Comportamento

Na escola ninguém gosta de cantar, mas por que no futebol o hino emociona tanto?

Paula Maciulevicius | 17/06/2014 17:06
"Como se fosse o sangue, a raça", define Paulo, o hino nacional. (Fotos: Cleber Gellio)
"Como se fosse o sangue, a raça", define Paulo, o hino nacional. (Fotos: Cleber Gellio)

O relógio marcava 14h54. O local era a Vila Brasil, nos altos da avenida Afonso Pena. Na execução do hino do México os torcedores viam o celular, arrumavam a bandeira, o chapéu. Rumo ao telão, o que se via eram olhares desatentos. Versos finalizados, buzinas à postos, no estádio e no coração dos brasileiros a batida anunciava, começava o hino nacional brasileiro.

Buzinas, gritos, euforia. Tudo antecede o primeiro verso. Assim que se toma o ar para cantar não se ouve mais nenhum pio a não ser as batidas do coração. “Ouviram do Ipiranga” sai pela boca, mas vem da alma. A emoção de cantar em coro, à capela, leva quase que automático a mão ao peito. Nesta hora, ser contra a Copa fica em segundo plano. Nos próximos minutos, o sentimento brota das palavras para os olhos. É difícil segurar o choro, afinal por quê, em Copa do Mundo, o hino emociona tanto?

Sai da alma, brota aos olhos, que o diga o administrador Marcos.

“Não tem como. É a música, é de coração. É muito lindo saber que a seleção brasileira joga aqui, joga em casa. O hino nacional é como se fosse sangue, raça, é f. É muito bom”, define Paulo Martins, professor de música conhecido como 'Pinguim'. Aos 37 anos, ele era o torcedor da primeira fila de cadeiras a se levantar. Para ele, cantar o hino hoje é um misto de patriotismo e saudade. “Sou de Fortaleza, no Ceará. Estou longe da minha cidade, o hino faz com que eu me sinta em casa”.

“Gigante pela própria natureza” é para mim a frase mais bela do hino. “És belo, és forte, impávido colosso,
E o teu futuro espelha essa grandeza”. As palavras saem da boca como se nunca tivessem antes sido ditas. Como se na escola, quando havia o hábito de cantar o hino, os alunos não torcessem o nariz. Em campo, com verde e amarelo na tela e ao vivo, a garganta dá nó.

“Ele representa para mim todo o ideal, tudo o que o Brasil representa. Pátria amada, terra de gigantes, um país que pode acreditar no futuro, é próspero, é belo. Eu me emociono porque, principalmente, traz à nossa memória toda jornada de luta que o Brasil passou e pelo que passa ainda”, explica o administrador Marcos Silva, de 28 anos.

Na partida contra o México desta terça-feira, a música tocou só a primeira estrofe. Para coração brasileiro, não precisava acompanhamento. As vozes saíam por si só em tom afinado. Na Vila Brasil o trecho “Deitado eternamente em berço esplêndido” saía ainda mais alto, com mais amor. Como se fosse a prova do orgulho brasileiro.

“Não tem explicação, é o hino. Me emociono, a gente tenta segurar, mas não tem jeito, sai o choro”, desabafa o conferente Silas Antunes, de 24 anos. Com o filho no colo, Salis, de 4, já sabe o peso da camisa e a honra de cantar o hino brasileiro.

Pai e filho. O menino, de 4 anos, já sabe o peso da camisa e a honra de cantar o hino brasileiro.
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