Comportamento

Selaria na 13 de Maio guarda pequeno "museu" que já está na família há 51 anos

Pai de Toninho montou junto com seu tio a primeira em 1967, filho mantem a tradição e reúne algumas relíquias no lugar

Thaís Pimenta | 27/04/2018 07:33
Loja está de pé desde 1984 e mantem tradição de mais de 51 anos da família Moreira. (Foto: Paulo Francis)
Loja está de pé desde 1984 e mantem tradição de mais de 51 anos da família Moreira. (Foto: Paulo Francis)

A história da Montaria Moreira começou há 51 anos quando o pai de Toninho Moreira, Adilson Moreira, e o tio Fortunato, montaram a primeira loja em 1967, na rua 7 de Setembro, quase de esquina com a Rui Barbosa. Naquela época, Toninho ajudava a família e se lembra até hoje de que no auge dos seus 6 anos de idade limpava o chão da selaria para o pai. O gosto pelo negócio começou nessa época e bastou o menino atingir a maioridade para abrir a própria loja, no mesmo estilão, na rua 13 de Maio, em 1984. Hoje, o lugar é movimentado por novas gerações, mas também serve como museu de lembranças, cheio de objetos antigos, colecionados pelo dono.

"A lojinha do meu pai mudou de lugar várias vezes, foi para Antônio Maria Coelho, para a 14 de Julho e continua lá até hoje, mas com outros donos, porque meu pai já é falecido", explica. Numa pergunta que remete aquele tempo, Toninho passa a escrever exatamente o que havia na região durante a infância. "Já tinha o Thomaz Esfiha ali, um salão de cortar cabelo muito famoso de um paraguaio. A Cobal Alimentos ficava ali do lado também, o Café Parlamento, a Floricultura Arakaki e o Cine Acapulco ficava atrás da nossa selaria".

Toninho abriu a sua porque iria se casar e ganhou o apoio de seo Adilson e do sogro para tomar o grande e arriscado passo para a época. "Aqui era afastado do centrão, o movimento do comércio e venda era bem lá pra cima mesmo, nessa região só tinha máquina de arroz dos descendentes japoneses e eu".

Com a simpatia de quem lidou com comércio durante toda a vida, Toninho nos recebe com alegria, em sua loja de artigos para o homem do campo, que vão de botas e chapéus, até arreios e pelegos. Ali, mantém a tradição do passado e dos primeiros fazendeiros que pisaram em Mato Grosso do Sul. "Aqui é loja raíz mesmo, tanto é que só nessa loja eu já cheguei a atender quatro gerações da mesma família, o bisavô, o avô, o pai e  filho que dão continuidade aos negócios da família. Pra você ter uma ideia, vi Laucídio Coelho vivo e todos esses grandes empresários do campo".

Mesa repleta de artigos antigos. (Foto: Paulo Francis)

Para quem nunca teve contato com esse mundo alternativo de produtos de selaria, entrar na lojinha antiga é muito curioso. A maioria dos produtos ali é feita artesanalmente em couro e os preços, que chegam a R$ 8.900,00, como é o caso da preciosa traia de prata da Fazenda Monte Cristo, acompanham a faixa dos três dígitos e vão até os quatro, numa boa. "São produtos em que você investe uma vez na vida e eles se mantêm em uso por anos e anos", justifica Toninho.

O prédio antigo abriga o ponto alto da loja, a parte que não está à venda que é uma espécie de museu de antiguidades, com peças que foram presentes de amigos, outras garimpadas e até encontrados no lixo. Sem pensar duas vezes, Toninho já justifica que é um apaixonado pelo passado, um verdadeiro nostálgico, mas não sabe muito bem o porque disso. "Eu vejo essas coisas antigas [apontando para um registro fotogŕáfico dos tempos de Mato Grosso Uno] e fico até sem ar por não ter vivido nessa época. Acho linda essa atmosfera de pega um trem, com a cadelinha (mala) do lado, eu fico até triste", brinca ele.

A mesa em que senta é a mesma desde que abriu a loja, e ela já era um móvel usado na época. O radinho que fica atrás dela é um Philco dos anos 70 e a TV é aquela do começo dos anos 2000. "Eu sei o que está rolando de tecnologia mas eu não preciso dela, por exemplo, até hoje eu nunca tive um celular e não pretendo ter". Em contrapartida, o museu tem uma "ala" só de aparelhos celulares e câmeras fotográficas do passado.

Uma prateleira ao lado da mesa traz as edições da antiga Barsa e uma foto original de Pelé, autografada. Comercialino, Toninho tem fotos de times de futebol do passado distribuídas pelas paredes da loja. "Tem até foto dos operaniano, pra você ver só". 

 

Mesa de antes de 1984, barsas e muita historia. (Foto: Paulo Francis)
Detalhes antigos atrás, como as placas velhas. (Foto: Paulo Francis)
Radinho de 1970. (Foto: Paulo Francis)

Garfos da época do Brasil Império, cangalha de 100 anos atrás, dormentes da construção da Estrada de Ferro, fogão a lenha, instrumentos musicais, máquinas de escrever, de datilografia, artigos de cozinha, uma calota Ford e até uma escova de dente nunca aberta, do tempo do epa, estão dispostas na loja.

Mas tem um artigo que ele não vende, não dá e nem negocia, de jeito maneira: a garrafa de leite Ita, do tempo de sua infância. "Isso daqui me marcou de um jeito que você não tem noção.  A mãe dava dinheiro e a gente tinha que ir na vendinha encher a garrafa, parava de jogar futebol pra servir a mãe e a família toda comia junto depois", diz ele, com os olhos brilhando.

Toninho se considera um cara fora do normal nesse sentido, pois ninguém de sua família entende, ou era assim como ele, tão apaixonado pelas antiguidades. "Eu tenho um período que tiro pra mim no domingo, de duas horas, saio pedalando e vou em direção aos bairros mais antigos da cidade e fico admirando a construções", detalha.

O comerciante diz nunca ter conhecido alguém como ele mas qualquer um que entra ali fica encantado com as histórias dos objetos das antigas. "Meus clientes chegam aqui ficam encantados com as coisas, é um passeio a parte, ?", finaliza.

A loja fica na rua 13 de Maio, 3.792, e funciona o dia todo. Para saber mais ligue (67) 3382-2690.

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Fotos de times de futebol brasileiro e sul-mato-grossenses. (Foto: Paulo Francis)
Artigos do passado. (Foto: Paulo Francis)
A pinga que se tomava na época e a garrafa de leite que Toninho não vende de jeito nenhum. (Foto: Paulo Francis)
Facas antigas, candelabros, talheres e tudo que se possa imaginar vindo do tempo do epa. (Foto: Paulo Francis)
Fachada da selaria, na rua 13 de Maio.
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