Comportamento

Mensagem difícil de decifrar leva a um "pequeno tesouro" plantado na periferia

Aline Araújo | 09/10/2014 06:35
A placa fixada na árvore dá nome a rua. (Foto: Marcos Ermínio)
A placa fixada na árvore dá nome a rua. (Foto: Marcos Ermínio)

“Rua Vai Quem Quel. Esquina com Escorrega La Vai Um. Recanto dos Eucaliptos”, informa a placa fixada em árvore na entrada de uma ocupação no bairro Mário Covas. O erro ortográfico é o que chama menos atenção. Nem os próprios moradores do bairro entendem o que a placa significa, muito menos, imaginam que indica a localização de um "tesouro".

“Nós íamos perguntar para ele (autor da faixa) o que significa, mas ficamos com vergonha”, comenta Gracione Souza, de 40 anos, a vizinha que mora em frente ao local onde a placa foi fixada. Ela aponta para a casa no final do "trieiro" aberto pelos moradores entre os barracos construídos por ali. “A filha dele mora lá fundo, pergunta para ela”, aponta.

A placa marca o inicio da rua. (Foto: Pedro Peralta)

Chegando à última casa, feita de madeira, encontramos Ester Luciana dos Santos, de 40 anos. A filha confirma que quem colocou a placa foi o pai, Valdeir Almeida, de 67 anos, mas comenta que nem ela entendeu direito a mensagem escrita em letras vermelhas, em um compensado curvo, preso com tampinhas de garrafa.

Na casa, mora Ester, a irmã e o filho, o pai vive no bairro Paulo Coelho Machado, mas sempre vai almoçar com as filhas. “Ele esteve aqui mais cedo, veio almoçar com a gente. Ele sempre inventa alguma coisa. Quando a gente mudou para cá, para fugir o aluguel que estava difícil, não tinha quase ninguém. Só mais duas casa, foi meu pai que fez essa rua com a ajuda dos vizinhos”, lembra.

Aos poucos, o Lado B foi desvendando o mistério da placa, o final da rua “Vai Quem Quer” e não "Vai Quem Quel", acaba em uma plantação de eucaliptos plantados um a um pelo próprio Valdeir há 8 anos.

O lugar é todo irregular, sem titulação, mas a família arrumou tudo como se fosse ficar para sempre. Para aproveitar a sombra das árvores, ele também fez mesinhas com rodas de carroça e banquinhos com tábuas de madeira e concreto.

Ao lado da casa, a plantação de eucaliptos de Valdeir. (Foto: Pedro Peralta)
Área de lazer aproveita a sombra das árvores. (Foto: Pedro Peralta)

A área de lazer, que tem até churrasqueira, montada por ele no fundo da casa da filha é o tal “Recando dos Eucaliptos”, também anunciado na placa.

Valdeir garante que a placa foi presente da prefeitura para ajudar na hora da correspondência entregue pelos Correios, apesar de todos os erros e a escrita à tinta. “Está registrado lá”, informa.

E o nome, “Escorrega Lá Vai Um”, já é antigo. “Lá em baixo tinha uma rua que chamava assim, porque tinha uma pinguela (ponte improvisada). Quem ia lá escorregava e caia dentro do córrego”, explica, meio confuso.

 

Nem Ester entendia direito a placa colocada pelo pai. (Foto: Pedro Peralta)

Mandaram tirar a ponte de lá, por isso “Esquina com Escorrega Lá Vai Um”. A ideia de plantar mais de dois mil pés de eucaliptos em uma área que não é dele, surgiu com o sonho do dinheiro que vem da árvore bem valorizada no mercado.

“Os vizinhos falaram que eu era doido, que daqui um dias eles iriam tirar a gente dali e mandar para outro lugar. Desse dia, já faz oito anos”, comenta, rindo da situação.

Mesmo com toda a incerteza que uma ocupação ilegal significa, ele parece ter certeza que vai lucrar um dia. “Eu conversei na prefeitura e eles garantiram que no dia que forem desocupar a área eles só querem o terreno é para eu me virar e tirar meus eucaliptos de lá”, conta o feirante, que por segurança, já comprou até uma motosserra para fazer o trabalho.

Há um tempo, diz que já ganhou uma quantia com meia dúzia de eucaliptos que havia plantado, e que sabia que a árvore valia a pena. Para Valdeir, as árvores são um pequeno tesouro, que vai ganhando valor a cada dia, mas por enquanto, só deu nome à rua que não está no mapa.

Ele decidiu investiu para ver se dinheiro realmente nasce em árvore.
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