Comportamento

Há 39 anos como Cristo, Edilton já teve peça censurada por falar de Sodoma

No auge da carreira, ele foi de um extremo ao outro, do personagem sagrado, ao profano

Thaís Pimenta | 21/04/2018 08:11
Há 39 anos como Cristo, Edilton já teve peça censurada por falar de Sodoma

Edilton Ramos dá vida a Jesus Cristo nos palcos sul-mato-grossenses há 39 anos. Com uma história extensa, que começou na sala de aula quando tinha apenas 9 aninhos, não é de se surpreender que o ator, diretor e produtor já tenha interpretado papeis diversos. No auge da carreira, ele foi de um extremo ao outro, do personagem sagrado, ao profano, e até hoje é lembrado por isso. 

Quando estreou a principal peça de sua Companhia Teatral Transarte, a "A Paixão de Cristo", em 1991, Edilton lançou também a ousada história sobre como seriam os últimos momentos de Sodoma, antes da derrota para Gomorra. Nos palcos do Aracy Balabanian, o enredo baseado na Bíblia Sagrada, terminou com uma cena de bacanal, que na época não agradou em nada a Fundação de Cultura do Município.

De lá pra cá, muita coisa mudou, inclusive, sua opinião sobre a caretice dentro das artes cênicas e visuais, porém o espírito aventureiro, de querer partir para a contramão da maré, continua igual. "Essa peça foi censura aqui, mas lotou de gente em Dourados e Cuiabá, como contraponto. Geralmente, quem critica esse tipo de arte é quem não vai ver mesmo. Tanto é que quem presenciou a apresentação em Campo Grande não falou nada", completa ele.

Esse foi só um, das centenas de trabalhos, que Edilton já teve. Sempre no teatro, pendendo um pouco para a música clássica e orquestrada, o multifacetado artista já foi um pai empresário com dificuldades para criar o filho em meio a um cenário político, assim com também já foi um homem apaixonado por Helena num enredo baseado nas fotonovelas portuguesas e por aí vai. Porém foi interpretando Jesus Cristo que alçou grande vôos na profissão.

 

Encenação da peça "A vida de Jesus", no interior de Mato Grosso do Sul, há pelo menos 10 anos. (Foto: Acervo Pessoal)

Discreto e humilde, ele explica que escolher esse personagem foi intencional desde o início da criação de seu texto em 1979. "Sou negro, pardo, e geralmente vemos atores brancos, de olhos azuis, como Jesus. Como todo o processo de pesquisa para o texto foi baseado nas mais diversas versões da bíblias católicas e evangélicas, justifico que eu estou como Cristo pelo que está escrito no pŕóprio livro, em Isaías, quando fala-se que o quem estava por vir era um homem sem grande atrativos físicos, que não chamaria atenção".

Um verdadeiro ato revolucionário foi a primeira apresentação da peça que também recebe o nome de "A Vida de Jesus", no dia 7 de abril. "Escolhi por apresentar junto dos outros colegas atores uma peça sem falas, sem diálogos, para entender o que as pessoas interpretariam daquilo tudo e por incrível que pareça todos ali reconheceram as passagens".

Rodando Mato Grosso do Sul até hoje com as mesmas peças, como a "Conflito de Gerações" e "Lugar ao Sol", Edilton diz que da primeira apresentção de "A Vida de Jesus", continuam com ele no grupo Transart apenas dois atores. "Mas movimentamos 28 pessoas, atores, a cada espetáculo marcado".

Realizado na profissão que a vida escolheu pra ele, Edilton diz que a rotina de correr atrás de patrocínio não é fácil, com muito positivo, quando sobe ao palco, todos os problemas ficam de lado. "É um êxtase vivido ali, Eu só vou lembrar do meu papel de produtor das peças quando a cortinas são fechadas. É compensador ver as pessoas encantadas com o nosso trabalho".

Com um sorriso no rosto, Edilton diz ser realizado como ator. (foto: Fernando Antunes)
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