Comportamento

Quando festa acaba, flores que iriam para o lixo viram presentes a desconhecidos

Elverson Cardozo | 17/05/2013 06:11
"Desconhecidos", pessoas comuns, são pegos de surpresa. (Foto: Divulgação)
"Desconhecidos", pessoas comuns, são pegos de surpresa. (Foto: Divulgação)

As mesmas flores que decoram os salões de festas voltam à câmara fria, de onde saíram antes de serem preparadas para algum momento especial. No espaço, graças aos cuidados de voluntários, elas ganham sobrevida e, antes da morte, chegam às ruas, para a última função: alegrar o dia de desconhecidos.

O trabalho dos “intensivistas”, que dão uma segunda chance à beleza e o colorido das rosas, orquídeas, copo de leite, é duro e, na maioria das vezes, acontece de madrugada, depois que todo mundo se divertiu, mas eles não reclamam. Arrancar o sorriso do próximo, pego de surpresa, compensa qualquer sinal de cansaço.

Desde o ano passado, a Guerreiro, uma empresa de Campo Grande que trabalha com decoração de ambientes, implantou um projeto que tem feito muita gente “ganhar o dia”.

Incomodados com o desperdício após os eventos, os sócios, Sérgio Carvalho e Zezé Guerreiro, acharam uma alternativa de reaproveitar as flores das decorações. Nasceu o “Vejo Flores em Você”, projeto coordenado por Lúcia Cruz, uma “amiga guerreira”, que não mede esforços quando o assunto é a solidariedade.

Voluntárias do projeto. (Foto: Divulgação)

Junto com um grupo de voluntários, ela vai aos salões e, enquanto os convidados aproveitam os últimos momentos da festa, recolhe o que sobrou da decoração. Na câmara fria da Guerreiro, junto com as companheiras, faz dos arranjos pequenos buquês.

Às vezes, antes mesmo do sol nascer, sai pelas ruas, à procura de sorrisos. Vai à padaria, aos pontos de ônibus, terminais ou qualquer outro lugar que tenha a mínima movimentação. Distribui flores e alegria a quem cruzar o seu caminho, homem ou mulher. Pela agradável surpresa, tem quem pergunte: “Que dia é hoje?”. “É o seu dia”, responde a mulher.

Os idosos do Asilo São João Bosco, na região do bairro Tiradentes, já foram agraciados com a visita dos voluntários, que saem “transformados”, sem palavras para descrever o que sentem. “É maravilhoso. Eles ficam emocionados”, reumiu a coordenadora.

Lúcia conta que já teve dia em que distribuiu, junto com o grupo, 4 mil flores em um único dia. O trabalho é cansativo, mas a recompensa é maior. “Alguns ficam até espantados. Tem gente que nunca recebeu uma flor”, comentou.

Flores também chegam às mãos dos homens. (Foto: Divulgação)

Para Sérgio Carvalho, a iniciativa, além do aspecto humano, agrega valor a uma responsabilidade social. “A gente sabe que transforma a vida das pessoas com esse comportamento”, disse. O projeto, acrescentou, ainda está em fase de adaptações.

Como a entrega das flores depende das festas, que geralmente ocorrem aos finais de semana, não há datas específicas para que os voluntários saiam às ruas. “Tem fim de semana que não fazemos eventos”, disse.

Outro problema é transporte. A coordenadora vai com o próprio carro aos salões. “Estamos discutindo a infraestrutura. A Guerreiro doou uma Kombi para o projeto que vai servir como peça publicitária. Também precisamos criar uma logomarca”, afirmou.

Mas isso são apenas detalhes, quase invisíveis, diante de um projeto grandioso, que tem mudado, mesmo que lentamente, a realidade de muita gente. “Quando você faz o bem, sempre fica com a melhor parte”, finalizou a coordenadora.  Não fosse a nobreza de pessoas como Lúcia, que conseguem, em meio à correria, enxergar os “desconhecidos”, Campo Grande, seria, quem sabe, uma cidade sem alma.

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