Comportamento

Negócio anda fraco, mas compradores de ouro ainda lucram com brigas de casais

Alguns dizem que melhor dia é na sexta-feira, quando muita gente a aprece para vender aliança e usar o dinheiro na balada

Thailla Torres | 10/05/2018 07:35
Placa antiga, em um corredor do Centro, prova que o comércio é antigo por ali. (Foto: Paulo Francis)
Placa antiga, em um corredor do Centro, prova que o comércio é antigo por ali. (Foto: Paulo Francis)

Nas ruas do Centro da cidade o que não falta é placa dizendo: "Compro e vendo ouro". O desgaste na escrita prova o tempo de um dos comércios mais antigos do mundo. Por ali, o brilho do ouro que encanta é o mesmo que salva muita gente do aperto quando o bolso esvazia. Mas o negócio nunca andou tão devagar, dizem os negociadores. O único alento são os apaixonados, que adoram colocar e tirar alianças do dedo e, entre idas e vindas, a primeira coisa que fazem é se livrar da "má sorte" do anel.

"Aliança é o que mais vende. Sexta-feira, a gente compra muito, é o que faz dinheiro na hora", diz o comprador de ouro Antônio Pedro Fernandes, de 54 anos. "Tem gente que briga e vende aliança para ir para a balada", explica.

Diante da decadência do negócio, segundo os comerciantes, a compra só é promissora por aqui por conta do número de separações. "Ninguém vai dar a mesma aliança para mulher ou homem atual. Acaba o casamento, a aliança vai junto. Quando alguém joga fora, dá até dó", justifica Antônio.

Balança ainda usada por Antônio Mangelli. (Foto: Paulo Francis)
Tem cliente que só confia nas antigas. (Foto: Paulo Francis)

Depois da aliança, chegam até os corredores poucos colares, pulseiras, anéis, joias compradas por um valor altíssimo que tornam-se um desgosto para quem se desfaz da peça. "Porque a gente compra ouro e na loja as pessoas compram joias. Aqui é o peso do ouro que vale, mas quando as pessoas chegam para vender, acreditam que vamos comprar pelo valor que a peça custou e não é".

Há dois anos, depois de abandonar a profissão de moto-taxista com a chegada do Uber, Antônio ouviu a ideia de um amigo e não pensou duas vezes: foi comprar ouro em um corredor escondido do Centro, para depois revender. "Agora estou com a oficina fechada, não está numa época muito boa para fabricar, tudo depende de tempo. Só compro e vendo".

A maioria das peças vendidas é comprada em leilões, de pessoas que penhoraram o metal valioso na esperança de regastá-lo, mas acabam perdendo para o banco.

É com esse medo que muita gente acaba batendo na porta para vender, diz outro comprador, Antônio Mangelli, de 63 anos. Metade de sua vida é marcada por esse tipo de comércio que começou com o irmão.

Pela segurança, ele pede para não ser fotografo depois de abrir uma porta de ferro no fim de um dos corredores da rua. "Ouro é dinheiro, é sempre bom tomar cuidado", diz se referindo a violência. "Meu irmão já foi assaltado, colocaram ele deitado no chão e levaram um lote inteiro", recorda.

Antônio Pedro está no ofício há 2 anos. (Foto: Paulo Francis)

Antônio conta ter vivido "tempos de glória" do ouro. "Na década de 80 e 90, era muita gente vendendo. "O pessoal ia penhorar no Banco, mas os avaliadores na época não tinham o treinamento que têm hoje. Como eu estava do lado, entravam aqui, mostravam o ouro e já saim com o dinheiro".

Com a decadência, a compra diminuiu e não é toda peça que Antônio aceita. "Se for uma quantia muito grande a gente não aguenta comprar".

Todo cuidado ainda é pouco, comenta. O que não falta é gente tentando enganar. "Para comprar, tento fazer um levantamento, porque ouro, geralmente, não tem documento. A gente nunca sabe se é da pessoa. Por isso, olho a gravura, peço documento pessoal e pergunto a data da compra".

Diante da freguesia antiga, na mesa de Antônio tem duas balanças, uma eletrônica outra manual. Mas a tradição ainda é o que domina "Tem cliente que prefere essa antiga, eu também prefiro. Mas tem quem não conheça e nem confie, daí usamos a eletrônica".

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Com a decadência nesse tipo de comércio, não é toda peça que o comprador aceita(Foto: Paulo Francis)
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