Comportamento

Porteiro há quase 30 anos no Rádio Clube, Zezão já é vovô entre os sócios

Paula Maciulevicius | 27/12/2013 06:19
Zezão entrou no lugar do tio em 1986 e dele herdou o apelido. (Fotos: Cleber Gellio)
Zezão entrou no lugar do tio em 1986 e dele herdou o apelido. (Fotos: Cleber Gellio)

Dos 90 anos de história, três décadas do Rádio Clube Cidade passaram debaixo do bigode de José Antônio dos Santos. O porteiro Zezão, tem 27 anos de trabalho na esquina das ruas Barão do Rio Branco e Padre João Crippa. Com 1,90m de altura e fala imponente, o tamanho todo vai abaixo quando ele tira do bolso um lenço e enxuga os olhos. As palavras são de carinho para com a família que ele vê diariamente, os sócios.

O clube que já viveu os anos dourados, reuniu a sociedade campo-grandense e foi palco dos melhores bailes que a cidade já dançou, tem uma relíquia à porta, que foi contratada justamente pela altura. Zezão entrou no lugar do tio em 1986 e dele herdou o apelido.

“Eu era segurança, inclusive trabalhei na casa do Lúdio Coelho, quando era prefeito e do Ary Rigo. Aí, o presidente da época, Mohamed Zaher, me chamou para trabalhar na boate porque ele queria um porteiro à altura”, relembra com trocadilho.

Foram dois anos de boate até que foi inaugurada a portaria na Barão do Rio Branco, onde Zezão entrou como porteiro e logo se tornou encarregado de portaria, função que ocupa até hoje.

Quando começou, Zezão ainda tinha cabelos e bigodes escuros.

Em média são mil pessoas que passam por ali das 6h até 22h, horário de encerramento das aulas. Pergunto se são mil bom dias e boas tardes que ele distribui. “Não, não, tem o tudo bem, como vai”, completa.

À época de início na portaria, Zezão ainda tinha cabelos e bigodes escuros. Hoje, só ficou o bigode e o pouco de cabelo, já está todo branco. Ele nega que tenha sido a trabalheira que os sócios dão, prefere dizer que é genética mesmo.

Além da mudança na entrada, Zezão acompanhou o declínio do Rádio. Da carteirinha de sócio com tíquete de manutenção pago, até o cartão magnético que acusa a mensalidade em dia, às lutas para resgatar o que um dia foi o Rádio Clube.

“As lembranças que a gente tem é dos bailes, dos Carnavais, coisa que a gente guarda até hoje” diz. Isso, da alegria com quem os sócios chegam e da espontaneidade que o sorriso largo demonstra, de quem aproveitou a festa.

A maior parte dos sócios ele conhece por nome. Zezão já é vovô da turma. “A gente está aqui para proteger esse povo e como cuidou dos pais, hoje cuida dos filhos. Eles são a minha família”, declara.

Até hoje ele se recorda de Ramez Tebet cruzando a catraca. Nas fotos espalhadas em banners na entrada, estão políticos como o ex-prefeito Nelsinho Trad e o atual prefeito de Corumbá, Paulo Duarte, em partidas de futebol. Do mais alto escalão aos mais simples, não tem quem passe pela portaria sem o seu cumprimento. “Lidar com povo é muito gratificante, eu nem imagino o que estaria fazendo hoje se não estivesse no Rádio, porque a gente mora mais aqui do que em casa e é a minha maneira de conviver com o povo”, comenta.

A casa mesmo do porteiro é lá no conjunto Aero Rancho, de onde ele vem de manhã, de ônibus, carro ou de carona. O horário de expediente é da tarde para a noite, mas como encarregado, ele faz questão de ver tudo de perto.

“O pessoal brinca, nossa Zezão, é só você que trabalha? Eu saí ontem era você que estava aqui, hoje eu chego e é você. É que hoje em dia tem que gostar do que a gente faz e eu gosto”, conta.

Do Zezão tio, ao sobrinho, José Antônio passou a portaria para a segunda geração. O filho, Marcos Antônio dos Santos, já tem mais de 10 anos como porteiro da sede do Rádio Clube Campo. E como não podia de ser, é conhecido como ‘Marcão’.

Se ele vai sair da portaria, nem Zezão sabe dizer. Prefere modestamente dizer “ninguém é insubstituível”.

Do trabalho de porteiro, ele diz que a missão é proteger o povo e que hoje cuida dos filhos de quem cuidou no passado.
Nos siga no