Comportamento

Xuxinha sofreu, perdeu um olho, mas achou uma dona e agora é uma vira-lata feliz

Elverson Cardozo | 05/06/2014 06:42
Recuperada, com 6 quilos a mais, recebendo carinho, Lolita é puro charme. (Foto: Cleber Gellio)
Recuperada, com 6 quilos a mais, recebendo carinho, Lolita é puro charme. (Foto: Cleber Gellio)

Lolita era, na verdade, Xuxinha. O nome antigo é bonito, delicado, mas a vida dura da vira-lata era tão triste que sua atual tutora, a professora Gisele Penitente Deboni, de 38 anos, resolveu deixar todo o passado de dor e sofrimento para trás, quando, há 2 anos, a adotou, depois de se comover com sua história na internet.

Em 2012, quado a conheceu, a cadelinha, que tem pelagem de um poodle, havia sido resgatada pelo Abrigo dos Bichos, ONG de Campo Grande. A bichinha estava em estado deplorável: suja, machucada, com pelos emaranhados e irreconhecível.

A vulva ficava exposta por conta dos estupros que sofria do antigo dono. O olho esquerdo já nem existia. Estava podre, coberto de larvas. Na boca, haviam 7 dentes quebrados, em decorrência chutes e maus tratos. Pesando 3 quilos apenas, Xuxinha não tinha força nem para levantar a cabeça.

“Quando eu cheguei ela estava em uma caixa de papelão fechada. Quando abriram, a única coisa que mexia nela eram as larvas. Achavam que estava morta”, relembra Maria Lúcia Metello, que na época recebeu a vira-latas no Abrigo dos Bichos. 

Na primeira consulta com o veterinário, entre limpeza da calota do globo ocular, castração e remoção dos dentes estragados, a professora gastou cerca de R$ 2,7 mil. Depois do socorro de emergência, levou-a para casa, mas, um dia depois, descobriu que ainda haviam “bichos” no olho da cadela, que voltou voltou à clínica, onde submetida a uma cirurgia para remoção completa do globo.

Um dia depois da alta, o animal passou mal, começou a vomitar e precisou, novamente, ser atendido. O diagnóstico, desta vez, foi insuficiência renal. Resultado: uma semana de internação.

Gisele e Lolita, um dengo só. (Foto: Arquivo Pessoal)

Depois de contornado a doença que, segundo a dona, teria surgido em decorrência da extrema privação de água, líquido que o antigo dono raramente dava, a história da cadelinha começou a mudar.

Nos primeiros seis meses, a melhora já era visível. Hoje, quem vê Lolita com 9 quilos, toda charmosa, de lacinho rosa no pescoço e pêlo sedoso, nem acredita que é a mesma da foto compartilhada pela ONG.

A bichinha está bem melhor, mas ainda precisa de cuidados. Tem leishmaniose, hipotireoidismo e uma infecção na boca que faz sair pus pelos dentes. Vive a base de antibióticos. Toma, ao todo, três medicamentos por por dia.

Gisele gasta pelo aproximadamente R$ 400 reais mensais com a cadela. O povo diz que a professora é louca, que está "rasgando" dinheiro e se esforçando a toa, mas ela não se importa com isso. Por Xuxinha, agora Lolita, garante que faria tudo de novo.

“Ele vivia com o rabinho enfiado entre as pernas. Hoje ela late, abana o rabo e brinca só comigo. Poder oferecer proteção e carinho para um bichinho tão maltratado, que tinha medo de gente, é algo indescritível”, afirma.

No pequeno apartamento em que vive, Gisele divide espaço com a cadelinha e outros dois cachorros. Se um deles morrer, conta,quer adotar outro “judiado”, igual a vira-lata. Todo mundo quer um cachorro de raça, bonito, mas, para mim, cachorro é cachorro, independente da raça, se tem ou não olho” diz.

O antes e o depois.
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