Comportamento

Zelador de condomínio sonha em ser ator de novela ao lado de Antônio Fagundes

Paula Maciulevicius | 18/03/2015 09:12
Na boca lhe faltam alguns dentes, mas nunca o sorriso e o sonho de ser peão da fazenda de Antônio Fagundes. (Foto: Marcelo Calazans)
Na boca lhe faltam alguns dentes, mas nunca o sorriso e o sonho de ser peão da fazenda de Antônio Fagundes. (Foto: Marcelo Calazans)

No dia do aniversário de 62 anos, seu Milton Miguel compartilha o sonho de uma vida. O que ele gostaria, não digo nem como presente pela data, porque seria algo muito maior, era de encontrar Antônio Fagundes, repassar o roteiro da novela que tem em mente e começar a trabalhar lado a lado com o ator, em uma de suas fazendas, no Pantanal.

Seu Milton Miguel é índio terena, trabalha como zelador há 5 anos num residencial no bairro Tiradentes, em Campo Grande. Nascido na aldeia Cachoeirinha, em Miranda, ele já foi peão, pedreiro e imagina todos os dias, do pedalar do Jardim Noroeste, onde mora, até o trabalho, como seria se ao invés de bicicleta ele já estivesse montado num cavalo.

"Eu sou peão de fazenda e o Antônio Fagundes, o fazendeiro. Sem ser ator, eu queria fazer papel dessa novela com ele, no Pantanal. Eu, como peão estou montado num cavalo diante de uma boiada e minha esposa é a cozinheira". Assim que ele descreve as cenas do cotidiano. Quando pergunto se seu Milton tem o roteiro escrito, ele responde que não, é mesmo na base do sonho.

Seu Milton Miguel é índio terena, trabalha como zelador num residencial no Tiradentes. (Foto: Marcelo Calazans)

Na boca lhe faltam alguns dentes, mas nunca o sorriso. No primeiro contato que fiz por telefone, seu Milton estava no horário do almoço e havia ido ao supermercado. Ofereci de encontrá-lo lá, ele disse que não precisava, que estava de bicicleta e que chegaria num "galope". Acredito que a nascença no mato e o trabalho posterior em fazendas, seja o pano de fundo para o enredo que ele sonha em ser coadjuvante na vida real.

"Diz que a gente tem que tentar realizar o nosso sonho né? Então, eu sonhei com o Antônio Fagundes e no meu sonho, eu chegava na casa dele porque queria encontrar com ele. Eu já cheguei a ir para São Paulo, lá eles me atenderam e eu disse que tenho esse sonho e queria realizar", conta.

No trabalho ou em casa, quando dava uma folguinha, a televisão sempre lhe foi companhia. Seu Milton Miguel não teve filhos, mas a esposa Maria de Lourdes Santos teve. O nome dela, ele faz questão de falar completo. Da telinha é que lhe vem o contato diário com Antônio Fagundes, que hoje repete a novela "Rei do Gado", que foi, quem sabe, a trama a dar origem a tudo isso.

O sonho, a calcular pelo tempo de seu Milton já tem mais de 5 anos. Quando pergunto o nome da novela, ele responde que isso não sabe. Que só num encontro pessoalmente com Fagundes é que eles poderiam resolver. Mas na imaginação, as cenas que se tornam reais diante dos olhos dele e também dos nossos, se nos deixarmos levar pela esperança de realizá-los, seu Milton está todo "paramentado".

"Eu ia me equipar todinho, eu já fui peão de fazenda, sei fazer montagem bem feita e vestuário de peão", descreve. Sob sua responsabilidade estariam cerca de 4 mil cabeças de gado que ele tomaria conta sozinho. Ele e seu cavalo. No final do dia, Milton encontraria o patrão e no descansar, eles matariam a sede do dia num tereré. Sem esquecer da comilança aos finais de semana. "A gente ia assar um churrasco junto", completa.

Seu Milton Miguel pode ter tantos outros sonhos, mas é neste que ele diz que trabalha para acontecer. "É só um sonho, sabe? Mas tem que lutar para realizar. Porque eu assisto ele nas novelas e sou fã e depois de fazer essa, a gente ia fazer uma novela sobre a força do índio. O que é o índio no mato". Aí quem sabe, o protagonista já seria ele mesmo. Milton Miguel estrelando ao lado de Antônio Fagundes, um presente que seria mais que de aniversário, de uma vida inteira.

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