Comportamento

Registro do companheirismo de 60 anos é no campo, onde casal construiu a vida

Além de eternizar o amor do casal, fotos registram também estilo de vida de quem trabalhou e criou os filhos na lida com a terra.

Kimberly Teodoro | 02/08/2019 08:57
O registro dos 60 anos de casados de Elzira e Benjamin foi o primeiro ensaio do casal (Foto: Gabriel Rezende)
O registro dos 60 anos de casados de Elzira e Benjamin foi o primeiro ensaio do casal (Foto: Gabriel Rezende)

Desde o dia em que resolveram dividir a vida um com o outro são 60 anos de companheirismo, amizade e amor compartilhados na terra que sempre foi o sustento da família traduzidos em gestos, olhares e nos sorrisos de Elzira e Benjamin Lidl, registrados pela primeira vez fotografias tiradas em julho.

O ensaio foi feito na fazenda do casal, mesma propriedade em que moram desde que vieram do Rio Grande do Sul 43 anos atrás para recomeçar aqui em Mato Grosso do Sul, escolhendo como lar a região rural de Itaporã, há 227 km de Campo Grande. A ideia foi do fotógrafo Gabriel Rezende, que mais que eternizar o amor do casal, expressou também o estilo de vida de quem trabalhou e criou os filhos na lida do campo, enfrentando juntos as intempéries do caminho.

Por lá, o contato é feito à moda antiga, Benjamin, falante e bem humorado o senhor de 83 anos é quem atende ao telefone fixo, com um sotaque característico do sul do país que o tempo não apagou. Tímida, Elzira prefere não dar entrevista e confia que o marido conta a história dos dois.

Cheio de causos, Benjamin brinca com o segredo de um casamento capaz de chegar às Bodas de Diamante. “Vi em algum lugar que uma pessoa que vive 60 anos, passa cerca de 20 dormindo. Então sempre digo que nesses 60 anos de casados, 20 foram dormindo”, explica rindo, como se dessa maneira o tempo passasse mais rápido.

Aos 78 anos, Elzira posa ao lado das flores que enfeitam o jardim (Foto: Gabriel Rezende)
Cuidar das galinhas e da colheita ainda faz parte da rotina de Benjamin, aos 83 anos (Foto: Gabriel Rezende)

A verdade, segundo ele, é que o tal segredo não existe. Cada história carrega essência única e se fortalece ou chega ao fim de acordo com a reação de um perante a vida. No caso de Benjamin e Elzira, “concordar mais que discordar” e aprender a ceder para se ajustar um ao outro foram lições importantes que vieram com os anos, onde independente da adversidade, o amor falou mais alto. “Para durar que se gostar, ficar ao lado do outro nas dificuldades, mas cada história é diferente”, reafirma, sem querer dar palpite na felicidade de ninguém além da própria.

A maneira como se conheceram também virou conto na boca de Benjamin, que relata que gostar e acabar casado com Elzira foi acaso. Os moravam em propriedades vizinhas quando jovens e uma fazenda depois da dela havia uma casa com duas irmãs, sempre que passava por ali, Benjamin dizia que se casaria com uma das duas. Ainda não tinha olhos para aquela que se tornaria sua esposa. Quando a época do alistamento militar chegou, ele ficou longe por algum tempo e ao retornar, as duas já haviam se casado. “Me sobrou só a vizinha. Se ela fica brava com essa história? Ela dá risada, a vida para ter gosto, tem que ter brincadeira”, explica.

Do namoro ao casamento foram dois anos em que as visitas de Benjamin à Elzira eram feitas a cavalo, uma vez que apesar das fazendas ficarem lado a lado, a distância não era tão pequena assim. Não havia outro jeito, sem as “modernidades” como telefone ou aplicativos de mensagem, o contato era pessoalmente sob os olhos da família da moça, como mandava o figurino.

Quando chegaram ao então Mato Grosso, foi em busca das terras baratas compradas em sociedade com um dos irmãos de Benjamin. Por um preço menor que no Rio Grande do Sul, a propriedade também oferecia mais hectares para quem fechasse o negócio. Por um tempo, ele conta que até tentou mexer com gado, mas o que realmente gosta de fazer é lidar com a lavoura, atividade que nem agora aos 83 e depois de uma cirurgia do coração ele cogita abandonar.

Companheira de Benjamin na lavoura, a escavadeira chamou a atenção durante o ensaio (Foto: Gabriel Rezende)

“Meus filhos até dizem que é hora de me aposentar, mas eu vi uma palestra em que um homem conseguiu 300 sacas de soja por hectare e eu ainda não sei como isso é possível, mas pretendo descobrir. Se ele conseguiu, eu também consigo, então não posso parar antes disso”, diz com a mesma disposição de quem ainda dirige a escavadeira que o acompanha no trabalho há anos, e de tão importante participou até do ensaio do casal.

Com a missão em mente, Benjamin conta que depois das Bodas de Diamante, a próxima festa será a comemoração de 80 anos de Elzira, que hoje tem 78, ou uma grande festa da colheita para as 300 sacas de soja que pretende conseguir por hectare. O que vier primeiro.

Depois de olhar fotos que retratam o estilo de vida simples, mas cheio de cumplicidade, é inevitável a certeza da longevidade do casal. Ao ouvir isso, Benjamin não segura a risada e conta que com a idade, chegam também as doenças. Elzira tem Parkinson, enquanto ele já passou por mais de três cirurgias, uma delas a válvula do coração que deve durar pelo menos mais 20 anos. “A hora de partida só pertence a Deus, mas sabe como ela vai fazer para comemorar os 80 anos? É só não morrer até lá”, simplifica.

Até a despedida de qualquer um dos dois, que ainda promete demorar, a vida segue como sempre foi. No campo, onde o dia começa às 5h30 da manhã para cuidar das galinhas e do jardim plantado por Elzira e por Benjamin. Por lá, as horas passam em outro ritmo, com o trabalho que alimentam a mente e o coração, que por ser “nascido e criado na lida com a terra”, Benjamin não se cansa de fazer.

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A casa em que vivem já estava na propriedade quando o casal se mudou há 43 anos (Foto: Gabriel Rezende)
A plantação de onde o casal tirou sustento a vida inteira foi o cenário escolhido para registrar o amor (Foto: Gabriel Rezende)
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