Comportamento

Sonho de ser aeromoça persiste, mas começa com investimento de R$ 3,5 mil, sem emprego certo

Ângela Kempfer | 27/09/2011 13:05
Turma na Fly Company, com 90% de mulheres.
Turma na Fly Company, com 90% de mulheres.

Altura mínima para homens de 1,65m e para mulheres de 1,55m, beleza e personalidade tranquila ainda são pontos para quem quer ser comissário de voo, mas chegar ao embarque como profissional depende de estudo. A preparação começa com investimento de cerca de R$ 2,4 mil, em curso de 4 meses em Campo Grande, mas a conclusão não significa emprego.

Na ponta do lápis, os gastos incluem ainda R$ 170,00 do uniforme – indispensável durante o treinamento, mais R$ 700,00 em exames médicos e R$ 200,00 para prova oficial. No total, quase R$ 3,5 mil.

A fase mais difícil é aprovação em uma prova rigorosa da ANAC, aplicada em Campo Grande, para a licença chamada CHT (Certificado de Habilitação Técnica) e, depois, ser aceito pelas companhias.

Dias de praia durante as horas de folga, hospedagens nos melhores hotéis, conhecer o Brasil e talvez o mundo são os bônus da profissão, mas com as escalas cada vez mais apertadas, com enxugamento nas empresas, o descanso é cada vez menor.

“Muita gente procura o curso iludida”, diz a proprietária da Fly Company, Delci Eger. “Poucos sabem da realidade da profissão que exige muito. A maior parte do tempo, as pessoas ficam confinadas, em um tubo pressurizado”, lembra.

De 100 entrevistas feitas antes da inscrição no curso, ela diz que apenas 10 têm o perfil para o ofício. “Para os outros eu digo para voltar para casa, pensar um pouco e, se realmente quiser, voltar e fazer a matrícula”. Para ela, os alunos ideais têm de ter beleza, jogo de cintura e espírito de servir.

Delci nunca foi aeromoça, mas os dois filhos agora trabalham na área, um é comissário e outro piloto, ambos formados em Campo Grande.

Durante o treinamento, a cobrança é um teste para os que pretendem encarar os padrões das empresas aéreas e a chatice dos passageiros. “A limpeza das unhas de cada um deles, por exemplo, é cobrada todos os dias. Até o relógio que usam tem de respeitar um padrão.

Nas 3 salas da Fly, os alunos têm entre 18 e 38 anos. “A idade importa. Por exemplo, se alguém de 38 anos chegar aqui, mas sem saber nenhum outro idioma que não seja o português, nunca vai conseguir emprego. Mas se tem essa idade, com boa aparência e sabendo idiomas, a coisa fica mais fácil”, explica.

O salário médio básico de um comissário de voos nacionais é de R$ 1,2 mil, mais adicional por horas trabalhadas, diárias e plano de saúde, o que pode alcançar 3,5 mil. Já em voos internacionais, o valor supera os R$ 5,5 mil, dependendo da companhia.

Aulas no período vespertino, mas também ocorrem à noite.

Salário - O glamour parece mesmo coisa do passado, dos primórdios da aviação. O que os candidatos ao emprego querem mesmo é salário.

Fernanda Sugmato, 26 anos, morava no Japão e trabalhava como operária em uma indústria. Há 4 meses está no Brasil e escolheu o curso para continuar no País, ganhando dinheiro.

“Fiquei nove anos no Japão para cuidar da minha tia que teve leucemia. Voltamos porque minha mãe ficou desempregada. O dinheiro que juntamos serviu para investir nesse curso e me qualificar. Hoje moramos na casa de uma tia aqui que tem nos ajudado muito, mas quero a casa própria”, conta.

Fora a remuneração, Fernanda diz que está “apaixonada pela aviação” e que o sonho de ser aeromoça realiza também o sonho da mãe, mas há interesses bem mais práticos. “A opção do curso é que por ser rápido e com chances de entrar no mercado de trabalho de uma maneira rápida”.

A prova da ANAC não é fácil, avalia, mas há simulados na internet para o treino até o dia da avaliação, o que tem ajudado Fernanda.

Elcio Reis, de 31 anos, já é funcionário da Gol. “Faço o peso e o balanceamento das aeronaves. Trabalho com o setor há 4 anos, entrei como auxiliar de rampa. Hoje meu salário chega em média a R$ 1,3 mil, enquanto que o comissário ganha entre R$ 3,5 e R$ 5 mil”.

Na verdade, esse valor é pago para quem faz voos internacionais. Mesmo assim, Elcio fez um esforço, enxugou as contas e parcelou o valor do curso, que no caso dele custou R$ 2,4 mil, em 12 vezes.

“O lado ruim é a distância de casa. Você pode ficar muitos dias voando longe da família”. Outro ponto negativo, avalia Elcio, é a incerteza sobre emprego. “Tenho colegas que têm o curso e não conseguiram passar. Depois de conseguir a autorização, tem ainda que passar pela seleção das empresas. No caso da Gol, sei que são bem exigentes”, diz.

As aulas são de segunda a sexta-feira e aos sábados se houver necessidade. As turmas são em horário vespertino, de 14h às 17h e noturno, de 19h30 às 22h30.

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