Comportamento

Hoje na cadeira de rodas, Ari sofre vendo abandono da praça que leva seu nome

Adriano Fernandes | 09/01/2016 07:12
No Aero Rancho, praça era xodó de morador.
No Aero Rancho, praça era xodó de morador.

Quando se mudou para o Aero Rancho, ainda no ano de 1989, Ari Flores tomou para si um espaço que até então estava abandonado. O terreno baldio em frente ao novo endereço, na Rua José Gonçalves Aguilera, deu lugar a um bosque, com bancos e o titulo dado pelos vizinhos de “Praça do Senhor Ari”.

Mas a dedicação diária do morador, no plantio das mudas e na manutenção do espaço, foi comprometida pelo diabetes. Hoje em dia, sobre a cadeira de rodas, Ari se queixa do descaso dos moradores com o espaço que ele sempre manteve com tanto carinho.

Ele descreve em detalhes como era o local, antes da revitalização que quis iniciar por conta própria. “Era completamente abandonado, tinha entulhos de areia, pedra, não era bem cuidado. Foi então que eu comecei a zelar, varrer, recolher o lixo para manter sempre limpo”, conta.

Segundo Ari, a iluminação já era precária e o que tinha de mais próximo do visual de uma praça, eram as poucas mesas. “Mas que logo os vândalos vieram e destruíram. Nem sequer parecia uma praça de verdade”, recorda.

Ari mostra as fotos de como a praça era antes.

Então ele aliou o gosto pelo trabalho na terra com o desejo de tornar o terreno em um ponto de lazer para os moradores.

Ali, plantou dezenas de mudas de pés de manga, cocos, abacate, amora e goiaba. Do próprio bolso, tirou o dinheiro para instalar 13 bancos de concreto no local. Chegou a desembolsar R$ 250,00 por mês nos cuidados com a praça.
Dessa época, ele guarda os registros do lugar que se tornou ponto das dezenas de fotografias dele, da família e amigos. Ari aparece em todas elas, cuidando da neta que se aventurava subindo no pé de seriguela. Árvore que também fazia a alegria das outras crianças do bairro.

Sempre cuidou daquela praça como se fosse a extensão da própria casa. “Porque é isso que todo mundo necessita para viver bem: cuidar do lugar onde vive”, ensina.

A “Praça do Senhor Ari” serviu para receber festas de Nossa Senhora Aparecida, Santo Antonio, churrascos entre os moradores e até quadrilhas.

Ele fez até uma varandinha de madeira entre os pés de manga. “Para quem quisesse se proteger da chuva”, diz. Onde antes a lama tomava conta em dias de temporal, Ari mandou cascalhar.

Diabetes deixou Ari na cadeira de rodas.

Ainda segundo o morador, teve uma época em que a praça era toda cercada com toras de eucalipto. Uma tentativa de fazer do local espaço para caminhadas e outras atividades físicas, mas que não deu muito certo.

“Em meados de 2002 eu mandei cercar toda ela, mas então eu adoeci e os moradores começaram a arrancar a madeira, os vândalos a depredar”, se queixa. O diabetes fez com que Ari fosse parar numa cadeira de rodas.
Em novembro de 2014, a perna direita teve de ser amputada.

“Eu fui adoecendo, o coração foi ficando fraco, mas eu não culpo a doença. Faz parte, foi uma consequência da vida. Eu continuo na ativa”, brinca.

De planos para o futuro, o morador pretende criar uma associação composta por outros moradores, que assim como ele, se dedicam a preservar os espaços públicos. “O poder público não tem o devido interesse com estes locais, então o meu sonho é viabilizar o trabalho desses moradores”, conta.

Atualmente, Ari é aposentado, depois de anos trabalhando como oficial de justiça, mas até carroceiro ele já foi. Do mercadinho que montou em frente a sua praça, ele ainda admira tudo que plantou, mas sente pela falta de colaboração dos moradores em manter o local.

“Aquele amontoado de lixo está ali há pelo menos dois meses", aponta. "Eu não jogo lixo na rua, eu sempre mantive limpo o ambiente onde eu vivi, mas as pessoas não tem essa consciência, nem o município. Eu vou mandar limpar minha praça. Não é só porque eu adoeci que eu vou abandonar”, conclui.

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Lugar hoje é depósito de entulho.
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