Comportamento

Para Gael saber quem foi "irmão mais velho", pais fotografam a barriga com cães

Paula Maciulevicius | 16/03/2016 06:34
Mãe do Gael com Sophia e Hajj, os pais do labrador que ela perdeu. (Foto: Júlia Lopes Fotografia)
Mãe do Gael com Sophia e Hajj, os pais do labrador que ela perdeu. (Foto: Júlia Lopes Fotografia)

As fotos do ensaio seriam feitas ao lado de John, o "filho" mais velho de Priscila e Luccas e quem lhes ensinou em tão pouco tempo, tanto de um amor incondicional. À espera de Gael, os pais adotaram o cão, viveram e se despediram do labrador que conquistou a casa e também o coração. 

"Infelizmente, ele não viveu até o ensaio e o jeito de mostrar como ele ainda vive em nós, foi tirando foto das tatuagens. Ele era nosso pequeno e para sempre vai ser. Ele ainda é a nossa família", conta a assistente técnica Priscila Paula Cruz da Silva, de 19 anos. Para completar a sessão, os pais de John tiveram participação especial, Sophia e Hajj, deram o ar da graça em muito afeto. 

Priscila e Luccas estão juntos há pouco mais de um ano. E desde o início, sentiram que era "diferente". "Quando a gente conhece uma pessoa e sabe que vai ter algo para contar sobre ela, sabe?", tenta explicar Priscila. Os desentendimentos e brigas, frutos do medo que eles tinham no começo, ficaram para trás assim que ela soube da gravidez. Motivo que levou o casal a adotar John.

Priscila com o Hajj, pai do filhote John. (Foto: Júlia Lopes Fotografia)
Recém nascido, este era o John que chegou à casa com 28 dias. (Foto: Júlia Lopes Fotografia)

"Foi um choque, porque nosso namoro era tão novo, eu tinha medo de ter que dividir o amor dele com outra pessoa, com o tempo a ideia foi sendo aceita por nós dois... Aí decidimos adotar o John", descreve. O labrador chegou a casa deles com 28 dias, um pestinha encantador que em dois dias sabia qual era o nome escolhido e respondia quando era chamado.

A adoção feita em setembro tinha várias razões, entre elas a missão de ensinar ao bebê que chegaria, a amar e respeitar os animais. "Queríamos criar eles como se fossem irmãos, uma vez eu vi um menininho desenhando as duas irmãs dele, perguntei se elas eram gêmeas e ele dizia que não. Quando o pai dele chegou eu perguntei sobre as irmãs e ele explicou que era as duas cadelinhas da família", conta.

Os planos era de que Gael tivesse em John o primeiro grande melhor amigo. "Nunca nos referirmos como donos ou tutores dele, e sim como pais, e é assim até hoje, não perdemos um cachorro, perdemos um filho", acredita Priscila. Para o casal, John veio mostrar uma prévia do que é um amor incondicional, mesmo que de forma tão breve. Em dezembro do ano passado, o labrador morreu de cinomose. De nada adiantou os pais gastarem todas as economias com o veterinário. Foi de um dia para o outro. 

Tatuagem foi feita após casal se despedir do primeiro filho. (Foto: Júlia Lopes Fotografia)
Gael vai saber pelas fotos quem foi o primeiro irmão. (Foto: Júlia Lopes Fotografia)
Filho de Priscila e Luccas deve nascer em maio. (Foto: Júlia Lopes Fotografia)

"Ele veio para nos ensinar a amar, a cuidar de outro ser que não fosse a gente. Veio para trazer responsabilidades, aliás porque se não éramos responsáveis com as coisas em relação a ele, ele destruía a casa inteira". As palavras saem da boca de Priscila com um gosto de saudade de quem transformou a vida dela e destruiu o coração da futura mãe quando partiu.

"Foi como se metade de mim também tivesse ido, foi uma dor que eu não sei explicar, até hoje dói muito falar sobre isso. É tanto amor que logo eu tão descrente, acredito na teoria do Chico Xavier, sobre a reencarnação entre os animais, é tanto amor que eu mentalizo isso todos os dias, esperando confortar esse buraco que o John deixou", descreve Priscila.

Quando ele se foi, o casal resolveu tatuar nas pernas o nome do primeiro filho. E quem acompanhou tudo de pertinho, foi Júlia, que antes de ser a fotógrafa do ensaio, era a dona dos pais de John e de quem Priscila e Luccas pegaram o bichinho. E reunir todos no ensaio, foi trazer para as fotos o que eles querem que Gael saiba no futuro, quem foi seu irmão mais velho.

"Tínhamos planos, para nós, tínhamos dois filhos, e não apenas um, hoje só nos resta um, só resta o Gael, que vai vir pra dar continuidade aquele amor, aquele amor que só um filho, independentemente se cachorro ou humano, pode dar", detalha Priscila.

Colocar os pais, Sophia e Hajj no ensaio foi a forma mais próxima de mostrar o amor, não só por bichos, mas também por John. Gael está de sete meses e meio na barriga de Priscila. O nome foi escolhido por significar generosidade, virtude que a mãe mais admira nas pessoas.

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E pais esperam pelo filho ou novo cão. (Foto: Júlia Lopes Fotografia)
Saudade ficou nos pais que amaram tanto em tão pouco tempo... (Foto: Júlia Lopes Fotografia)
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