Comportamento

Morte foi despedida de uma união de 50 anos e do padre que não pedia férias

Aos 81 anos, no Dia de Reis, o coração do padre Fabiano Figueiredo parou de bater

Thailla Torres | 07/01/2018 08:33
Sábado as missas na Cristo Luz dos Povos foram de corpo presente. (Foto: Marcos Ermínio)
Sábado as missas na Cristo Luz dos Povos foram de corpo presente. (Foto: Marcos Ermínio)

As lágrimas do padre Ubajara Figueiredo não eram de despedida ao irmão Fabiano, mas de uma saudade que agora acumula no peito. No sábado, 6 de janeiro, o coração do irmão e seu melhor amigo deixou de bater após 81 anos de idade e uma fidelidade religiosa que completou cinco décadas.

Ubajara tem 77 anos e foi à missa de corpo presente na Paróquia Cristo Luz dos Povos, na Vila Bandeirante, onde o irmão permaneceu por anos. O sorriso apareceu de um jeito sensível ao lembrar que nunca fizeram nada separados, inclusive, entrar no sacerdócio. "Tudo o que nós somos e conseguimos ser, fizemos juntos. Acho que a única coisa é que Fabiano decidiu ser mais velho que eu", brincou.

Juntos, os irmãos Ubajara e Fabiano completaram 50 anos de sacerdócio.

Entre um abraço e outro, Ubajara recebia as condolências de quem chegava emocionado à missa. Muitos acompanharam de perto a trajetória dos dois irmãos: os primeiros sacerdote ordenados por Dom Antônio Barbosa – também o primeiro arcebispo metropolitano de Campo Grande.

Antes disso, quando Dom Antônio Constituiu Ubajara a pároco, Fabiano era seu auxiliar. "Acompanhamos juntos Dom Antônio por boa parte das paróquias do Estado. Sempre compartilhando a fé e pelo bem do povo. Aliás era tudo que Fabiano mais fazia, ele se dedicava muito ao próximo".

Ubajara é o caçula de 12 irmãos que nasceram em Três Pontas, sul de Minas Gerais. Ele e Fabiano, entraram jovens para seminário e desde março de 1951 são dedicados ao sacerdócio, um sonho de trilharem o caminho da fé juntos. "Viemos de uma família muito fiel, os outros filhos, todos também casaram na Igreja Católica, graças a Deus", lembra.

Enquanto ele, presenciou Fabiano em sua caminhada religiosa, sempre muito aplicado, disponível e doando sua vida na construção de muitas outras igrejas da Arquidiocese de Campo Grande.

Por isso ficou conhecido como o padre que nunca pedia férias. "Nós é que tínhamos que pedir por ele", destacou o Bispo Dom Vitório Pavanelo, que celebrou a primeira missa de corpo presente e se emocionou ao recordar os 32 anos de companheiros ao lado dos irmãos.

"Sinto muito a partida deste homem e com a minha idade, fico ainda mais emotivo", justificou as lágrimas durante quase toda cerimônia. "Mas sou muito grato a tudo que ele fez por mim, por essa comunidade e todas as pessoas".

Em 2017, os irmãos comemoraram 50 anos de sacerdócio. Mas há um década, a saúde não foi mais a mesma, quando o Alzheimer acabou levando Fabiano para outros momentos. "O diagnóstico veio há 10 anos, desde então ele não fala e nem anda mais".

Dom Vitório Pavanello, emocionou-se durante missa de corpo presente.

No entanto, nos últimos três anos, a doença avançou. Ano passado com as internações recorrentes, a saúde ficou ainda mais debilitada. Fabiano precisou fazer uma gastrostomia para se alimentar e em seguida até uma traqueostomia para respirar melhor. Mas na madrugada de sábado, ele partiu.

"O meu coração está forte porque tenho toda certeza que ela está com Deus e intercedendo junto a Ele por nós, pela igreja e por todas as pessoas que passaram pela sua trajetória", diz Ubajara.

Às 9h deste domingo (7) será realizada a missa exequial, celebrada na paróquia pelo arcebispo metropolitano de Campo Grande, Dom Dimas Lara Barbosa. O sepultamento está previsto para as 10h30, no cemitério Parque das Primaveras.

Curta o Lado B no Facebook e Instagram.

Nos siga no