Comportamento

Precisamos de muito pouco, a felicidade pode caber dentro de uma mochila

Thailla Torres | 10/04/2016 09:05
Precisamos de muito pouco, a felicidade pode caber dentro de uma mochila

A vida de Maristela Vargas Peixoto, de 50 anos, nunca mais foi a mesma depois que decidiu realizar um sonho. Há 3 meses, a ginecologista voltou da África, onde durante 10 dias foi voluntária. A viagem rendeu uma transformação, que hoje ela relata aqui no Voz da Experiência.

Há seis anos eu comecei a participar como voluntária dando assistência a crianças carentes no bairro Jardim Noroeste. Dentro do movimento voluntário, a gente acaba conhecendo pessoas importantes, que nos levam a outros caminhos.

Um dia um amigo me disse sobre o grupo Fraternidade Sem Fronteiras e eu sabia que ele também já tinha ido à África. Era um sonho antigo, como médica e pessoa. Eu havia entrado no voluntariado em busca de paz interior e com a vontade de ajudar, pois sempre fiz e gostei.

Foi aí que em janeiro surgiu a oportunidade de viajar com o grupo. Ficamos em Moçambique e a experiência na foi única. Quando chegamos à noite em uma aldeia piloto, em que ficavam cerca 200 crianças, todos estavam nos esperando cantando e abraçando, eu simplesmente cai aos prantos.

As crianças são muito carentes e quando chegamos no País, começamos a ter contato com uma realidade de crianças que estavam fora do centros de acolhimento. Lidamos com pessoas que estão em completa escassez de comida, saúde e carinho. Muitas, os pais faleceram com AIDS, malária e até desnutrição.

Ver sorrisos de gratidão e carinho é o que nos fortalecia para continuar ajudando. Sem dúvida nenhuma, não dá para passar por essa experiência sem mudar.

Maristela passou 11 dias em um alojamento para ajudar as comunidades. (Fotos: Arquivo Pessoal)
Para ela, o sorriso e alegria das crianças, foi recompensador.

Em 2010, fiz o Caminho de Santiago e eu já sabia que a gente precisava de muito pouco para sobreviver. Foi durante toda a viagem e o meu trajeto, que percebi que a felicidade pode caber ali, dentro de uma mochila. Por isso, acho importante lembrar que a gente não precisa de muito e tudo que a gente tem a oferecer, devemos compartilhar.

Quando eu voltei ao Brasil, não podia ver comida que eu chorava lembrando das crianças que tinham fome, enquanto eu aqui tenho tudo. Aqui se tem o hábito de gastar água. Desde a minha experiência, peço ajuda e consciência, diante de tantas pessoas que passam sede.

E hoje eu acredito muito mais nas pessoas, principalmente quando eu vejo jovens ajudando. O trabalho é algo que a gente não deve fazer só quando tem tempo de sobra, mas é um compromisso que você assume dali por diante. A diferença é que a remuneração não vem em dinheiro, ela chega em amor, carinho, no prazer de ajudar e na gratidão das pessoas

Pretendo voltar para África e pretendo voltar muitas vezes. A viagem me motivou para continuar aqui com meu trabalho e também como voluntaria, em que estou cada vez mais engajada.

Hoje estou em duas ONGs. Uma é Instituto Amigos do Coração e a outra é Associação Amigos de Maria, que dá assistência a 140 famílias carentes do bairro Jardim Noroeste. Lá atendo e acompanho 30 grávidas.

Com isso, vejo que supérfluo ficou menor ainda e comecei a valorizar muito mais a minha família e meus amigos.

 

Hoje, a médica ressalta que acredita muito mais na humanidade. (Fotos: Arquivo Pessoal)
Em um dos abrigos, há mais de 200 crianças que recebem os cuidados.
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