Comportamento

No fim não tem pote de ouro, mas como é a vida no bairro "Arco-Íris"?

Paula Maciulevicius | 31/03/2015 06:57
As ruas são do Branco, do Amarelo, do Verde, do Vermelho e por aí vai... (Foto: Marcos Ermínio)
As ruas são do Branco, do Amarelo, do Verde, do Vermelho e por aí vai... (Foto: Marcos Ermínio)

Entre o Bosque da Esperança e o Jardim Taianá, que também não são muito conhecidos, as cores do Arco-Íris formam o bairro de mesmo nome. As ruas são do Branco, do Amarelo, do Verde, do Vermelho e por aí vai... De colorido, apenas o sorriso dos moradores e o sonho de ver ali uma praça, um jardim e que o vermelho da poeira dê lugar ao cinza  do asfalto.

O bairro que fica próximo à região do Danúbio Azul, depois do Parque dos Poderes, deve ter pouco mais de 10 anos. O cálculo vem da época em que os primeiros moradores passaram a ocupar as ruas do Arco-Íris. No final dele não tem pote de ouro, apenas um menino num carrinho de bebê que desce a rua com fome. A seriedade de Fernando Augusto, de 9 meses, é explicada pela mãe, já era hora do almoço.

No final do Arco-Íris não tem pote de ouro, apenas um bebê com fome na hora do almoço. (Foto: Marcos Ermínio)

"O nome desse bairro? É engraçado mesmo..." Há 12 anos a manicure Kelly Lima de Siqueira passa por ali até chegar ao seu endereço, um pouquinho mais acima, no Jardim Taianá.

Empurrando o carrinho por ruas não asfaltadas, onde o colorido do vermelho da poeira sobe a cada direção tomada, ela vinha de um projeto que atende famílias da região. Para ela, o que falta para o bairro fazer jus ao nome seria uma praça e casas bem pintadinhas.

Com duas netas que lhe fazem companhia, deve ter quase 10 anos que dona Maria de Lourdes Santana, hoje com 61 anos, escolheu morar no Arco-Íris.

Nascida em Aquidauana, mas há décadas em Campo Grande, a fachada da casa dela é simples conquista quem passa pela Primavera florida. "É porque eu gosto de flores, gosto de plantar", se justifica. É para dar cor à rua do Branco.

"Aqui é do Branco, pra lá tem Vermelho, Verde e Amarelo... São todas as cores do Arco-Íris. Eu acho legal, porque a gente nunca ouviu falar assim, então é curioso..."

O colorido da rua vem da Primavera de dona Maria de Lourdes. (Foto: Marcos Ermínio)

Marco que colore o céu depois da chuva, ali, o Arco-Íris - apesar de dar nome ao bairro - não é muito desejado não. "Quando chove aqui, é feio. O negócio fica um brejo. Mas se dá pra ver o Arco-Íris? Dá sim, e é bonito".

O sotaque da mineira Azeli Conceição dos Santos, de 62 anos, é um colorido à parte no bairro. Apesar de ter deixado as Minas Gerais aos 9 anos, ela não perdeu o jeito de falar e talvez nem a mão para fazer uma boa comida. Conversa vai, conversa vem, ela se esquece de apagar o fogo que cozinha um feijão dos mais convidativos que já senti.

"Eu não sei te explicar a história do bairro, porque eu cheguei atrasada. Tem 8 anos que estou aqui, vim lá do José Abrão", relata. Com chuva ou sem chuva, ela brinca que já está no Arco-Íris, mas que se cai água... 

No Arco-Íris, cearense viu a expectativa correspondida. (Foto: Marcos Ermínio)

"Se sai de casa, não volta. Se tem que voltar, é descalço". Só duas vezes, depois da chuva, é que ela se lembrou de olhar pro céu. "Eu acho que eu vi mesmo, umas duas vezes. A gente esquece de olhar".

Para o cearense Gilberto Manoel de Oliveira, de 45 anos, o Arco-Íris é concretização da expectativa de quem deixou o Nordeste cedo, bem cedo. "A maioria do povo do Nordeste vem pra cá com a expectativa de melhorar, de melhorar de vida. Até hoje esse é o fator principal", explica.

Há 10 anos na região, ele também não sabe o motivo do nome do bairro, mas é algo que ainda lhe desperta a curiosidade. "Nunca tinha visto nomes de ruas assim. Para ser colorido, aqui falta muito...". Pergunto se o Arco-Íris lhe correspondeu a expectativa que o trouxe à Capital. "Sim, correspondeu sim", diz o morador da Rua do Branco.

De colorido, apenas o sorriso dos moradores e o sonho de ver ali uma praça, um jardim e que o vermelho da poeira dê lugar ao cinza do asfalto.(Foto: Marcos Ermínio)
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