Comportamento

Para que fllhos vejam o que pai viveu, franceses viajam em motorhome pelo Brasil

Paula Maciulevicius | 07/06/2014 07:23
De verde e amarelo e na contagem regressiva para a Copa, a família passou a última semana em Campo Grande. (Fotos: Cleber Gellio)
De verde e amarelo e na contagem regressiva para a Copa, a família passou a última semana em Campo Grande. (Fotos: Cleber Gellio)

Duas décadas depois de deixar o Brasil e ainda com um português perfeito, Renaud Bourjea, hoje com 42 anos, largou o emprego como agrônomo na França para viver oito meses, com a esposa e os dois filhos, em um motorhome de seis metros quadrados. Pela estrada ele quer mostrar à família o que os próprios olhos viram e gravaram para sempre. As cenas de um Brasil quando ele ainda era criança.

De verde e amarelo e na contagem regressiva para a Copa, a família passou a última semana em Campo Grande e agora segue em direção ao Rio de Janeiro. Toda viagem começou no Natal. Eles desembarcaram em Buenos Aires, na Argentina e de lá se aventuraram no motorhome pelo Sul do continente. No roteiro entrou Chile, Peru, Bolívia e agora virá, “se Deus quiser”, como Renaud mesmo diz, o Mundial.

“É camisa 10. Não é Zidane”, brinca ao receber o Lado B. Renaud pede para todos da família virarem de costas e mostrar a camisa 10. A esposa Severine cumprimenta sorridente entre um português e um espanhol. As crianças só riem. Enquanto o pai desenrola um português de quem mora há anos no Brasil. Quando criança, rapaz morou no Rio de Janeiro com os pais que vieram a trabalho.

Renaud sustenta que viagem mudou a vida da família toda.

Renaud, Severine e os filhos saíram de casa no Natal. Mas a viagem já era planejada dois anos antes. Ao contrário do que se possa imaginar, eles não são nada aventureiros e a excursão de agora é inédita.

“Eu morei no Rio de Janeiro há 30 anos. Eu não tinha vindo fazia 20. Joguei para o alto meu emprego. Queria mostrar para a minha esposa e os meus filhos, a minha família, onde eu fui criado. Onde eu passei minha infância. Morei no Brasil quando tinha a idade dos meus filhos”, compara. O menino Mahe tem 8 anos e a menina Delphee, 11.

“A gente é um casal normal, trabalha, temos casa. Essa é a grande aventura, a coragem, de viver em seis metros quadrados durante oito meses. Aí voltamos para casa”, completa Renaud.

O objetivo da viagem era o Brasil, mas a distância tornou o itinerário caro, além das dificuldades para se chegar. Então eles resolveram dar uma grande volta antes de vestir a camisa.

De início a gente pergunta se para Severine, a esposa, a aventura do marido não foi encarada como loucura. “Ela achou boa ideia para a família e as crianças e eu me dei conta que a minha esposa é aventureira”, responde o agrônomo.

A mulher é professora de inglês no setor público e conseguiu obter uma espécie de licença. O que significa que, quando voltar, encontrará o emprego onde deixou e a casa como ficou. Neste meio tempo o imóvel foi alugado. Já Renaud não sabe o que lhe aguarda na França, só que por ora, prefere nem pensar nisso. “Eu fui mais aventureiro. Não tenho nada lá, mas quando ela recebeu a resposta do trabalho e viu que estava possível a viagem, em três meses saímos. Mas a ideia é bastante antiga, o planejamento concreto de organizar tudo, alugar casa, encontrar veículo aqui, organizar trabalho”, descreve.

A empolgação para a Copa está da cabeça aos pés dos franceses. Antes mesmo de comprar comida e diesel para o veículo, eles se abasteceram do verde e amarelo. “Aqui só tem camisa do Neymar, ele parece muito famoso, não?” observa Renaud.

Há uma semana por aqui e as crianças já sabem do que mais gostaram, da Copa e do pão de queijo.

O motorhome dá a eles a liberdade de ir e vir por onde quiser. Um roteiro já havia previamente sido elaborado. Mas sujeito à alterações a qualquer momento. “É uma liberdade, a gente pode dormir em qualquer parte que tem ideia no caminho”, explica o casal.

Os ingressos que compraram são para as quartas de final em diante. “E pode ser a França contra a Argentina. Será um prazer eliminar Argentina para vocês, mas se a gente chegar à final e se Deus quiser a gente chega, e for com vocês, a gente deixa vocês ganharem. Na França em 98 vocês nos deixaram ganhar. Somos civilizados”, brinca o agrônomo.

Sobre o clima da Copa eles puderam notar os contra e prós que dividem os brasileiros em dois times. Dos que querem a Copa e dos que preferiam investimento em educação, saúde e segurança. “A gente está fascinado porque tem muita gesta, com verde e amarelo nas ruas, publicidade, toda a vida está orientada na Copa. Mas também ficamos surpresos ao falar com brasileiros por serem contra, não à Copa, mas ao governo, contra a falta de hospital, descola. Todo dinheiro que é gasto, as manifestações, este é um aspecto mais europeu, na França tem protesto sempre, tem greve sempre”, avalia Renaud.

Há uma semana no Brasil, as crianças já sabem dizer de imediato do que mais gostaram até agora. “Da Copa do Mundo”, responde Delphee, enquanto o irmão completa “e do pão de queijo”.

“Essa viagem, ela mudou a nossa vida, a gente não sabe bem como, mas com certeza mudou. Os dois cresceram, não fisicamente, mas na cabeça. Talvez a gente tenha aprendido sobre a nossa família, a viver junto, a viver tão próximo. E esta é nossa casa, nosso carro, nossa vida”, apresenta Renaud.

A família está escrevendo um blog desde o início da viagem que tem previsão de acabar em julho. Para acompanhar, clique: http://runamsud.blogspot.com.br/.

Há oito meses a casa, carro e a vida deles se resume aos 6 metros quadrados do motorhome.
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