Comportamento

Maria perdeu irmã em dia de derrota na Copa e hoje alivia saudade colorindo rua

Duas tristezas em um mesmo dia e uma saudade que ela carrega no peito até hoje

Thailla Torres | 05/07/2018 06:20
Dona Maria continuou apaixonada por Copa do Mundo e mundial virou inspiração para lembrar do que a irmã mais amava. (Foto: Fernando Antunes)
Dona Maria continuou apaixonada por Copa do Mundo e mundial virou inspiração para lembrar do que a irmã mais amava. (Foto: Fernando Antunes)

Uma tragédia não destruiu o amor de dona Maria Ferreira Vagner, de 71 anos, pela Copa da Mundo, para quem o Mundial está marcado para sempre na história de vida. Era domingo, 24 de junho de 1990, quando a aposentada recebeu a notícia que a irmã caçula havia partido em um acidente de ônibus. No mesmo instante, viu o Brasil ser eliminado da Copa pela Argentina, com um gol do Cannigia. Duas tristezas em um mesmo dia e uma saudade que ela carrega no peito até hoje.

Na série "O que ficou de quem partiu", ela conta mais que uma relação com o futebol, é a lembrança de uma cumplicidade entre irmãs que a imprudência tirou, mas é lembrada com amor. Rosa Maria Ferreira do Nascimento era a caçula dos oito irmãos da família. À época ela tinha 18 anos e prometeu à Maria que jamais assistiria uma Copa sem ela. Mas naquele dia, ela não chegou para a partida.

A irmã faleceu em um acidente com outras 22 pessoas na BR 163. (Foto: Fernando Antunes)

"A gente sempre amou Copa do Mundo, era aquela festa em casa quando o Brasil jogava. E naquele fim de semana ela resolveu ir para Nova Alvorada, quis ir de ônibus e eu pedi para que ela viesse de carona", lembra.

Rosa viajou numa sexta-feira e prometeu que estaria de volta no domingo. Sem ouvir o pedido de Maria, embarcou em um ônibus para chegar a tempo em Campo Grande. "Mas no meio do caminho aconteceu um acidente. Foi ônibus e carreta", lembra com a foto preferida de Rosa em mãos. "Ela sentava na primeira poltrona, além dela, morreu o motorista e outras 22 pessoas estavam no ônibus", conta.

Embora o acidente tenha ocorrido durante a tarde, na BR-163, a notícia só chegou à família no início da noite. "Foi aquela preocupação porquê não tinha notícias. E quando chegou foi uma tristeza muito grande. Tinha visto o Brasil perder naquela tarde e depois perdi minha irmã caçula".

Superação - Mas ao ouvir Maria falar da irmã e mostrar a decoração verde e amarelo por toda casa, no bairro Moreninha, parece que a alegria de Rosa continua aqui, no jeitinho fiel Maria ao torcer para a Seleção Brasileira. 

Decoração para Copa do Mundo 2018 na casa das Moreninhas. (Foto: Fernando Antunes)

"Foi um ano de muita tristeza, eu não sabia o que pensar naquela época. Parece que a Copa do Mundo pra mim tinha acabado, mas quando chegou 1994, resolvi pintar e colorir tudo de novo. Acho que foi isso que aliviou um pouco a saudade", descreve. 

Desde então dona Maria não para. A cada quatro ano o verde e amarelo toma conta da rua. A tradição foi passada para os filhos que reuniram a vizinhança para colaborar na torcida. "Houve ano da gente encher essa rua de bandeirinha, pintar a porta da casa e até enfeitar a árvore. Tem ano que a decoração é menor, mas a gente nunca deixa de enfeitar".

O exemplo é a casa de Maria que tem bandeira pintada na parede, pendurada na janela e estrelas verde, amarelo e azul no teto. O portão também está com a pintura da Copa de 2014 e por sorte não houve 7 a 1 que abalasse a torcida. "Esse ano gastamos 15 latas de tinta para pintar tudo e o mais legal é que todo mundo daqui ajudou, adultos e crianças".

No dia de jogo, tem união e até churrasquinho na porta de casa. Seu Catarino Lino, de 78 anos, e a esposa Leontina Valêncio, de 88, são os primeiros a entrar na torcida. "Copa do Mundo é a nossa alegria e eu sou Brasil até o fim da vida", diz Leontina. A camisa de torcedor é usada até nos dias de semana e a felicidade é saber que na próxima sexta-feira, a turma terá chance de ver a partida novamente.

"Olha, é uma emoção tão grande que a gente fica até de coração apertado. Mas é gostoso ver todo mundo reunido, torcendo e brincando. Tomara que seja assim até o nosso Brasil vencer".

Para dona Maria, graças a família, aos vizinhos e a alegria de uma Copa do Mundo, hoje ela consegue conviver com a saudade de maneira mais tranquila. A tristeza deu lugar aos bons momentos que um dia ela e irmã passaram juntas. "Eu nunca esqueci dela, lembro todos os dias. Mas na Copa tudo é ainda mais especial. Se eu mudar para um chácara, até lá vou dar um jeitinho de enfeitar".

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Turma é animação a cada quatro anos na rua Manajó no bairro Moreninha II. (Foto: Fernando Antunes)
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