Comportamento

Transplante não salvou vida de Ricardo e torcedor ganhou homenagem do Fluminense

Thailla Torres | 31/10/2017 06:05
Ricardo e o filho em uma partida do Fluminense.
 (Foto: Arquivo Pessoal)
Ricardo e o filho em uma partida do Fluminense. (Foto: Arquivo Pessoal)

Ricardo Wagner Pedrosa Machado lutou durante meses contra um câncer, sem nunca deixar de lado sorriso e a esperança. Mas no dia 19 de outubro, a família se despediu do super torcedor do Fluminense, que abraçou Campo Grande em 1983. O orgulho pelo tricolor carioca foi retribuído no último domingo, durante a partida entre Fluminense e Bahia, no Maracanã. O minuto de silêncio foi suficiente para emocionar os filhos e aumentar a saudade.

Aquele dia, o que menos importou foi o resultado da partida. "Procurei sinais dele em todos os lugares e em todos os momentos. Subi aquela rampa, a mesma que subi pela primeira vez em 1992 de mãos dadas com ele. E antes do previsto, o Maracanã se calou pelo meu pai e ele se sentiu em paz, tenho certeza", descreve o médico Thiago José Maksoud Machado, de 30 anos, um dos filhos de Ricardo.

Pedido de silêncio apareceu no telão do Maracanã. (Foto: Arquivo Pessoal)

Ricardo foi atleta do Fluminense, onde ganhou destaque no time de Water Polo, durante toda década de 70. Era um menino quando começou a nadar nas Laranjeiras, por conta de uma bronquite e recomendação médica. Foi considerado o melhor jogador do Campeonato Carioca, campeão em torneios do Water Polo Brasileiro e até convidado para a seleção brasileira. Mas a motivação de Ricardo sempre foi acompanhar de perto o desempenho do time predileto em campo, até os últimos dias de vida.

Entre 1969 a 1983, Ricardo só perdeu um jogo do Fluminense no Maracanã, porque veio em embora com a família para Campo Grande. "Ele cantava aos quatros ventos que só perdeu o jogo em um sábado de Carnaval, porque Carnaval ninguém é de ferro. Mas tinha o maior orgulho em dizer que viu seu time ser campeão".

Apesar da distância entre Campo Grande e Rio de Janeiro, nada mudou na relação do pai com o Flu. "Ele comprou um rádio para continuar escutando o Tricolor à distância. Conseguiu fazer eu e meu irmão mais velho tricolores, e com ele, fomos inúmeras vezes ao Maracanã, Engenhão, Moça Bonita, Edson Passos, Volta Redonda e São Januário, assistir ao Fluminense".

O amor era tanto que nem Copa do Mundo disputou sua fidelidade com o time de coração. "Ouvia ele falar que sua seleção era o Fluminense e que a Copa do Mundo só teria importância se o tricolor jogasse", recorda Thiago.

Mas neste ano, um diagnóstico foi determinante na vida de Ricardo. Ele descobriu um câncer no fígado, deu início ao tratamento e entrou na fila de transplantes por um órgão. "Quando ele ficou em quinto lugar na fila, ele e minha mãe foram morar no Rio de Janeiro a espera da cirurgia. Até que no dia 9 de outubro, recebeu a ligação que haviam encontrado um fígado para ele".

Mas uma complicação durante a cirurgia fez Ricardo passar por outros 2 transplantes. "Ele teve uma trombose no primeiro e segundo transplante. Após o terceiro procedimento, por um motivo que ainda não sabemos, ele não resistiu ao pós-operatório", descreve.

A família viu Ricardo vibrar, torcer, chorar e ficar de pé a cada partida. Sem perder o fôlego, correu vários lances da arquibancada quando o jogador fazia um gol inesperado, chegou a viajar 600km de carro só para ver o time ser campeão brasileiro, sofreu em cada eliminação e perda de título.

"Subir a rampa do Maracanã nunca mais vai ser igual. Mas quando o jogo do último domingo estava terminando o que menos importava era o resultado. Continuei procurando meu pai e finalmente encontrei, dentro de mim, nos meus gestos, na maneira de gritar gol, reclamar do juiz e no amor que tenho pelo Tricolor. E isso nunca vou deixar escapar. Ele estará sempre em mim e no coração dos meus irmão".

Dez dias após sua morte, a família encontrou conforto no gesto simples que eternizou a importância que Ricardo representou para o time. Veja esse momento no vídeo.

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