Comportamento

Quais são as invenções das crianças para um mundo melhor e mais divertido?

Paula Maciulevicius | 12/10/2013 07:03
Quando o céu é o limite, a invenção das crianças de hoje vai longe. Tudo colorido, cheiroso e para no fim, fazer além deles, o mundo feliz. (Fotos: Cleber Gellio)
Quando o céu é o limite, a invenção das crianças de hoje vai longe. Tudo colorido, cheiroso e para no fim, fazer além deles, o mundo feliz. (Fotos: Cleber Gellio)

As mãozinhas batem pique, pegam no lápis, pulam corda. Carregam bonecas e carrinhos por todo pátio. Os olhos estão voltados não ao que eles veem, mas a maneira como enxergam a vida ao seu redor. Num misto da realidade que lhes bate à porta, com a imaginação de poder inventar o sorriso, a gente pergunta o que uma criança hoje inventaria para o futuro?

Os olhos esverdeados de Isabela Silva, de 7 anos, brilham quando ela fala da invenção que vai ficar em sua casa. O cabelo trançado de lado às vezes vem ao encontro dos dedinhos que num futuro próximo vão apertar os botões da máquina de curar as doenças.

“As pessoas entravam nela e ela curava as doenças que essa pessoa tem. Essa máquina ia curar todas as doenças. É uma máquina grande, mas só vai entrar um de cada vez”, descreve.

E onde essa máquina vai ficar? Pergunto a Isabela. “Ela vai ficar na minha casa. E quem vai cuidar sou eu”. O formato da ideia é um coração rosa. Não pelo significado da bondade e do amor de quem quer salvar o mundo à sua maneira, mas simplesmente porque a forma é bonita.

A mocinha de sorriso aberto diz que na família ainda não viu doença que precisasse da sua máquina hoje. “Mas eu vi na televisão muita gente doente”, argumenta.

E o tempo de tratamento Isabela, vai demorar? A pequena responde que sim e muito. Na lógica de criança 24h demoram muito a passar. “Vai um dia. Mas não tem problema, porque vai ter comida e cama lá dentro e eu ia apertar um botão para a porta abrir e ela sair de lá. Para entrar? A pessoa vai falar o nome e já vai entrar lá dentro”.

No projeto da máquina de curar pessoas, Isabela desenha um coração. O formato da invenção da criança.

Na cabecinha de Isabela, o paciente vai sair feliz e pulando. Curado para sempre.

Aos 7 anos, o perfume que mais gosta será a essência da invenção de Maria Luiza Maia. ‘A flor mais cheirosa do mundo’. Em rosa e roxo é isso que ela quer plantar e ver crescer bem bonito em um vaso.

“Por que eu faria? Porque tem que existir a flor mais cheirosa do mundo!” responde sem titubear. E prossegue narrando que o aroma será de rosa com Ma Cherie, perfume infantil.

A história se mistura com o conto do Pé de Feijão, quando Malu, como a menininha gosta de ser chamada, fala que ia ser tão grande até alcançar o feijão mágico.

“Todo mundo da cidade ia ver e sentir o cheiro de longe. Pra regar? Eu ia usar um regador gigante”, continua.

A narração é interrompida por Isabela, a inventora da máquina que cura doenças, que pergunta “e como você ia fazer para carregar o regador? Todo mundo, do mundo inteiro vai ver a sua flor?” Malu responde “vai sim e pra carregar serão mil pessoas”.

O gosto pelas flores está estampado nos cabelos. A tiara que enfeita a cabeça tem uma flor no canto esquerdo. Assim como a invenção, Malu é a própria flor.

“Ela vai ser cheirosa como a flor do amor e todo mundo vai ficar feliz e gostar de sentir ela”.

Depois das damas, veio o cavalheiro, ou seria cavaleiro? De bota, cinto, fivela, chapéu e berrante, Felipe Dantas, de 8 anos, se apresenta como o inventor do cavalo elétrico.

O cavalo elétrico de Felipe será igual a um normal. Monta na cela e coloca os pés no estribo.

Solução encontrada por ele, que não tem fazenda, para abrigar o animal que mais gosta. “Vai ser para as pessoas criarem na área urbana”, explica.

Apesar de levar o nome de elétrico, o cavalo não recarrega as energias pela tomada e sim galopando até o posto de combustível mais próximo.

“Vai no posto e põe óleo diesel de S10. Quanto vai custar? R$ 12 mas dá para andar o dia inteiro”.

E para montar no cavalo elétrico, o cavaleiro precisa do quê, questiono. Bruto, ele responde “igual cavalo de verdade. Pega a cela, põe o pé no estribo, passa o outro por cima e coloca. Ele não é muito grande, pode deixar em qualquer lugar”, descreve.

Se pode deixar em qualquer local, significa que ele vai caber dentro de uma casa Felipe? O cavaleiro reage achando a pergunta absurda. “Dentro de uma casa? Onde é que já se viu um cabelo dentro de uma casa? Só se for no quintal, dentro de um curral. Mas a área tem que ser grande para ele correr. O cavalo precisa de ar livre”.

O “Fúria da Noite”, como vai chamar o cavalo elétrico de Felipe pode ser encomendado direto das fábricas, que serão instaladas em Campo Grande, Corumbá e no Pantanal. Ele mesmo diz que não vai vender, só inventou. Já o preço, garante que não vai ser caro. “Vai custar só R$ 100 mil”.

Na casa de brinquedos de Laís, todo mundo vai ser criança pra sempre.

A imaginação de Laís Arakaki, 5 anos, se volta para uma casa mágica. A casa de brinquedos. Porta adentro só depois de tocar a campainha. No quintal, várias árvores e um gramado. E lá dentro... “Vai ser tudo de brinquedo e vai caber todo mundo. As crianças vão brincar pra sempre”.

A casa, rosa, amarela e azul também permite a entrada de quem não tiver brinquedo em casa. Pelo que a gente interpreta, a casa segue a linha Peter Pan, onde ninguém nunca cresce.

Laís, Felipe, Malu e Isabela não tem compromisso com a realidade a não ser das asas à imaginação. As grandes invenções aqui descritas, não passam dos próprios desenhos que eles têm, que no fundo revelam ainda a vontade dos pequenos de fazer um mundo mais feliz, seja pela cura, pelo cheiro, pela brincadeira ou pelo galope.

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