Comportamento

Na velha rodoviária, donos cedem imóveis de graça a quem quiser abrir negócio

Ângela Kempfer | 13/03/2013 06:56
Heloísa mostra salas que são alugadas na base da parceria.
Heloísa mostra salas que são alugadas na base da parceria.

A vontade de dar vida nova à antiga rodoviária de Campo Grande é tanta, que os donos estão cedendo os imóveis de graça para quem quiser montar algum negócio no prédio. Pelas salas, as menores com 21 metros quadrados, são cobrados apenas IPTU e condomínio, um desembolso de R$ 300 ao mês.

Dos 112 proprietários, 80 entraram em consenso e decidiram abrir mão do aluguel na tentativa de movimentar o espaço. A revitalização é o assunto dos últimos anos, desde a que o transporte foi transferido do local. Quem ficou, quer ter motivos para permanecer.

A pintura é feia, a estrutura ultrapassada, mas como foi deixada ao léu, artistas e empreendedores underground adotaram a velha rodoviária como “causa”. Vire e mexe, fazem alguma manifestação artística para deixar clara a preocupação com o endereço que já representou muito para a região.

Algumas pessoas já perceberam a nova vocação do prédio: a cultura. Já ocuparam o local, produtora, estilista, estúdio fotográfico, boate e escola de teatro. Hoje, a proprietária Heloísa Cury fechou acordo com mais um fotógrafo, por 6 meses. Se o estúdio vingar, depois o aluguel passará a ser cobrado.

Agora falta um bom bar, mas não qualquer um, lembra a dona de 12 salas no condomínio. “Mas não pode chegar aqui com uma churrasqueira e uma cadeira de plástico dizendo que é bar, isso a gente não aceita. Queremos um projeto bem feito, charmoso, com música ao vivo”.

O problema é que o condomínio fecha às 20 horas e só uma ocupação significativa do prédio garantiria o pagamento, por exemplo, de seguranças para o funcionamento até mais tarde.

Heloísa ainda tem 1 quadra inteira fechada, mas “detonada”, que espera conseguir transformar em sede de uma empresa grande, como uma academia. “Quem assumir a sala, terá de pagar só R$ 900,00 das taxas, nada mais por um ano. O que é esse valor para um ponto da Dom Aquino?”, comenta.

 

Á noite, todo o comércio termina às 20h.

Com o valor referente ao condomínio entrando, será possível dar uma “ajeitada” no prédio, lembra a empresária. “Muita gente não quer vir por achar tudo muito feio. Com esse sistema, vamos ter dinheiro para melhorar, para tudo ficar mais bonito”.

Ela segue com a propaganda, dizendo que há possibilidade da Câmara de Vereadores ou da Fundação de Cultura ocupar 6% do prédio, que é propriedade da prefeitura de Campo Grande. “Daí o movimento será melhor ainda”, garante.

Os dois cinemas da antiga rodoviária, Plaza e Center, estão à venda por R$ 1,5 milhão desde o ano passado, mas até agora ninguém apresentou proposta. O estacionamento subterrâneo, com 250 vagas, também espera um comprador. O valor inicial para os 4,7 mil metros quadrados era R$ 2,5 milhões, mas parece que o preço caiu.

O estilista Fábio Maurício ocupa um salão enorme no prédio. Há 8 meses trabalhava na avenida Joaquim Murtinho. “No começo tive receio, mas me surpreendi. Tenho uma missão, quero produzir algo diferente para mudar a visão sobre este lugar”.

O fotógrafo Igor Duarte está na antiga rodoviária desde dezembro. Começou fotografando shows do cantor Michel Teló e quando teve de montar estúdio, escolheu imóvel no lugar desprestigiado, mas de custo baixo. “Vim sem medo e não me arrependi. Acho que esse lugar ainda tem muito para ser aproveitado”, avalia.

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