Comportamento

O que é pra ser "só mais um match" no Tinder, de repente pode virar casamento

Casal conta história do amor que nasceu no aplicativo de paquera mais badalado do país.

Gustavo Maia | 19/01/2019 08:53

João de 36 anos, estava passando uma temporada em Três Lagoas por conta do trabalho, e Ana de 35, foi do interior de São Paulo para fazer mestrado na cidade, gostou da terrinha e acabou ficando por lá. O match, que combina o perfil de dois usuários aconteceu no final de 2015 e eles estão juntos até hoje, acumulando 3 anos de histórias e de amor iniciado em um lugar onde, na maioria das vezes, as pessoas juram estar em busca apenas de relações eventuais.

Ana diz que usava o aplicativo despretensiosamente e ainda lembra que a princípio não deu muito crédito à combinação sugerida, afinal aquele poderia ser “só mais um match”. João diz que a sincronia foi tanta que os dois estavam online no aplicativo e se curtiram quase ao mesmo tempo e imediatamente começaram a bater papo.

Mas o encontro dos pombinhos não rolou de imediato. Atarefada com as funções de professora, ela não conseguiu reservar um tempinho para se encontrar com o paquera. “Justo naquele dia eu tava trabalhando numa documentação da escola que tinha que entregar no dia seguinte, não tinha como eu sair de casa, não dava nem pra chamar pra ir tomar uma cerveja”, lembra ela. João diz que não sentiu que estava sendo enrolado: “como era final de ano e ela é professora, eu até compreendi. Poderia ser verdade”.

Dois dias depois do match, João viajaria de volta para Porto Alegre, para passar as festas de fim de ano com a família, retornando duas semanas depois para MS. Porém o destino resolveu testar a persistência do futuro casal: ele perdeu o voo de volta e ficou em Porto Alegre por quase um mês. Mas eles não deram o braço a torcer e nesse período passaram a se falar todos os dias por chamada de vídeo. “Foi assim que a gente se conheceu, a gente conversava quase o dia todo”, lembra João, que imediatamente é corrigido por Ana: “não era quase o dia todo. Era o dia todo mesmo. E algumas noites também”, brinca ela, rindo do começo inusitado da relação.

“Se a gente não tivesse passado todo esse tempo se falando por vídeo, se conhecendo, talvez a gente teria só saído pra tomar uma cerveja, se rolasse algo, bem, se não rolasse, bem também, e cada um seguiria seu rumo. A gente ia continuar no tinder brincando de escolher gente”, avalia Ana.

João ainda se lembra do dia em que finalmente voltou para encontrar Ana pela primeira vez fora da realidade virtual. “Depois de 20 horas de viagem, dirigindo do Rio Grande do Sul até Três Lagoas, eu cheguei em casa, tomei um banho e fui direto pra casa dela, nem pensei em descansar”, confessa ele, dizendo que foi muito bem recepcionado por Ana que estrategicamente havia enchido a geladeira de cerveja e preparado uma mesa de frios. “Eu tava preparada: se eu não pegasse ele pela conversa, eu ia pegar pela barriga”, admite ela, revelando a tática usada.

Quando questionados sobre o que chamou a atenção deles no perfil do outro, cada um dá uma explicação diferente. Tinha algo literário no perfil dele que chamou a atenção da professora de Língua Portuguesa. “Essa pessoa não deve ser muito comum, deve ter algum diferencial, afinal de contas não é qualquer pessoa que coloca uma citação literária na biografia do tinder, né?”, brinca ela. 

João ainda se lembra da referência que usava, uma célebre frase do psicoterapeuta alemão Fritz Perls, considerado o pai da Gestalt: “Eu sou eu. Você é você. Eu sou responsável pela minha vida e você pela sua. Eu não estou neste mundo para atender às suas expectativas, nem você para cumprir as minhas. Se os nossos caminhos se cruzarem, será maravilhoso, mas, caso contrário, teremos que continuar avançando separadamente”.

Já no perfil dela o que mais chamou a atenção de João foi a aparência “diferentona” de Ana, que na época usava o cabelo bem mais curto do que hoje e na cor vermelha, quase alaranjada. “Não é um perfil muito comum, parece radical. Deve ser meio rock and roll, vamos ver”, pensou ele na época. E ele estava certo, porque Ana trazia na bagagem experiências de uma vida nem um pouco comum: contratada pelo Ministério das Relações Exteriores ela já havia sido designada para ensinar a língua portuguesa no Timor Leste, no Paraguai e por fim em Cuba, para os profissionais contratados pelo programa Mais Médicos que viriam atuar no Brasil.

Para poder ficar em Três Lagoas com Ana, João deixou o emprego que tinha na empresa gaúcha, que havia terminado a temporada na cidade e voltado para o Sul, e arriscou uma sociedade numa pastelaria, que depois de algum tempo acabou não dando muito certo. Apesar de tudo isso, Ana acabou se classificando num concurso do Exército aqui na capital e veio assumir o cargo, deixando João em Três Lagoas por uns meses, período em que eles se viam apenas aos finais de semana. Mais uma vez o destino testava a resiliência do casal, mas no fim das contas tudo acabou dando muito certo porque com o fim da sociedade na pastelaria ele pôde finalmente vir morar com ela aqui em Campo Grande.

Juntos há três anos, com bom humor eles se definem informalmente como marido e esposa, oficialmente como namorados e judicialmente solteiros, já que o Brasil não reconhece legalmente a situação dos “enrolados”. Mas para a alegria do casal, a família dos dois não faz aquela enfadonha cobrança por um casamento na igreja com direito a véu e grinalda, nem por netos. Sem dar muita bola, para eles o casamento é apenas uma tradição religiosa, uma formalidade que eles não fazem muita questão de cumprir.

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(*) A matéria teve o texto alterado e as fotos retiradas 5 anos depois da publicação, por pedido das partes que se separaram.

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