Comportamento

Nascido na Eslovênia, avô só usa chinelos enquanto neto é o legítimo cowboy

Paula Maciulevicius | 30/03/2015 06:57
Do avô esloveno, ao neto cowboy. A diferença entre os dois vai além dos 51 anos. (Foto: Marcos Ermínio)
Do avô esloveno, ao neto cowboy. A diferença entre os dois vai além dos 51 anos. (Foto: Marcos Ermínio)

Do avô esloveno, ao neto cowboy. Os 51 anos que separam Janko e Gabriel não é a única diferença entre eles. O avô, nascido na Eslovênia completa 60 anos no Brasil. O neto não viveu nada do pós-guerra, já nasceu aqui e tem nas raízes a infância na fazenda.

Na série "De guarda-roupa aberto" desta semana, a família Slavec quem abre as portas para mostrar que o estilo pode ser bem diferente, assim como a criação, mas que a personalidade tem lá suas semelhanças, mesmo que um use botina e outro chinelos. 

"Nosso estilo é bem diferente mesmo. Eu fui criado em fazenda desde pequenininho. Meu avô, a gente não teve tanto contato assim, não lembro como ele se vestia antigamente, lembro dele assim...", conta o estudante de Medicina Veterinária, Gabriel Luz Slavec, de 21 anos.

Criado em fazenda, Gabriel segue o estilo até hoje. (Foto: Marcos Ermínio)

O avô, Janko Slavec, explica que teve duas fases e que hoje compartilha do lado mais "desapegado" da vida. O convívio entre eles foi retomado há 9 anos. 'Seu' Janko morava no Ceará. "Justamente nessa fase mais interessante de avô e neto, eu morava lá e só nos víamos quando eles iam ou eu vinha, a cada dois, três anos", relata.

Para explicar o hoje, seu Janko volta ao passado. Sua infância foi bem longe da criação em fazenda que o neto já teve. "No pós-guerra, a gente até podia ter dinheiro, mas não tinha o que comprar. Era o short do mais velho que passava para o mais novo e assim por diante..."

Já adulto, no Brasil, é que ele foi passar a viver um padrão mais alto, que também exigiu melhores vestimentas, entre camisas, ternos e calças. Uma época em que Janko teve comércio, várias lojas, funcionários e pelo menos três telefones tocando quase que ao mesmo tempo.

A segunda fase já foi vivida na praia. "Aí o estilo dele mudou, ele gosta mais de coisa artesanal", explica o neto. "Comecei um negócio mais tranquilo, passei a simplificar a vida, a ter menos problemas", descreve Janko. O resultado foi passado também para as roupas. O desapego da vida corrida reflete no chinelo que ele calça, nas bermudas e camisetas mais simples.

Para explicar o hoje, seu Janko volta ao passado. (Foto: Marcos Ermínio)
No guarda-roupa, neto exibe camisas e fivelas. (Foto: Marcos Ermínio)

Quando o neto abre o guarda-roupa o que salta aos olhos é a diferença. Polos e camisas sociais. Botinas, calças jeans e cintos com fivela. "Fui criado assim, não fugi disso", esclarece. Do menino que passava os 30 dias na fazenda trabalhando com o pai para o estudante de Veterinária. A escolha do profissional seguiu à risca o que Gabriel sempre encarou como hobby.

No que se parecem então? "Talvez de perfil" - brinca o avô. "Mas eu sou mais bonito que ele" - devolve o neto. O bom humor e a disposição estão, à nossa vista, bem definidos como semelhanças. Para o neto, é preciso pensar um pouco antes de responder.

"Não sei o que a gente se parece. Talvez no pensamento. Ele é muito certo nos pensamentos dele, eu também. O que a gente pensa que é certo. Eu sou meio assim, meio autoritário", compara Gabriel.

O avô não discorda. Ainda está pensando nas diferenças até chegar nas preferências musicais. "Eu gosto de música erudita, samba, bolero, uma coisa mais romântica", explica. O neto, não chega a gostar do universitário, mas não abre mão do sertanejo. "Eu gosto mesmo é do de raiz e do country".

Se o tempo fez com que seu Janko dividisse as fases da vida até alcançar a simplicidade dos chinelos, pergunto se Gabriel se vê assim no futuro. "Se eu tiver com a vida ganha", brinca.

A diversão do avô é em parte o trabalho do neto. No quintal da casa de seu Yanko é que se encontram as semelhanças nos afazeres. Há cinco anos o avô passou a ter horta e pomar. O que podia ter do campo, dentro da cidade. A motivação é que se diferencia. Gabriel gosta do campo por criação, Janko trouxe um costume esloveno para Campo Grande. Por lá, todas as famílias plantam suas próprias frutas.

Artesão e artista, o quadro da parede da sala do avô tem cavalo pintado, uma das grandes paixões do neto. 

No que se parecem então? "Talvez de perfil" - brinca o avô. "Mas eu sou mais bonito que ele". (Foto: Marcos Ermínio)
No quintal da casa de seu Yanko é que se encontram as semelhanças nos afazeres. (Foto: Marcos Ermínio)
Seu Janko tem na parede uma das grandes paixões do neto, um cavalo. (Foto: Marcos Ermínio)
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