Comportamento

Obsessão por passado se fortalece por medo do futuro, diz filósofo

Hans Ulrich Gumbrecht, professor de literatura comparada da Universidade de Stanford lotou auditório do Marco

Danielle Valentim | 24/09/2019 08:22
Hans destaca que o futuro já não aparece como um livro aberto e que está ocupado de ameaças que vão se aproximando. (Foto: Danielle Valentim)
Hans destaca que o futuro já não aparece como um livro aberto e que está ocupado de ameaças que vão se aproximando. (Foto: Danielle Valentim)

Pela primeira vez em Campo Grande, um dos principais teóricos da literatura em atividade hoje no mundo, o alemão Hans Ulrich Gumbrecht, passou pela cidade para falar sobre “Filosofia da Presença” na cultura contemporânea. Entre diversas suposições, o professor de literatura comparada da Universidade de Stanford/EUA destacou o porquê de tanto apego ao passado, uma questão que o brasileiro anda dominando bem na era Jair Bolsonaro.

Não é anúncio do apocalipse nem nada, mas o futuro imprevisível causa pânico, com previsões negativas para meio ambiente, por exemplo. Assim, o apego ao passado gera conforto, avalia Hans Gumbrecht, o que talvez explique a onda conservadora que reforça o que parecia debate ultrapassado, como a questão da sexualidade. 

O assunto é bem complexo, mas a todo o momento, o alemão, que fala muito bem português, se preocupa em saber as pessoas acompanham a conversa.

O auditório do Marco (Museu de Arte Contemporânea) ficou lotado de alunos, professores e demais interessados em mergulhar nos pensamentos do filósofo.

Antes de qualquer coisa, ele define presença. “Normalmente, quando se usa presente ou presença a gente fala de temporalidade, no meu caso vocês vão ver que é possível que a presença tenha mais a ver com espaço”, pontua.

Ele explica que até o "objeto intencional" tem o seu poder. "Que é qualquer percepção física. A gente registra a temperatura, mas não se está fazendo objeto intencional porque a gente não pensa naquilo. Mas agora, por exemplo, espero que minha voz seja objeto intencional, porque vocês estão prestando atenção nela”, explica.

Para ele, a nova geração é induzida a um desejo de qualquer que seja o tipo de presença, de proximidade e também de ter um envolvimento intenso com o passado. Mas na contramão dessa necessidade, aparecem ruídos, como as mídias digitais, cheias de “experiências estéticas” com o outro. "A comida tem de ser bonita, hoje em dia. Até ouvir música pode ser uma experiência estética", completa o filósofo. O problema está em perder o tempo de se conectar. “Só um homem que se auto-observa pode conservar sua independência", frisa.

Mas também exite o lado bom de tanta exposição, pontua. As pessoas trans, por exemplo, sempre existiram, mas hoje em dia a coisa mudou. "Coisas que pareciam impossíveis hoje são normais. Os professores falam mal do Wikipédia, mas isso é o onisciência".

Hans avalia que essas são conquistas maravilhosas, mas ao mesmo tempo têm consequências na política, porque as pessoas passaram a se comportar como torcidas organizadas. “As pessoas têm a necessidade de se agarrar a um discurso. Mas acho que a política correta seria admitir que não há soluções”, finaliza.

A palestra com Hans foi organizada pelo Grupo de Pesquisa Literatura, História e Sociedade, da UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul).

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