã)

Tempos depois, o comerciante criou até um canil no endereço da Rui Barbosa, como ele conta. Tudo para conseguir se manter com a loja aberta e, desta vez, nenhuma solução veio à mente. Por isso, chegou o momento da venda. 

Já pensando em como irá viver caso consiga vender o espaço, Gezo detalha que quer se mudar da loja, abandonar as vendas e aproveitar sua vida.  “Quero parar, dar uma passeada por aí com minha moto e aproveitar a vida”.

Gezo quer descansar e aproveitar a vida com sua moto. (Foto: Kísie Ainoã)

Quem tiver interesse em negociar com Gezo, é necessário ir até a loja ou entrar em contato pelos números (67) 99999-5555, 99224-9966 ou 3383-5566.

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